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abril 9, 2019
Marcelo Cipis na Anita Schwartz, Rio de Janeiro
Artista paulistano mostra mais de 40 obras em sua primeira individual no Rio, percorrendo 25 anos de sua trajetória, entre trabalhos inéditos e outros históricos
Anita Schwartz Galeria de Arte inaugura no próximo dia 13 de abril, às 14h, a exposição DeaRio, que irá ocupar todo o espaço expositivo do térreo e do segundo andar com mais de 40 obras do artista paulistano Marcelo Cipis (1959), entre pinturas, desenhos, objetos, instalações, inéditos ou emblemáticos nos últimos 25 anos de sua trajetória. Esta é a primeira individual no Rio de Janeiro do artista, que integrou a 21ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1991, duas edições da Bienal de La Habana (1991 e 1994), e em 2017 expôs na galeria Spike Berlin, com curadoria de Tenzing Barshee, na capital alemã.
No texto crítico que acompanha a exposição, Adolfo Montejo Navas destaca ser “tão problemático quanto inquietante o lugar obrigatório e crítico da pintura na globalização visual”. “Sobretudo para obras que falam com uma sintaxe estética paradoxal (composições, figurações, cromáticas), que parecem procurar uma inocência, uma recuperação de certo elã vital das coisas, mas que fazem respirar uma suspeita instalada mais embaixo, a de que esta imagética é distópica e utópica ao mesmo tempo!”, enfatiza. “Não em vão, ‘A utopia é aqui’ (pintura feita por Marcelo Cipis em 2019, especialmente para a exposição), por exemplo, repotencializa pinoquiamente um nariz ampliado, que pode ter alguma alegoria política próxima”, observa.
Marcelo Cipis diz ser “utópico, otimista, embora com momentos de pessimismo”. “Acredito que não é possível permanecermos nessa barbárie do mundo atual ad eternum. A arte tem uma vocação de apresentar essas questões, e eu me aproveito disso, de uma maneira leve, não agressiva, digamos, zen”, comenta. “Os ideais das vanguardas do século 20 estão presentes em um clima de utopia e otimismo constantes. O foco na cor, na beleza, se é que posso falar de beleza... Penso ser necessário algum deleite, percorrer superfícies que têm um registro cromático e gráfico, que podem suscitar um prazer visual, espiritual. Pretendo provocar isso. Um convite a uma parada, uma reflexão. É um mecanismo, uma estratégia para a criação de um mundo melhor”, afirma.
CIPIS TRANSWORLD
A emblemática instalação “Cipis Transworld”, mostrada na 21ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1991, será lembrada na exposição em duas microinstalações, uma no térreo e outra no segundo andar. Os dois conjuntos contêm “produtos corporativos da ficcional firma industrial Cipis Transworld”, conta Montejo Navas. O nome Cipis está gravado em duas barras de sabão, e impresso em silk screen em três camisas nas cores vermelha, amarela e azul, e em um cortinado no mesmo tecido. No térreo, quatro cortinas – amarela, vermelha e duas azuis – formam um trapézio, com um espaço dentro.
Formando uma grande diagonal, em um dos cantos do salão térreo, estará uma pintura de 3m x 6m, feita em 2017 a pedido do curador Paulo Miyada, para uma exposição do artista no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. O painel é a recriação do cenário original do “filme publicitário” da “Cipis Transworld”, que integrou a instalação na Bienal de 1991, e poderá ser visto em um monitor na mostra na Anita Schwartz Galeria.
Adolfo Montejo Navas chama a atenção também para as pinturas “Mulher Legér” (2016) e “Jeff Koons suprematista” (2010), “cuja formulação irônica, humorística rebaixa qualquer pompa estética a mais, seja institucional, mercadológica ou simplesmente coisificadora”.
Ele aponta ainda que a obra de Marcelo Cipis “transita despretensiosa, aliada a sua sofisticação”. “Os seus signos, escritura-desenho-pintura-objetos, prometem uma transversalidade além dos gêneros paralelos com os que convive (ilustração, comic, propaganda, publicidade, design...). Na verdade, sua poética funciona como uma convocatória poética, de nuances e sutilezas, formas de enxergar através do muro da realidade quando ele é mais opaco. E, por isso, a conquistada sensação de leveza, a sua respiração quase transparente”, observa. “A superfície de suas telas é muito explícita, não joga com perspectiva, tridimensionalidade dentro dela, e sim fora, com quadros-fractais que se constelam de forma fragmentária, ou obras que escamoteiam o todo como solução, sempre ingênua. E nesse jogo das formas e dos imaginários combinados, de escritura pictórica tão enfaticamente visual em sua cultura, nós, seus contemporâneos, saímos ganhando”.
