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junho 13, 2019
Carlos Zilio na Galeria Raquel Arnaud, São Paulo
Carlos Zilio realizou sua última exposição na Galeria Raquel Arnaud em 2016, quando exibiu trabalhos concebidos entre 1973 e 1977. Para a mostra que abre ao público no dia 15 de junho, Fragmentos, o artista apresenta um conjunto de telas produzido no período subsequente, entre 1978 e 1986, e que demarca, segundo Zilio, o momento no qual o artista opta pela pintura como o suporte principal de sua atividade artística.
Depois de suas primeiras exposições coletivas e individuais realizadas na primeira metade dos anos 70, quando sua produção é relacionada à arte conceitual, Zilio é convidado a participar da Bienal de Paris em 1976 e acaba por passar um período de quatro anos morando na capital francesa. Nesse momento passa a questionar a história da arte e sua relação com a pintura. Segundo o artista, foi um período em que a tradição era algo a ser recusado diante da tábula rasa que a arte de vanguarda demandava para a constituição do novo. “Minhas experiências vividas nesta fase, bem como o crescente olhar crítico sobre o sentido evolucionista e mecanicista desta concepção de vanguarda, me fizeram rever referenciais sobre arte, passando a privilegiar a pintura como uma prática capaz de estabelecer um vínculo entre a História e o presente, indo no sentido oposto da crença, tão divulgada naquele momento, da morte da pintura”. Esse processo de Carlos Zilio acontece nos anos 70, anterior, portanto, do retorno à pintura proposto pela Geração 80.
Ao privilegiar a pintura, o artista elege a reflexão sobre o ato de pintar como um dos seus principais temas. Partindo desse pressuposto, as nove obras selecionadas refletem seu enfrentamento com questões culturais e de linguagem pictórica. A cor, a densidade da tinta, o formato da tela são temas presentes e que o auxiliam na definição de sua produção. Segundo Zilio, a tela A querela do Brasil (1979) procura definir seus recursos básicos para a pintura: “a demarcação do plano, a colagem e a superfície cromática”, afirma.
Em Tico-Tico no Fubá (1979) Zilio explora a arqueologia da pintura: a linha, o ponto e a curva na definição do espaço. Já em Delírio de Thales (1981) aparece o prazer da pincelada ou, como diz o artista, “uma outra possibilidade da geometria, como se o plano e a reta fossem transgredidos por curvas cromáticas que anulam os limites da tela numa continuidade incessante”, completa. Vale ressaltar ainda A queda do tamanduá (1986), obra que alude ao icônico animal, recorrente em sua produção e presente no imaginário do artista carioca desde a sua infância. Segundo Zilio, tal obra vislumbra o longo período de abstração que se iniciaria pouco depois.
O que interessa ao artista é, sobretudo, a temporalidade que a pintura tem na história da arte, sua potencialidade transhistórica. "Está no passado e no presente, permitindo sucessivas retomadas sempre carregadas de uma alta carga de expressão, e isso que me fascina”, completa Zilio.
Carlos Zilio (Rio de Janeiro, 1944). Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Estudou pintura com Iberê Camargo no Instituto de Belas Artes e formou-se em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Participou de algumas das principais exposições brasileiras da década de 1960 – Opinião 66 e Nova Objetividade Brasileira, por exemplo, ambas no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro –, e de mostras com repercussão internacional: a 9ª, 20ª e a 29ª Bienais de São Paulo (1967, 1989, 2010), a 10ª Bienal de Paris (1977), a Bienal do Mercosul (2005) e Tropicália, apresentada em Chicago, Londres, Nova York e Rio de Janeiro.
Na década de 1970 morou na França. Desde o retorno ao Brasil, em 1980, participou de inúmeras mostras coletivas e fez diversas individuais, entre as quais Arte e Política 1966-1976, nos Museus de Arte Moderna do Rio de Janeiro, de São Paulo e da Bahia (1996 e 1997), Carlos Zilio, no Centro de Arte Hélio Oiticica (Rio de Janeiro, 2000), que abrangeu sua produção dos anos 1990, e Pinturas sobre papel, no Paço Imperial (Rio de Janeiro, 2005) e na Estação Pinacoteca (São Paulo, 2006).
As mais recentes exposições coletivas que tomou parte foram: Brazil Imagine no Astrup Fearnley Museet, Oslo 2013, MAC Lyon, 2014, Qatar Museum e DHC/Art, Montreal em 2014 e Possibilities of the Object-Experiments in Modern and Contemporary Brazilian Art, The Fruit Market Gallery, Edinburg. Suas últimas exposições individuais foram na Galeria Raquel Arnaud (São Paulo, 2014), no Museu de Arte Contemporânea do Paraná (Curitiba, 2010), no Centro Universitário Maria Antonia (São Paulo, 2010) e no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (2011). Zilio foi professor na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em 2008, a editora Cosac Naify publicou o livro Carlos Zilio, organizado por Paulo Venancio Filho, sobre sua produção. Possui trabalho em vários museus como MAC/USP, MAC/Paraná, MAC Niterói, MAM/SP, MAM/RJ, Pinacoteca SP e MoMA. A Galeria Raquel Arnaud representa o artista desde 1997.