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março 24, 2019
Thiago Martins de Melo na Cavalo, Rio de Janeiro
A Cavalo tem o prazer de apresentar Rasga Mortalha, primeira individual de Thiago Martins de Melo no Rio de Janeiro. Na galeria o artista maranhense apresenta trabalhos inéditos de pintura e escultura além de seu novo filme em animação, o curta-metragem que nomeia a exposição. Feito com mais de mil desenhos em stopmotion, “Rasga Mortalha” parte da lenda da coruja “Suindara” — muito contada no folclore do Norte e Nordeste — para abordar as urgências sociopolíticas do país. Crê-se que o aparecimento de seu vulto branco, seguido do grito selvagem — que lembra o som de um pano sendo rasgado ao meio —, traz consigo o signo da morte. Como vetor metafórico para pensar, e também transcender, uma visão fatalista da história do Brasil, o artista se vale dessa tradição popular para cruzar séculos de acontecimentos públicos com memórias, referências e imaginações pessoais, criando uma narrativa carregada e cortante.
As referências na obra de Martins de Melo partem de sua pesquisa em diversas fontes. Da poesia de Gonçalves Dias ao gesto de Tuíra Kayapó, do messianismo de Glauber Rocha ao conceito de necropolítica cunhado pelo pensador camaronês Achilles Mbembe, da mitologia Tupinambá à atual luta do povo Gamela no Maranhão, da literatura de cordel às guerrilhas armadas nas selvas latino-americanas, o artista constrói panoramas intrincados e simbólicos da América Latina contemporânea. Ao som de tambores e fuzis, gestos marcantes e cores fortes jorram para encenar uma voragem de cenários, personagens e acontecimentos.
Entre a violência material que desnuda a crueza da vida e a ascese espiritual que aponta para o infinito, quilombolas, índios, sertanejos, favelados, homossexuais, transexuais, artistas e todos aqueles que não encontram espaço num projeto único de Estado-nação sofrem as contínuas investidas de massacres genocidas, mas também firmam ponto na força universal das resistências e insurgências, sempre prontas para vir à tona de diferentes formas, em qualquer lugar e a qualquer momento.
Thiago Martins de Melo nasceu em São Luis do Maranhão em 1981, onde vive e trabalha. O artista participou de diversas exposições institucionais, tais como: Queermuseu - Cartografias da diferença na América Latina, Santander Cultural, Porto Alegre (2017); 6° Prêmio Marcantonio Vilaça, MuBE – Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia, São Paulo (2017); Soft Power. Arte Brasil, Kunsthal Kade, Amersfoort (2016); Dakar Biennale, Dakar, (2016); Histórias da Infância, MASP, Museu de Arte de São Paulo, São Paulo (2016); Entre-temps... Brusquement, et ensuite, 12e Biennale de Lyon, Lyon (2013); Imagine Brazil, Astrup Fearnley Museet, Oslo (2013); Convite à Viagem – Rumos Artes Visuais, Paço Imperial, Rio de Janeiro (2012); To be with art is all we ask, Astrup Fearnley Museet, Oslo (2012); Dos Percursos e das Poesias, Museu de Arte Contemporânea do Ceará, Fortaleza (2012). Seu trabalho está presente nas coleções: Astrup Fearnley Museet (Oslo, Noruega), ICA – Miami Institute of Contemporary Art (Miami, EUA), Coleção Gilberto Chateaubriand, MAM (Rio de Janeiro), Thyssen-Bornemisza Art Contemporary (Viena, Áustria), MAR-Museu de Arte do Rio (Rio de Janeiro), entre outras.