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junho 9, 2019
João Loureiro na Sé, São Paulo
Sé apresenta a primeira exposição individual do artista João Loureiro no espaço da galeria. O artista também será apresentado na feira Liste, em Basel, a mais importante das feiras para galerias emergentes. A Sé Galeria será a única galeria brasileira a participar da edição de 2019.
A exposição Peixe-elétrico-moto-clube fica em cartaz na Sé Galeria de 11 de maio a 24 de agosto e conta com desenhos, animações e instalações, uma delas no estacionamento que ocupa o piso térreo do prédio onde se encontra a Sé galeria, exatamente abaixo da sala de exposição principal.
Os trabalhos dialogam com o contexto no qual a galeria está localizada, o centro histórico de São Paulo, na primeira rua da cidade, de tráfego intenso de pessoas e veículos.
João trabalha com uma ampla gama de interesses. De biologia, arquitetura e história ao próprio sistema de arte, os trabalhos muitas vezes tratam do banal, do cotidiano. Mas aqui um cotidiano desprovido de previsibilidades, em que objetos comuns tem sua função alterada, seu lugar social revirado agregando potencial crítico ao ordinário e ao usual.
São operações poéticas e conceituais complexas: o desenvolvimento de um duplo do universo apropriado, um tanto absurdo nos seus modos de representação e organização, capaz de atribuir novos significados a esses objetos.
Essa exposição tem como ingredientes elementos de um universo característico ao centro de São Paulo: os estacionamentos fervilhando de motocicletas, motores, escapamentos, motoboys, tudo em intensa vida e circulação. Sobretudo o estacionamento localizado abaixo da galeria Sé. À esses elementos, o artista soma referências filmográficas e literárias e ainda linguagens menos comuns ao circuito das artes como animações e quadrinhos.
O desenvolvimento das obras é parte de um processo amplo de desdobramentos e contaminações. Assim, uma moto, cujo farol é um projetor de filmes, estacionada entre outras motos no estacionamento do piso inferior, é transformada em uma espécie de moto-cinema que circulará pelo centro. Uma segunda moto no interior da galeria que, de ponta-cabeça, se transforma num projetor de cinema antigo, mostra uma animação de uma marmita girando.
Fazendo uso, ainda, de um elemento imagético utilizado pelos próprios motociclistas, João traz um conjunto de adesivos para dentro da galeria: tigres, bonecos Michelin, cartelas de brasões e marcas automotivas aplicadas de modo incomum. Ícones reconhecíveis em transgressão simbólica, subvertida a lógica trivial de seu entendimento: imagens altamente consumidas e reconhecíveis, aqui destituídas de seu sentido original, transformadas em objetos que não aceitam mais seu status imaterial.
O desenho em grande formato de uma batida frontal entre dois carros remonta ao universo dos quadrinhos e da literatura. Aqui, o romance Crash, de 1973 de J. G. Ballard, agrega erotismo e violência ao imaginário automobilístico. A vista superior do acidente, que torna a cena visível de qualquer lado, faz referência aos quadrinhos The Upside-Downs of Little Lady Lovekins an Old Man Muffarro, de Gustave Verbeek, publicados entre 1903 e 1905 no The New York Herald. Os quadrinhos semanais de seis painéis permitiam ser lidos dos dois lados: girando a página de ponta cabeça, os mesmos desenhos mostravam outra história.
Nos trabalhos apresentados, o artista se utiliza de meios expressivos algo secundários, como animações, quadrinhos e adesivos. João desestabiliza a banalidade do valor dos objetos cotidianos com suas operações imagéticas e também desestabiliza a própria noção de valor dentro do sistema da arte por meio da inclusão das linguagens periféricas à este. Trata-se de uma provocação sobre a própria superficialidade das imagens construídas para o consumo fácil.