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abril 16, 2019

Visões de Iberê Camargo sobre o Parque da Redenção na FIC, Porto Alegre

A exposição Visões da Redenção apresenta um recorte de 77 obras de Iberê Camargo (66 desenhos, três gravuras e oito pinturas) de árvores e frequentadores do parque, que se desdobraram nas famosas séries Fantasmagoria, Ciclistas e Ecológica (Agrotóxicos). A mostra pode ser visitada até o dia 21 de abril, no segundo andar. Entrada franca.

Para celebrar os 247 anos de Porto Alegre, a Fundação Iberê inaugura no dia 16 de março a exposição Visões da Redenção. A mostra traz um recorte de 77 obras de Iberê Camargo (66 desenhos, três gravuras e oito pinturas), produzidas no início dos anos 1980 - quando o artista retornou à Capital gaúcha, após um período de 40 anos vivendo no Rio de Janeiro. A abertura de Visões da Redenção ocorre às 14 horas e pode ser visitada até o dia 21 de abril, no segundo andar. A entrada é franca.

Frequentador assíduo do Parque da Redenção, Iberê gostava de observar o ir e vir das pessoas: anônimos, músicos, palhaços, ciclistas, moradores de rua e performers. De simples registros desses passeios, logo as anotações do artista ganharam um significado maior. Os “personagens” da Redenção foram convidados para aturem como modelos vivos em seu ateliê, e, muitos deles, desdobraram-se nas famosas séries Fantasmagoria, Ciclistas e Ecológica (Agrotóxicos).

Teatro de rua - Em 1985, Iberê Camargo assistiu a performance A dúzia suja, do grupo Ói Nóis Aqui Traveiz, se encantou com a apresentação e, durante um final de semana, transformou a Terreira da Tribo - como é chamado o espaço do grupo - em ateliê. Lá desenhou os atores vestidos com o figurino do espetáculo para Ecológica. A única exposição individual com o conjunto completo da série (mais de 20 guaches) foi realizada em 1986, na Galeria Tina Zappoli, em Porto Alegre. Parte dela foi exposta em outras capitais do Brasil e Uruguai e, hoje, encontra-se em coleções particulares.

Para trabalho, o artista expressou as formas da natureza e da condição humana, atingidas pela vida, por meio de árvores fantasmagóricas e de figuras que habitavam a cena, sem rumo. O parque mais tradicional da cidade – e palco para as mais diversas manifestações sociais, culturais e políticas – revelou-se como um portal, um deslocamento da realidade para outra ordem no tempo. Delírio e devaneio – um novo estar no mundo. "Não há um ideal de beleza, mas o ideal de uma verdade pungente e sofrida, que é minha vida, e tua vida, é nossa vida nesse caminhar no mundo. Pinto porque a vida dói." [Iberê Camargo]

"Acompanhei inúmeras jornadas de Iberê pela procura dessas imagens que nos ferem com delicadeza, cheias de visualidade e significados. Esses rascunhos, por si só, são maravilhosos, mas serviam para recriações na volta ao estúdio. Surgiam daí guaches sobre papel, elementos novos nas pinturas e potentes gravuras em metal. Foi num dia desses, quando o artista ainda morava na rua Lopo Gonçalves, que saímos a pé para mais um percurso no Parque da Redenção. Chegamos na fonte entre árvores, naquele momento riscada pela luz do sol: um cenário de filme. À volta dela vários mendigos conversavam e lavavam as suas roupas. O artista pareceu iluminado. Apenas com os olhos e a mão em movimento, executou desenhos lindos e fluidos como música. Depois num gesto de gratidão pagou os modelos: entregou uma nota de dinheiro a cada um deles e fomos embora. Nesse dia uma figura me provocou a atenção: o homem flagrado de frente, curvado sobre o espelho d’água da fonte, com o olhar fixo no artista e suas costas acima da própria cabeça, passava uma sensação simultânea de dignidade e sofrimento, como se estava pronto para carregar o peso do mundo", conta o artista plástico Gelson Radaelli.

Posted by Patricia Canetti at 10:38 AM