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maio 2, 2019
Ernesto Neto: Ativação da obra - Segredo das folhas e território ancestral na Pinacoteca, São Paulo
Ewê, Dau | Agô, Tekoha - Segredo das folhas e território ancestral
Ewê (folha em Yorubá) e Dau (folha em Huni Kuin) remete ao conhecimento proveniente das plantas e ao autocuidado. Agô significa licença ou permissão em Yorubá, palavra que se enuncia sempre que um adentra o território do sagrado, indicando abertura de caminhos. Já Tekoha, em Guarani, seriam os espaços demarcados pela alteridade, sejam de relações de tensão com outros povos ou em relação ao sobrenatural. Ao juntar esses termos, o artista propõe um pedido de licença ao território em disputa para viabilizar caminhos de cura entre os povos e entre humano e natureza a partir do conhecimento das plantas.
4 de maio de 2019, sábado, das 11h às 16h
Pinacoteca de São Paulo - Octógono
Praça da Luz 2, Centro, São Paulo, SP
APRESENTAÇÃO
A obra de Ernesto Neto envolve um constante imaginar outras possibilidades de estar no mundo, outros modos de convivência entre as pessoas e delas com o ambiente, a natureza, a espiritualidade. Neste sentido, suas instalações mais recentes têm sido concebidas para acolher celebrações coletivas em reverência à essas esferas a partir de saberes ancestrais.
A instalação inédita Cura Bra Cura Té, concebida por ele especialmente para o Octógono da Pinacoteca, faz referências às diversas culturas que moldaram o Brasil. Essa traz como elemento central uma peça de madeira de três metros de altura, semelhante à um tronco, instrumento oficial de tortura, que simboliza um sistema escravocrata contemporâneo encoberto que, segundo o artista, ainda rege a estrutura econômica nacional e internacional.
Uma de suas extremidades tem como “raiz” um tapete com o mapa territorial do Brasil, rodeado de cores que aludem à mestiçagem nacional. O tronco, oco, foi preenchido por mercadorias que tem sido protagonistas da economia brasileira ao longo da história (açúcar, café, ouro, soja). Suspensa sobre a outra extremidade do tronco, há uma “copa” de crochê em formato de gota carregada de folhas curativas provenientes de culturas indígenas e afro-brasileiras.
Ao longo do período expositivo, o artista propõe uma ativação da obra por meio de quatro ciclos que incluem um “banho”, momento no qual o tronco é envolvido pela gota simulando uma cópula – a fusão entre feminino e masculino – assegurando aos participantes uma restauração energética. Após o ato, o tronco é cortado. Até o fim da exposição, este será eliminado totalmente.
Este corte carrega uma intenção de cura individual, coletiva e histórica, ao fazer referência aos processos de violência e espoliação vividos no país por séculos. Essa cura se vale primordialmente do reconhecimento e do respeito à sabedoria dos povos tradicionais africanos e indígenas.
Todos estão convidados a participar.
PROGRAMAÇÃO
11h00 – Meditação com Inae Moreira
12h00 – Banho - movimento da obra
12h30 – Fala com Pagu
13h00 – Almoço com EBÉ
14h00 – Fala com Walter Gomes
14h00 – Cura com Negalê Jones – ‘Sonata Quilombola’ e ‘Baoba Centenario’
15h00 – Cura com Isaka Huni Kuin – Saberes ancestrais e óleos essenciais
16h00 – Finalização
CARDÁPIO DO ALMOÇO
Prato principal
Cuscuz nordestino com tomate e coentro + vegetais na brasa: avaxi (milho), jety (batata doce branca e roxa), andai’i (abobrinha), cenoura, cebola, berinjela + komanda (feijão avinagrado)
Bebida
Chá mate com amburana de cheiro
Sobremesa
Mingau de milho com leite de coco e coco fresco.
