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maio 23, 2019
Gilvan Samico na Estação, São Paulo
Em junho de 2012, a Galeria Estação realizou a última individual de Gilvan Samico (1928-2013) em São Paulo, com a presença do artista, que faleceria no ano seguinte. Em 2016, a sua obra marcou a 32ª edição da Bienal Internacional de São Paulo. Agora, nesta exposição com curadoria de Ivo Mesquita, a Galeria Estação presta uma nova homenagem ao grande mestre pernambucano, reunindo cerca de 34 obras que permeiam quase toda a sua produção: composições repletas de simbologia que têm na simetria e na verticalidade valores que organizam narrativas sobre a natureza, instâncias sagradas e a vida terrena. Integrante do Movimento Armorial, idealizado por Ariano Suassuna, Samico produzia em sua casa ateliê em Olinda, e foi um dos raros artistas que desenhava, gravava e imprimia manualmente seu trabalho.
A seleção de obras feita pela galerista Vilma Eid e por Ivo Mesquita está dividida em três grupos. No primeiro, Mesquita destaca gravuras que demonstram a influência dos professores de Samico (Lívio Abramo e Goeldi) em sua produção, como em Menina com corrupios, Leitura na praça (ambas de 1958) e Três mulheres e a Lua (1959). O curador ressalta que essas obras já exprimem o pensamento abstrato que articula as composições do artista.
O segundo conjunto reúne a produção dos anos 60, período em que Samico se encanta pelas tradições populares da literatura e da gravura de cordel, repletas de histórias e lendas que aquecem seu imaginário. “Esses trabalhos consolidam sua linguagem plástica, seu estilo direto e enxuto, e seu compromisso com a cultura vernacular, aliada à grande tradição da arte ocidental, representada pela abordagem de temas bíblicos e mitos clássicos da história”, afirma Mesquita. Segundo ele, ainda, é a produção desse período que faz dele um artista de projeção nacional.
No terceiro grupo, evidencia-se o momento em que o artista adota um tamanho padrão de matriz e passa a produzir uma única gravura por ano, que demandava inúmeros desenhos e estudos preparatórios, prática que ele exerce até o final (de 1977 até 2013). Os trabalhos desse período demonstram, segundo Mesquita, os fundamentos do seu compromisso com a arte e da sua prática da gravura desde então, adotando método e procedimentos que põem em movimento uma depuração do trabalho, com composições articuladas a partir da divisão geométrica do espaço, demarcação de campos simétricos, a estruturação hierática da imagem entre séries de figuras, animais, elementos de paisagens, frutas, vegetação, motivos decorativos. “A sua busca por ascetismo e exatidão como programa para aprofundar o processo de pensamento, trabalho, conhecimento, impõe limites à forma como que reduzindo ou restringindo a ação do artista”, completa.
Gilvan Samico (1928, Recife, PE) fundou em 1952 juntamente com outros artistas, o Ateliê Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife - SAMR, idealizado por Abelardo da Hora desde 1924. Em 1957 estuda xilogravura com Lívio Abramo na Escola de Artesanato do Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM/SP, e, no ano seguinte com Oswaldo Goeldi, na Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro. Em 1965, fixa residência em Olinda. Leciona xilogravura na Universidade Federal da Paraíba - UFPA. Em 1968, com o prêmio viagem ao exterior obtido no 17º Salão Nacional de Arte Moderna, permanece por dois anos na Europa. Em 1971, é convidado por Ariano Suassuna a integrar o Movimento Armorial, voltado à cultura popular nordestina e à literatura de cordel.