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maio 8, 2019
Arte Naïf - Nenhum museu a menos na EAV Parque Lage, Rio de Janeiro
Parque Lage abrirá exposição-manifesto com parte do acervo do Museu Internacional de Arte Naïf, em diálogo com obras de artistas contemporâneos
A Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV) abrirá a exposição-manifesto Arte Naïf – Nenhum museu a menos, com curadoria de Ulisses Carrilho e patrocínio cultural de FURNAS, no dia 11 de maio de 2019. A mostra, que receberá mais de 300 obras da coleção Lucien Finkenlstein e ocupará as cavalariças e o palacete, marca a posição da EAV em favor das instituições culturais brasileiras e sua liberdade de expressão.
Parte do acervo do Museu Internacional de Arte Naïf do Brasil (Mian), que inclui obras nunca antes expostas publicamente, será exibida em diálogo com o trabalho de mais de 40 artistas contemporâneos, entre eles Barbara Wagner & Benjamin de Burca, Barrão, Carmela Gross, Efraim Almeida, Erika Verzutti, Leda Catunda, Marcos Chaves, Nelson Leirner, Rosangela Rennó, Véio e Yuri Firmeza.
Para o Núcleo de Ação Educativa, que atuará com o público na exposição, a EAV firmou parceria com o projeto Afrografiteiras, da Rede NAMI. A programação educativa, que será composta por visitas, debates e oficinas, terá entre os principais eixos temáticos o racismo estrutural e os preconceitos presentes nas classificações da arte. Além da diversidade de poéticas e formas de criar dos artistas populares, historicamente marginalizados ou nomeados de ingênuos por críticos, instituições e historiadores.
A EAV defende instituições culturais e espaços expositivos como zonas de aprendizagem e trocas de conhecimento, bem como territórios de confrontamento e dúvida. A exposição "Arte Naïf – Nenhum museu a menos", que tem projeto gráfico concebido por Rafael Alonso, toma por empréstimo este lema em favor dos museus brasileiros, para afirmar uma causa.
É urgente a adoção de medidas de proteção aos equipamentos públicos e seus acervos históricos, principalmente quando sofrem de vulnerabilidade frente a outras manifestações artísticas. Em 2018, o Brasil foi afetado pela maior catástrofe museológica de sua história, de irreparáveis perdas para a humanidade. Falta de verba e manutenção mantém 261 museus fechados no Brasil. De acordo com o Instituto Brasileiro de Museus, o número representa 7% do universo de 3.789 instituições do país.
Fechado desde dezembro de 2016, o Mian funcionou por 21 anos no Cosme Velho, na zona sul carioca, com um acervo permanente de 6 mil pinturas, de artistas de 120 países. A maior coleção do gênero no mundo inclui preciosidades que nunca foram expostas, como seis telas do artista mineiro Ricardo Ozias, pintadas com os dedos e escovas de dentes, a pedido de Lucien Finkelstein, fundador da instituição.
“O resgate do Mian é fundamental. Trazer luz e mostrar a importância da arte naïf para a cena artística faz parte do nosso papel como uma escola que busca criar mecanismos internos e linhas de atuação externas, que permitam um diálogo produtivo com a cidade e com os circuitos nacional e internacional de arte”, comenta Fabio Szwarcwald, diretor-presidente da EAV Parque Lage.
As pinturas da arte naïf frequentemente narram o cotidiano e o extraordinário que se aloja nele. Ritos e festas populares, experiências de trabalho, convívio social e lazer, esportes e paisagens naturais, manifestações religiosas e espirituais são recortes frequentes. Chamados artistas naïf, os autodidatas (do fazer artístico sem escola ou orientação) foram
frequentemente ligados à arte popular e à arte bruta, esta que define a expressão dos inadaptados, dos loucos, médiuns e alienados em geral.
“Em 2019, faz sentido atualizar esta noção, aliando-se às pautas feministas e antirracistas, à luta antimanicomial e às narrativas decoloniais, que revisam as histórias ligadas à formação do país. Resta o compromisso com o arrojo daqueles artistas que formaram-se por uma prática livre. Tais medidas singularizam esta mostra a partir da EAV Parque Lage, criada em 1975 para ser uma escola de vanguarda, atenta às questões brasileiras e antropológicas, sensíveis às demandas da sua comunidade e de seu tempo”, afirma Ulisses Carrilho, curador da EAV Parque Lage.
A perspectiva ressaltada pela curadoria é pensar, a partir das noções de uma escola de arte livre, a produção de artistas que não recorreram a academias: quais artistas escolheram não formarem-se em escolas e quais aqueles que não tiveram condições para tal experiência? E, de maneira mais contemporânea, pensar esta realidade a partir de um recorte de classe.
Sobre o Núcleo de Ação Educativa, em parceria com as Afrografiteiras da Rede NAMI
O programa educativo será composto por mulheres pintoras que debruçam-se sobre uma pesquisa no campo da arte - pensando suas poéticas como exercício de denúncia e transformação social. Artistas com experiência e inserção na arte urbana, que foram convidadas a atuar na exposição como agentes e autoras de processos educativos orientados para promoção de trocas de saberes e para reinvenção, junto ao público, das ideias de arte e cultura vigentes na sociedade.