No Rio, Marcelo Cipis participou das edições de 1999 e 2000 do projeto “A imagem do som”, no Paço Imperial, dedicado a Chico Buarque e Gilberto Gil, respectivamente, e de coletivas no Palácio Gustavo – Projeto Macunaíma, em 1999, e Macunaíma Reflexões, em 2000 – e ainda do 8º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM, em 1985, entre outras mostras.
SOBRE MARCELO CIPIS
Nasceu em 1959, em São Paulo, onde vive e trabalha. Graduado em 1982 pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Em 1980, participa do 3º Salão Nacional de Artes Plásticas, no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Em 1984, participou da 11ª Bienal de Artes Gráficas de Brno, Tchecoslováquia. Presente em várias edições do Salão Paulista de Arte Contemporânea, em 1984, 1985, 1986 e 1987. Em 1985, participa do 8º Salão Nacional de Artes Plásticas, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Em 1989, integra a 20ª Bienal Internacional de São Paulo na sala especial “Arte em Jornal”. Em 1991, participa da 21ª Bienal Internacional de São Paulo. Em 1994, da 5ª Bienal de La Habana, em Havana. Em 1999, participa do Projeto Macunaíma, Galeria Sérgio Milliet/ Palácio Gustavo Capanema, Rio de Janeiro, e da coletiva “A imagem do som de Chico Buarque”, no Paço Imperial, Rio de Janeiro. Publica o livro “530g de Ilustrações” (Ateliê Editorial). Em 2000, participa da coletiva “Macunaíma Reflexões”, no Centro de Artes da Funarte, no Palácio Gustavo Capanema, Rio de Janeiro, e da exposição “A imagem do som de Gilberto Gil”, no Paço Imperial, Rio de Janeiro. Neste mesmo ano, ganha bolsa para artistas da Pollock-Krasner Foundation, Nova York, Estados Unidos. Em 2010 publicou “Some Contemporary Art Themes”, uma “revista de artista”, com tiragem de dois mil exemplares em offset, em que aproxima a linguagem da ilustração com a das artes visuais. Em 2013 fez a individual “Pinturas em geral”, no Centro Cultural São Paulo. Em 2013, é o artista convidado do Programa de Exposições do Centro Cultural São Paulo, e ganha o Prêmio FUNARTE de Arte Contemporânea 2013, e faz a exposição individual “Rostos à procura de um rosto”, na Sala Flávio de Carvalho, Funarte, São Paulo. Em 2014 integra “Arbeit und freundshaft”, no Espaço Pivô, São Paulo. Em 2017, faz a individual “A maravilhosa Cipis Transworld”, curada por Tenzing Barshee, no espaço Spike Berlin, em Berlim. Participa da 21ª Bienal Internacional de São Paulo, com a instalação Cipis Transworld, das 4ª e 5ª edições da Bienal de Havana, Cuba. Recebe, em 1994, o Prêmio Jabuti pela capa do livro Como Água para Chocolate, de Laura Esquivel, publicado pela Editora Martins Fontes. Em 2000 ganha bolsa da Pollock-Krasner Foundation em São Paulo. Em 2013, é o artista convidado do Programa de Exposições do Centro Cultural São Paulo, e ganha o Prêmio Funarte de Arte Contemporânea 2013, em que faz a exposição individual “Rostos à procura de um rosto”, na Sala Flávio de Carvalho, Funarte, São Paulo. Em 2014 integra “Arbeit und freundshaft”, no Espaço Pivô, São Paulo. Em 2017, faz a individual “A maravilhosa Cipis Transworld”, curada por Tenzing Barshee, no espaço Spike Berlin, em Berlim. Participa, com Pedro Wirz e Tiago Tebet, da exposição “Fábula, frisson, melancolia”, curada por Paulo Miyada, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo.
Ganhou os prêmios Bolsa da Pollock-Krasner Foundation, Nova York, EUA (2000), Prêmio VASP, 4º Salão Paulista de Arte Contemporânea, São Paulo (1986) e Prêmio aquisição, 2º Salão Paulista de Arte Contemporânea, São Paulo (1984).
Suas ilustrações para jornais, revistas e livros infantis lhe valeram, em 1994, o Prêmio Jabuti pela capa do livro “Como Água para Chocolate” (Martins Fontes), de Laura Esquivel. É autor de vários livros infantis.