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março 25, 2019
Consciência Cibernética [?] Horizonte Quântico no Itaú Cultural, São Paulo
Exposição apresenta obras que se aproximam da consciência cibernética
Em Consciência Cibernética [?] Horizonte Quântico, nove trabalhos de oito artistas da Áustria, Brasil, Estados Unidos, França, Reino Unido, Suíça e Turquia indicam, com olhar artístico, um futuro em que máquinas cibernéticas terão consciência e estabelecerão diálogo com os seres humanos e entre si. Em paralelo, o instituto promove um seminário para debater a arte sob o ponto de vista da inteligência artificial, da computação quântica e da poética.
Das 20h da quarta-feira 27 de março a 19 de maio, o público do Itaú Cultural pode vivenciar um tempo futuro, em que a inteligência humana se mescla à artificial e à computação quântica, em convivência natural. É o que indica a mostra Consciência Cibernética [?] Horizonte Quântico, composta de nove obras assinadas por oito artistas internacionais e do Brasil: o austríaco Thomas Feurstein, a brasileira Rejane Cantoni, o britânico Robin Baumgarten, a francesa Justine Emard, os norte-americanos David Bowen e Lynn Hershman Leeson, os suíços André e Michel Décosterd, que formam a dupla Cod.Act, e o turco Memo Akten. Veja mais
Com conceito elaborado pelo gerente do Núcleo de Inovação do Itaú Cultural, Marcos Cuzziol, pesquisa de Rejane Cantoni e projeto expográfico de Maria Stella Tedesco, em co-autoria com Renata Fernandes – ambas da ST Arquitetura –, a mostra ocupa os três andares do espaço expositivo do instituto em uma demonstração artística digna de ficção científica.
Passeando por estes pisos, o público tanto pode interagir com uma agente da web, artificialmente inteligente, quanto observar uma espécie de cobra píton gigante fechada em si mesma, que se contorce e emite sons. Ele tem a possibilidade, ainda, de mergulhar no mundo interior de uma rede neural artificial, que capta o mundo dos humanos, ou apreciar o concerto de um piano sem pianista, que executa uma partitura a partir da passagem das nuvens naquele exato momento. O visitante também encontra um vídeo performance em que uma robô-mulher aprende a dançar com um homem humano, uma instalação cibernética que simula comportamentos, além de duas criaturas, na forma de lâmpadas cirúrgicas, que observam e debatem este mundo, muitas vezes horrorizadas, e um jogo que apresenta simulações quânticas animadas.
“A inteligência artificial e a computação quântica são duas linhas de tecnologias que se desenvolvem rapidamente”, observa Cuzziol. “Elas vão além da mera ampliação de capacidades humanas, pois uma nos leva a questionar o que é de fato a inteligência, a consciência, e a outra questiona nossa própria realidade”, continua. “Parece inevitável que essas duas tecnologias se encontrem em um futuro próximo, o que torna urgente uma reflexão sobre elas”, completa.
Para dar corpo a esta reflexão, nos dias 28 e 29 (quinta-feira e sexta-feira), o instituto promove na Sala Itaú Cultural o Seminário Consciência Cibernética [?] Horizonte Quântico 2019. Em quatro mesas – duas por dia –, ele reúne especialistas, pesquisadores e artistas brasileiros e internacionais ligados à arte sob o ponto de vista da inteligência artificial, da computação quântica e da poética. Veja mais
A mostra e o seminário se inserem na linha propositiva das bienais Emoção Art.Ficial e das exposições de arte e tecnologia apresentadas pelo Itaú Cultural desde 1997. Em 2017, o instituto apresentou Consciência Cibernética [?], que teve como mote o debate a respeito da evolução das máquinas e de seus avanços em relação ao cérebro humano.
Um passo adiante da última exposição, Consciência Cibernética [?] Horizonte Quântico propõe um olhar artístico para esse dilema, trazendo obras que, em diferentes aspectos, exploram características não muito conhecidas do processamento de dados, digital ou não. São sistemas que aprendem, se auto-estabilizam, desenvolvem soluções não imaginadas por seus criadores, conversam em linguagem natural e fazem escolhas estéticas. Nenhuma das obras apresentadas no instituto têm consciência, mas cada uma delas demonstra características importantes que, em um futuro próximo, podem fazer parte de máquinas cibernéticas conscientes.
A MOSTRA
Cinco obras dividem o piso 1. Agent Ruby, da norte-americana Lynn Hershman Leeson, é dotada de inteligência artificial, tem rosto de mulher, expressões variadas e faz parte, simultaneamente, dos mundos real e virtual em interação com o público. Outra delas é Deep Meditations: A brief history of almost everything in 60 minutes, do turco Memo Akten. Esta obra é um convite para uma meditação e reflexão sobre a vida e a experiência humana subjetiva. Ela abre caminho para o observador explorar o mundo interior de uma rede neural artificial treinada, que capta o mundo real em suas nuances artísticas, a vida, o amor, os rituais de fé.
A obra Learning to see: Gloomy Sunday também é de Akten. Este trabalho explora uma possível interação homem-máquina em colaboração criativa. Trata-se de uma rede neural artificial que olha o mundo real por meio das câmeras e procura dar sentido ao que vê, inspirada pelo córtex visual humano. Ao observar um emaranhado de fios, por exemplo, ela é capaz de transformar o que vê em cenas bucólicas da natureza, reproduzindo cenas oníricas e poéticas.