Rapadura
PARTICIPANTES
EBÉ - Escola Brasileira de EcoGastronomia
Escola formada por Daniela Lisboa, especialista em Economia Solidária e Escolas de Alimentação Viva; Cassia Cazita, que tem em experiência em movimentos de ocupação cultural e de rua e Fabiana Sanches, ligada à Articulação Agroecológica e militante do movimento Slow Food. O encontro resultou em projetos como o Convívio Slow Food ComoComo, a primeira grande Campanha de Combate ao Desperdício de Alimentos e o Festival Disco Xêpa 2014. A Ebé desenvolveu um cardápio especial — em parceria com agricultores locais, nutricionistas e chefs indígenas e de origem africana — para o almoço disponível aos participantes da ação.
R$ 20 por pessoa.
Inae Moreira
Negra, artista e baiana é formada pela Escola de Dança da Funceb. Pesquisadora de diversas técnicas corporais: dança, acrobacias, capoeira angolana, contato-improvisação, teatro físico e performance. A partir dessas experiências, a pesquisadora dialoga com universos populares e contemporâneos e, atualmente, pesquisa o corpo feminino afrodescendente.
Isaka Huni Kuin
Desde 2015 vem pesquisando o processo de destilação de plantas medicinais a partir do conhecimento do povo Huni Kuin que identificou, aproximadamente, 400 espécies diferentes de ervas com propriedades curativas. Valorizando esse conhecimento milenar, Isaka estudou com seu pai Íka Muru (idealizador do livro de cura Una Isi Kayawa, que trata dos conhecimentos na área da saúde do povo Kaxinawá). Também estudou Naturologia na Espanha e Áustria.
Negale Jones
Músico, educador, artista audiovisual e pesquisador de arte, tecnologia, ancestralidade, de ritmos naturais e das relações entre a bioeletricidade humana e a etnobotânica.
Pagu
Patricia Rodrigues ou Pagu é socióloga formada pela USP, militante das Demarcações de Terras Indígenas e Direitos Indígenas. Em 2018, atuou como educadora na Escola Infantil Pedacinho do Céu – Aldeia Indígena Fulni-ô / PE. Foi proponente de Projeto de Lei, para a cidade de São Paulo, que prevê cotas étnico-raciais; foi coordenadora do Movimento Indígena Guarani M’baraete no Estado de São Paulo na luta por demarcação de terras; integrante do Grupo de Trabalho Inter secretarial coordenado pela Funai – Fundação Nacional do Índio junto à Secretaria de Políticas para as Mulheres da Prefeitura de São Paulo; membro do Comitê Povos Indígenas – SMDHC; articuladora do Encontro entre Guaranis M’bya de São Paulo e Guaranis-Kaiowá do Mato Grosso do Sul, na região de Nhanderu Marangatu, MS; articuladora do ato dos Guaranis M’bya da Tekoa de Paranapuã em São Vicente; organizadora do Festival M’baraete – Resistência dos Povos Indígenas, que aconteceu em 2015. Atualmente é membro da Comissão de Assuntos Indígenas da OAB - Ordem dos Advogados do Brasil, jurisdição de SP.
Walter Gomes
Nascido em Goiás, atualmente vive em São Paulo. Walter Gomes trabalhou junto à liderança da UNI (União das Nações Indígenas) e com Ailton Krenak na Campanha da Constituinte (Reforma Promulgada em 1988). Em 1994, abriu a Amoa Konoya Arte Indígena, localizada em Pinheiros, e trabalha com objetos e cosmologias de diversos povos indígenas do Brasil.
Jonas Samaúma
Poeta e contador de histórias e criador da Kombiblioteca, projeto que nutre a memória dos saraus da cidade de São Paulo. Lançou seu primeiro livro aos 13 anos de idade, frequenta a Casa do Sarau do Binho, apresentou diversos poemas no Canal Curta e possui cinco livros publicados. Foi finalista do Prêmio Jabuti, em 2015. Atualmente realizou Contador de Histórias, no SESC Pinheiros.
Próximos ciclos: 01.06, 29.06 e 13.07
Programação de cada ciclo será divulgada na semana anterior.
Ernesto Neto - Sopro, Pinacoteca de São Paulo - 31/03/2019 a 15/07/2019