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abril 21, 2019

Entre artes e ofícios, centros e arrabaldes na André, São Paulo

A Galeria de Arte André comemora 60 anos em 2019 e realiza uma série de eventos celebrando a data. No dia 23 de abril, acontece o primeiro deles, a abertura da exposição coletiva Entre artes e ofícios, centros e arrabaldes, com curadoria de Mario Gioia. Com cerca de 50 obras, a mostra se divide entre artistas do chamado Grupo Santa Helena - com Aldo Bonadei, Alfredo Rizzotti, Clóvis Graciano, Francisco Rebolo e Fulvio Pennacchi - e os Nipo-brasileiros, com Tikashi Fukushima, Tomie Ohtake, Jorge Mori, Kazuo Wakabayashi, entre outros.

Entre os destaques - e raridades - da exposição, está Casario, de Alfredo Rizzotti, considerado pelo curador uma síntese do Grupo Santa Helena, uma obra mais intimista que mostra o subúrbio da época. “Além da raridade em ser exposta, sintetiza de certa forma algumas linhas-mestras de excelência da produção do grupo”, afirma Mario Gioia. O artista integrou o Grupo Santa Helena a partir de 1937, do qual já faziam parte Francisco Rebolo, Mario Zanini, Fulvio Pennacchi, Alfredo Volpi, entre outros.

Todos do grupo tinham origem proletária e praticavam pintura, desenho e modelo vivo nas horas livres. Eles se reuniam nos ateliês de Rebolo e Zanini, situados no Palacete Santa Helena, um edifício na Praça da Sé – demolido posteriormente para a construção da estação Sé do Metrô. Foram chamados por Mario de Andrade de “Artistas Proletários”, alcunha que os caracterizou dentro do movimento modernista.

Outras raridades são duas obras de Francisco Rebolo, fundador do grupo, intituladas “Arvoredo” e “Casa Azul”, todas de sua fase final, feitas nos anos 1970. Do ítalo-brasileiro Fulvio Pennacchi, está “Colheita”, obra de grandes dimensões, que mostra características marcantes do pintor, como o equilíbrio entre o clássico e a modernidade, e a suavidade e delicadeza nas composições, além da simplicidade do tema. O artista tinha muita proximidade com a Galeria de Arte André, tendo inaugurado sua filial na Rua Estados Unidos, em exposição realizada em novembro de 1982.

Nipo-brasileiros

Parte fundamental da exposição é constituída pelos artistas nipo-brasileiros, cuja representatividade no acervo e na história da galeria é seminal. A galeria fomentou e ainda é espaço importante para encontrar peças de pioneiros como Yoshiya Takaoka, passando pelos abstratos de ressonância internacional, como Manabu Mabe, Tikashi Fukushima e Tomie Ohtake, até nomes que cultivaram trajetória no Brasil mais recentemente, como Yutaka Toyota, Kazuo Wakabayashi, Michinori Inagaki e Kenji Fukuda, ou que cultivaram produções pouco afeita a modismos, como Jorge Mori.

Alguns desses artistas realizaram exposições individuais na Galeria de Arte André, como Mabe (1977, 1983 e 1995), considerado pioneiro do abstracionismo no Brasil; Fukushima (1985, 1988), também considerado um dos maiores abstracionistas do país, e Mori (1977 e 1985).

Entre as raridades estão duas gravuras de Tomie Ohtake, ambas “Sem título”, produzidas em 2008, além de uma escultura. Morta em 2015, aos 101 anos, a artista plástica japonesa naturalizada brasileira foi uma das mais profícuas de sua geração, sendo uma das principais representantes do abstracionismo informal.

Como características comuns do Grupo Santa Helena e o dos pintores nipo-brasileiros destacados na exposição estão a origem imigrante, o trabalho árduo e distante dos salões da sociedade paulistana mais estabelecida, a formação técnica, sobretudo no Liceu de Artes e Ofícios, a vivência no Centro da cidade e passeios em grupo para pintura ao ar livre, como destaca o curador Mario Gioia.

Mario Gioia (São Paulo, 1974), curador independente, é graduado pela ECA-USP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo). Integrou o grupo de críticos do Paço das Artes desde 2011, instituição na qual fez o acompanhamento crítico de Luz Vermelha (2015), de Fabio Flaks, Black Market (2012), de Paulo Almeida, e A Riscar (2011), de Daniela Seixas. Foi crítico convidado de 2013 a 2015 do Programa de Exposições do CCSP (Centro Cultural São Paulo) e fez, na mesma instituição, parte do grupo de críticos do Programa de Fotografia 2012. Em 2016, a mostra Topofilias, com sua curadoria, no Margs (Museu de Arte do Rio Grande do Sul), em Porto Alegre, foi contemplada com o 10º Prêmio Açorianos, categoria desenho. É colaborador de periódicos de artes como Select e foi repórter de artes visuais e arquitetura da Folha de S.Paulo de 2005 a 2009. De 2011 a 2016, coordenou o projeto Zip'Up, na Zipper Galeria, destinado à exibição de novos artistas. Na ArtLima 2017 (Peru), assinou a curadoria da seção especial CAP Brasil, intitulada Sul-Sur, e fez o texto de Territórios Forjados (Sketch Galería, 2016), em Bogotá (Colômbia). Em 2018, assinou a seção dedicada ao Brasil na Pinta (Miami, EUA) e a curadoria de Esquinas que me atravessam, de Rodrigo Sassi (CCBB-SP).

60 anos da Galeria de Arte André

Para celebrar seu aniversário de 60 anos, a galeria realiza quatro exposições ao longo de 2019. Dentre elas, duas são coletivas – a primeira e a última do ano - com curadoria assinada pelo crítico de arte Mario Gioia, reconhecido no Brasil e exterior.

A primeira delas é a mostra coletiva Entre Artes e Ofícios, Centros e Arrabaldes, com abertura em 23 de abril, que reúne trabalhos de diversas gerações de artistas do Grupo Santa Helena e de nipo-brasileiros.

Em junho, acontece a exposição individual de Sônia Menna Barreto, artista apresentada ao mercado pela Galeria de Arte André. A terceira mostra, por sua vez, é realizada em setembro e traz obras do artista Cássio Lázaro. Finalmente, em novembro, o encerramento das comemorações se dá por meio de uma mostra coletiva histórica e pelo lançamento do livro que conta a história da galeria.

Posted by Patricia Canetti at 12:21 PM