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maio 22, 2019
Niobe Xandó na Simões de Assis, São Paulo
Um panorama da produção de Niobe Xandó (1915, Campos Novos Paulista, SP – 2010, São Paulo, SP) pode ser conferido nesta exposição organizada pela sede paulistana da Simões de Assis Galeria, que reúne cerca de 50 obras concebidas de 1960 a 1992. São mais de 30 óleos sobre tela, além de 15 trabalhos sobre papel e cinco Totens que apontam a trajetória de uma das mais originais artistas brasileiras que preferiu dialogar com várias manifestações a se inserir em só um movimento. Com isso tornou-se detentora de uma narrativa particular marcante na história da arte brasileira.
Na exposição há obras da década de 60, período em que Niobe Xandó abandona o figurativo e se aproxima da abstração, quando começa a desenvolver o tema das Máscaras, que percorreu toda a sua obra. O mesmo acontece com os Totens em que a artista recobre volumes de madeira com as linhas e cores usadas nas Máscaras. Essas obras tiveram influência do período em viveu na Bahia e descobriu o Afro, fase em que também somou estudos sobre as artes pré-colombiana e indígena brasileira.
A Abstração na obra de Xandó é o que ela dizia ser o resultado de um choque do homem primitivo com o homem atual, conforme havia declarado para Maria Ignez Corrêa da Costa” (Jornal do Brasil, Rio de Janeiro/RJ, 06/08/1969), segundo a pesquisa de María Iñigo Clavo, em seu texto para esta exposição. Trata-se do embate entre o arcaico e o contemporâneo. “É o que ela chamou de mecanicismo, em um encontro crítico entre o progresso e a ciência com a espiritualidade”, diz a crítica. Segundo Clavo, os retratos mecanicistas de Xandó de subjetividades tecnológicas e arcaicas em desintegração, como em As seis máscaras (1972), Máscaras LXII/ O diálogo (1968) ou Máscaras XXV/ O jogo I (1968), são também futurismos interrompidos pela atemporalidade do jogo, da cor, das repetições seriais imperfeitas, das tecnologias defeituosas e dos gestos.
Neste mesmo período, de 1960 a 1970 Xandó teve sintonia também com o letrismo, movimento que pretendia criar uma nova escrita com base em símbolos. Clavo aponta em seu texto, que Vilém Flusser, teórico que esteve muito próximo da artista, escreveu sobre uma nova língua brasileira pela qual Xandó se interessou em seus grafismos, e que representou uma revolução linguística crucial para o filósofo na forma de pensar desse homo ludens. “Nas obras de Xandó como Máscaras XIII (1980), O Enigma da Nova Escrita I (1966), ou Máscaras (1967), os grafismos podem acompanhar as máscaras, ou inclusive fazer parte delas, mas também, e sobretudo, podem virar as próprias máscaras, tornando-as então, pura linguagem”, destaca a crítica, concluindo que esse pode ser um dos encontros secretos entre o contemporâneo e o arcaico que indicava Giorgio Agamben.