Ainda neste andar encontra-se a obra Borgy & Bes, do austríaco Thomas Feuerstein. Nela, duas lâmpadas cirúrgicas transformadas em criaturas cibernéticas robóticas se movem, falam, sussurram, discutem entre si. Borgy (de Cyborg) e Bes (de Os Demônios, de F. M. Dostoiévski) discutem dados on-line de redes sociais e feeds de notícias e os executam na linguagem do escritor russo. Elas não interagem com as pessoas, porém questionam e interpretam informações e notícias para ter uma ideia do que é este mundo. A obra, foi produzida pelo laboratório Art&Science de Moscou, Rússia, e tem como parceiro o Kaspersky Lab.
Em Cloud Piano, uma instalação do também norte-americano David Bowen, a música literalmente dá o tom. Há um piano de cauda, mas não há pianista. Em seu lugar, há uma câmera apontada para o céu, que captura em vídeo a imagem das nuvens, e um software personalizado, que usa estas imagens registradas em tempo real, articulado com um dispositivo robótico que pressiona as teclas no piano. É como se as nuvens tocassem essas teclas à medida que se deslocam no céu e mudam de forma para emitir o som.
Descendo para o piso -1, estão a πTon/2 (Pyton), da dupla de suíços Cod.Act (André e Michel Décosterd), Co(AI)xistence, da francesa Justine Emard, e Quantum Garden, do britânico Robin Baumgarten. A primeira, que tem apoio de Faulhaber Drive Systems, é uma instalação sonora de 20min, com intervalos para manutenção. Ela é composta de um anel flexível fechado em si mesmo e acionado por motores de torção localizados dentro de seu corpo. Torcendo-se e virando para si mesmo, πTon se movimenta de maneira natural e imprevisível emitindo um som cuja origem é de clarinete baixo. Como uma cobra, ela se move devagar, suas contrações e dilatações produzem sons sensuais. Quando os movimentos se tornam rápidos, nervosos e brutais, emite um som ácido e agudo.
No vídeo performance Co(AI)xistence, a robô Alter é governada por redes neurais e interage com o artista japonês de dança Mirai Moriyama. Por meio de sons e movimentos, ela aprende a expressão corporal dele e tenta reproduzi-la. A partir do dialogo estabelecido com Alter, o artista realiza uma performance de dança e a provoca. Toda a interação entre os dois foi captada pela autora da obra Justine Emard no vídeo em exibição na mostra.
Quantum Garden é um jogo, uma instalação gráfica de luz interativa, que o artista britânico de jogos Robin Baumgarten desenvolveu em colaboração com uma equipe de físicos quânticos da Universidade de Turku e as escolas de Ciências e de Artes, Design e Arquitetura da Universidade Aalto, ambas da Finlândia, e patrocínio do Centro de Engenharia Quântica (CQE).
Todo o andar -2 é ocupado por QUANTUM, obra da brasileira Rejane Cantoni, uma instalação imersiva e interativa desenvolvida com pesquisa de Marcos Cuzziol, produção da equipe Itaú Cultural, desenvolvimento de software de Kenzo Okamura e Tuany Pinheiro, também integrantes do Núcleo de Inovação do instituto, e design do espaço ST Arquitetura.
Ela é composta de um dispositivo ótico; computadores; software customizado, sensores e sistema de áudio. Tem uma grande estrutura feita de 15 módulos de madeira, alinhados e conectados entre si formando uma armação tubular elipsoidal de 4.15 metros largura x 2.27 metros de altura x 15.24 metros de comprimento.
QUANTUM funciona como um simulador de comportamentos, que permite, dentro de certos limites, uma experiência imersiva e interativa na realidade quântica. Em seu interior, o teto, o piso e uma lateral são espelhados; a outra lateral funciona como tela de projeção, que exibe imagens geradas por computadores. Os espelhos refletem as imagens computacionais e as interações dos usuários. Por meio de sensores infravermelhos, a presença do público gera silhuetas digitais ao ativar mudanças no estado do sistema, nas suas telas de projeção e na dimensão sonora.
ACESSIBILIDADE E CURSO
Como já é recorrente nas atividades promovidas pelo Itaú Cultural, esta exposição contém ferramentas de acessibilidade. Todas as obras são acompanhadas de audiodescrição e de videoguias em Libras, a Língua Brasileira de Sinais. O vídeo para Co(AI)xistence, de Justine Emard, conta com legenda descritiva, além de audiodescrição. Os pisos dos três andares que formam o espaço expositivo é podotátil. Há, também, dois objetos táteis, ambos com textura e material similar. São eles: a obra πTon/2, em escala, e o túnel da obra QUANTUM para a compreensão de sua arquitetura.
Em maio, o instituto promove um curso com noções de física quântica e sobre os conceitos da mostra. De 7 a 10 daquele mês, o curso Consciência Cibernética [?] Horizonte Quântico parte de questões como a forma que a exposição afeta os visitantes e como o tema explorado pode atrevassear o cotidiano das pessoas. São dois módulos de discussão. Um é ministrado pelo doutor em física, pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, Gabriel Guerrer, no qual aborda os limites da física quântica. O outro, se foca nos conceitos da exposição e tem como ministrantes Rejane Cantoni e Marcos Cuzziol. São 70 vagas para as aulas que vão das 19h às 22h, por meio de inscrições, que serão abertas de 15 a 29 de abril.