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maio 11, 2019
Estamos Aqui! Relevos no Horizonte do Acervo do MAC-PR, Curitiba
Uma coleção composta majoritariamente por artistas homens: 398 contra 229 mulheres. E a diferença torna-se ainda mais gritante quando se fala das 1.800 obras do acervo do Museu de Arte Contemporânea do Paraná (MAC-PR); neste caso a discrepância entre homens e mulheres chega a 786 trabalhos. Olhar para o acervo levando em conta essa realidade na busca por reequilibrar esses números é a intenção da mostra Estamos aqui! Relevos no Horizonte do Acervo do MAC, que inaugura no dia 15 de maio, às 19 horas, na sala 9 do espaço (temporariamente, por causa da reforma da sede, o MAC está funcionando nas dependências do Museu Oscar Niemeyer).
A exposição, com curadoria da diretora do MAC-PR, Ana Rocha, reúne o trabalho de 15 artistas mulheres (11 que integram o acervo e quatro convidadas): Ana Gonzalez, Cristina Agostinho, Deborah Santiago, Eliane Prolik, Elizabeth Titton, Erica Storer Araújo, Isabella Lanave, Fabiana de Barros, Guita Soifer, Janete Fernandes, Juliana Gisi, Mainês Olivetti, Marga Puntel, Marta Neves e Maya Weishof. A inauguração contará com uma performance de Erica Storer Araújo, que expõe a obra "Tudo ou Nada", de 2017, e é uma das convidadas pela curadoria.
De acordo com Ana Rocha, mostrar o acervo do museu junto com outras artistas contemporâneas faz parte de um conceito de remixagem, prática que tem origem na música, mas que é levada também para áreas como arquitetura (quando prédios são remodelados para outros fins), moda (com a customização de roupas) e na própria arte.
Todos os trabalhos expostos em "Estamos aqui!", segundo a curadora, referem-se ao corpo de diversas maneiras e o coloca como centro para falar de temas como identidade e consumo. É o que faz Juliana Gisi em seu vídeo "Dueto em três vozes para Mariposa", finalizado em 2019 — ela é a personagem principal da obra, que mostra o seu rosto de duas formas distintas. "Não seria um autorretrato, mas uma discussão que tem muito mais a ver com usar o seu próprio corpo como matéria, utilizar a imagem para uma proposição" explica a artista.
Doutora em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Juliana acredita que é de extrema importância ações que coloquem as mulheres artistas como protagonistas."Existe uma defasagem grande no número de obras dos acervos e em exposições no mundo todo. É uma realidade, é algo forte. A partir da década de 1960, essa tema entrou cada vez mais em discussão e hoje temos ações efetivas para colocar essa disparidade em vista. São ações afirmativas para mostrar que existem mulheres produzindo que são tão boas quanto os homens, e por uma questão estrutural não aparecem tanto. A exposição é uma forma de recontar essas histórias".
O reequilíbrio proposto pela mostra, frisa Ana, não quer negar a disparidade entre gêneros, mas sim superar o silêncio sobre contribuições importantes trazidas ao pensamento da arte pelas mulheres.
Faxinal das Artes
Outro aspecto valorizado pela curadoria na mostra são as obras produzidas durante o Faxinal das Artes, residência artística do começo dos anos 2000 proposta pela Secretaria de Estado da Cultura e que reuniu artistas de todo o país em Faxinal do Céu (sudoeste do Estado), para elaborar projetos e criar obras. Uma das participantes foi a catarinense Mainês Olivetti. Ela desenvolveu a obra "Titãs", uma instalação com globos de vidro e fios de náilon. "Eu já trabalhava com redes de náilon e de pescaria, tinha uma recordação de quando criança: meu pai fazia redes e isso ficou na minha memória", conta. Além de ser exposta na mostra "Faxinal das Artes", realizada pelo próprio MAC-PR no final de 2002, a obra havia sido montada pela última vez em 2003, no Sesc São Paulo. "Estou bem feliz com a escolha. É uma obra que nunca mais foi mostrada e vai interagir bem com outros trabalhos", aponta a artista.
Além do trabalho de Mainês, "Estamos aqui!" reúne outras obras de Faxinal, como "Conversão Diástole", vídeo de Marga Puntel, dois quadros de Débora Santiago e instalações em faixa de Marta Neves.