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março 24, 2019
William Forsythe no Sesc Pompeia, São Paulo
A primeira mostra no Brasil do coreógrafo e artista visual norte-americano apresenta onze grandes obras, que convidam o público a se mover e dialogam com a arquitetura do edifício projetado por Lina Bo Bardi
Entre os destaques, está o trabalho que ocupará o Galpão com 400 pêndulos, que farão os visitantes se deslocarem de um lado para o outro, desviando dos objetos em movimento, e a obra inédita que levará todos a erguerem suas cabeças e olhar as reluzentes instruções instaladas nas passarelas do conjunto esportivo
Reconhecido mundialmente como um dos mais inventivos coreógrafos em atuação, William Forsythe, norte-americano de 69 anos, foi diretor do Ballet Frankfurt e teve sua própria companhia. Paralelamente à dança, desde o início dos anos 1990, ele vem se dedicando a uma série de trabalhos que extrapolam os palcos: os objetos coreográficos.
Para sua primeira exposição no Brasil, o multiartista representado pela galeria Gagosian escolheu o Sesc Pompeia. Realizada pelo Sesc São Paulo, com curadoria da Forsythe Produções, em colaboração com Veronica Stigger, a mostra William Forsythe: Objetos coreográficos abre na próxima terça-feira, 26 de março, ocupando diferentes espaços da unidade e em diálogo com a arquitetura do edifício projetado por Lina Bo Bardi.
“Em suas exposições pelo mundo, Forsythe costuma pensar seus objetos coreográficos em relação com o espaço da galeria ou museu em que serão instalados. Não foi diferente com o Sesc Pompeia. Tudo foi desenvolvido a partir do projeto singular de Lina Bo Bardi, tendo a preocupação de não interferir em demasia no que a própria arquitetura proporciona”, diz Veronica Stigger.
A mostra reúne onze grandes obras do artista, que unem conceitos das linguagens da dança e artes visuais e propõem a colocação do corpo em movimento a partir de estímulos prévios. “Suas obras não foram criadas para serem contempladas ou apreciadas por suas características estéticas. São objetos concebidos para estimular a ação e a percepção do corpo não coreografado, só adquirindo plena função a partir da interação com o público”, explica a colabora Veronica Stigger.
Com instruções escritas ou faladas, suas instalações e vídeos convocarão os visitantes do Sesc Pompeia a se moverem, como Insustentáveis, São Paulo (2019), desenvolvida especialmente para a exposição. Ao redor do “lago”, na Área de Convivência, um conjunto de painéis suspensos formará um círculo, sem nenhum objeto no centro, apenas uma iluminação mais intensa. Pelos painéis e fones de ouvido, o público receberá orientações para se deslocar neste espaço, como “colocar um pé na frente do outro, enquanto balança os braços em variadas direções”.
Também inédita, Instrução, São Paulo (2019) fará os visitantes erguerem suas cabeças para lerem as quatro frases instaladas nas passarelas do conjunto esportivo. As letras foram confeccionadas em paetê, seguindo a tipologia da unidade Pompeia proposta por Lina Bo Bardi. A frase mais alta, “À mercê do quê?”, estará a mais de 30 metros do chão.
“Obras que já foram exibidas em outros lugares foram reelaboradas para esta mostra, levando em consideração o espaço em que agora estariam”, afirma Stigger. É o caso de Em nenhum lugar e em todos lugares ao mesmo tempo, São Paulo (2015/2019), que ganha nova versão no Galpão. Mais de 400 pêndulos em movimento contínuo serão pendurados na área de 300 m2, fazendo o público se deslocar de um lado ao outro, numa espécie de dança para desviar dos objetos.
Cidade de abstratos (2000) será montada no Hall do Teatro. Um gigante painel de vídeo com câmera acoplada projetará as imagens dos espectadores que estão no local. Seus corpos surgirão distorcidos na tela, em formas alongadas que se movimentarão em espiral. Já Os defensores parte 3 (2009) traz um teleprompter no qual se poderá ler uma espécie de manifestos poéticos contra a inatividade. As frases, que nunca se completam, têm sempre um “nós” como sujeito. “Nós, que não achamos que ficaria assim tão ruim” e “Nós, que não queríamos interferir” são algumas delas.
William Forsythe nasceu em Nova York, em 1949, e reside em Vermont. Atuou em diversas companhias. No Stuttgart Ballet, foi nomeado coreógrafo residente em 1976, permancendo na posição por sete anos. Em 1984, iniciou um mandato de vinte anos como diretor do Ballet Frankfurt, criando em seguida a Forsythe Company, que dirigiu de 2005 a 2015.
Recebeu o prêmio de dança e performance de Nova York, o Bessie (1988, 1998, 2004, 2007), o Prêmio Laurence Olivier, de Londres (1992, 1999, 2009), o título de Commandeur des Arts et Lettres (1999) pelo governo da França, o Leão de Ouro da Bienal de Veneza (2010) e o Grand Prix de la SACD (2016), entre outros.
Seus trabalhos com instalações e vídeos foram apresentados em inúmeros museus e exposições, incluindo a Whitney Biennial (Nova York, 1997), Festival d'Avignon (2005, 2011), Museu do Louvre (Paris, 2006), Pinakothek der Moderne (Munique, 2006), Tate Modern (Londres, 2009), MoMA (Nova York, 2010), MMK - Museu de Arte Moderna (Frankfurt, 2015) e 20ª Bienal de Sydney (2016). Entre outubro de 2018 e fevereiro de 2019, apresentou a exposição “William Forsythe: Choreographic Objects” no Institute of Contemporary Art (ICA) de Boston.
Atualmente é professor de dança e conselheiro artístico do Instituto Coreográfico da University of Southern California Glorya Kaufman School of Dance.
Veronica Stigger, escritora, curadora independente, crítica de arte e professora universitária, nasceu em Porto Alegre, em 1973, e vive em São Paulo.
Doutora em Teoria e Crítica de Arte pela Universidade de São Paulo (USP), é atualmente professora de Pós-Graduação na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP).
Foi curadora de diversas exposições, incluindo “Maria Martins: metamorfoses”, no MAM-SP (2013), vencedora do Grande Prêmio da Crítica da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) e do Prêmio Maria Eugênia Franco da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA), além de “Variações do corpo selvagem: Eduardo Viveiros de Castro, fotógrafo”, no Sesc Ipiranga (2015) e atualmente no Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG) em Portugal, e “As durações do rastro: a fotografia de Jordi Burch frente à arquitetura de Álvaro Siza Vieira”, na Fundação Iberê Camargo (2018), em Porto Alegre.
Por seu livro “Opisanie świata” (São Paulo: Cosac Naify: 2013) recebeu os prêmios Machado de Assis, São Paulo (autor estreante acima de 40 anos) e Açorianos (narrativa longa) e “Sul” (34: 2016) conquistou Prêmio Jabuti (contos e crônicas).