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março 19, 2019
Paulo Bruscky na Carbono, São Paulo
O artista pernambucano Paulo Bruscky apresenta na mostra Di Paulos: retrospectiva de um artista múltiplo, arquivista de um Banco de ideias e que não pede permissão, com curadoria de Galciani Neves, uma seleção de trabalhos múltiplos e peças gráficas como publicações, cartazes, anúncios, obras conceituais, gravuras, fotografias, objetos e panfletos produzidos ao longo de seus mais de 50 anos de carreira.
O título da mostra foi retirado de uma obra do artista de 1978, composta por uma cartela de botões com linhas, em que constam as palavras Di Paulos. Essa pluralidade se relaciona com sua trajetória e os inúmeros procedimentos de criação que já experimentou. "Nesta exposição, o público poderá ver os muitos Paulos que existem em mim", conta o artista.
Na exposição retrospectiva, serão exibidos trabalhos de categorização híbrida e que acontecem, conceitualmente, entre a poesia visual, a performance e intervenções no espaço urbano. São trabalhos que já ocorreram em circuitos artísticos alternativos, como os classificados dos jornais, via correio ou em locais destinados a anúncios comerciais em espaços públicos, como também foram distribuídos a transeuntes, promovendo conexões entre arte e cotidiano.
Toda essa diversidade de experimentações gráficas, tanto do ponto de vista das técnicas de produção (fotocópia, impressão digital, carimbo etc) quanto de seus modos de circulação, desafia os sistemas políticos, artísticos e culturais e coloca em questão, com sua efemeridade e multiplicidade, o estatuto de unicidade e originalidade da arte.
Assim, o público poderá ver trabalhos que reelaboram o lugar de fruição da arte e subvertem o entendimento do gesto do artista como constitutivo de um projeto artístico, já que solicitam a participação do público, dos transeuntes, do leitor e se infiltram na cidade, no cotidiano, nos processos mais íntimos de percepção. Humor, acaso, política, ironia, denúncia e informação são a tônica desses trabalhos que reafirmam a frase do artista: “Arte é feita para circular”.
Paulo Bruscky, Recife, 1949 - Vive e trabalha em Recife, Brasil. Pioneiro na utilização de mídias contemporâneas, como a arte postal, audioarte, videoarte e xerografia no Brasil, Paulo Bruscky é um dos maiores artistas conceituais na arte brasileira.
Bruscky tem participado de diversas exposições no Brasil e no exterior, incluindo inúmeras bienais, como as 16ª, 20ª, 26ª e 29ª edições da Bienal de São Paulo (1981, 1989, 2004 e 2010) e a 10ª Bienal de La Habana, Cuba (2009), entre outras. Individuais recentes incluem: Paulo Bruscky, Galeria Nara Roesler, São Paulo, Brasil, e Nova York, EUA, ambas em 2017; PaLarva - Poesia Visual e Sonora, Caixa Econômica Federal, Recife, Brasil, 2016-17; Paulo Bruscky: Artist Books and Films, 1970-2013, The Mistake Room, Los Angeles, EUA, 2015, Another Space, Nova York, EUA, 2015, e Galeria Nara Roesler, São Paulo, Brasil, 2014; Paulo Bruscky, Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), São Paulo, Brasil, 2014; Paulo Bruscky: Art Is Our Last Hope, Phoenix Art Museum, Phoenix, EUA, 2014, e The Bronx Museum, Nova York, EUA, 2013. Coletivas recentes incluem: “L'oeil écoute”, projeto no Centre Georges Pompidou, Paris, França, 2017-18; 9ª Fuso - Festival Anual de Vídeo Arte Internacional de Lisboa, Lisboa, Portugal, 2017, na qual foi o homenageado da edição; 57ª La Biennale di Venezia - Viva Arte Viva, Veneza, Itália, 2017; e Xerografia: Copyart Brazil, 1970-1990s, University Galleries, University of San Diego, San Diego, EUA, 2017, parte do II Pacific Standart Time: LA/LA. Possui obras em importantes coleções institucionais, como: Museu d’Art Contemporani de Barcelona, Barcelona, Espanha; Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), São Paulo, Brasil; Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP), São Paulo, Brasil; Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil; Solomon R. Guggenheim Museum, Nova York, EUA; Stedelijk Museum, Amsterdam, Holanda; Tate Gallery, Londres, RU; The Museum of Modern Art (MoMA), Nova York, EUA; entre outros.
Ao longo de sua carreira, foi contemplado com diversos prêmios. Em 2009, foi anistiado e recebeu o título de Cavaleiro da Ordem do Mérito Cultural, maior honraria do governo brasileiro, e, em 2011, foi homenageado com o prêmio hors concours de arte e tecnologia do Instituto Sergio Motta.
Iniciando sua trajetória na década de 1960, Bruscky vai manter contato próximo e corresponder-se com o grupo Fluxus e Gutai, dos quais possui o maior acervo da América Latina. Desde suas primeiras incursões artísticas, afirma-se como artista conceitual e, durante os anos 1970, carregará sua obra com intenso conteúdo político como forma de protesto ao sistema ditatorial brasileiro. Homenageia também, em seus trabalhos, artistas como John Cage e Duchamp, e, em performance de 1978, pergunta aos seus espectadores “O que é arte, para que serve?”, e reforça esse tipo de questionamento em outros trabalhos como Confirmado: é arte ou É a arte reversível?.
Paulo Bruscky foi responsável por renovar a cena artística nacional dos anos 1970 e por inserir na arte brasileira outros tipos de mídias como xerox, fax, carimbo, artdoor, entre outras. O artista desenvolve, através do uso de palavras e intertextualidade, um trabalho carregado de significado. Através da arte correio ele pôde burlar a censura durante os anos 1970 dentro do Movimento Internacional de Arte Correio. As questões de original e cópia, muito presentes na arte contemporânea, também se tornam visíveis em trabalhos como Arte com firma reconhecida. Nos anos 1970, Bruscky também faz experimentações relacionadas ao corpo e novas tecnologias, inclusive da área médica, como o conjunto de obras Meu cérebro desenha assim, Sentimentos: Um poema feito com o coração, Autum Radium Retratum, entre outros. Seu pioneirismo também está inserido na fotolinguagem dos anos 1970, através de séries como Alto retrato, Dados biográficos, O eu comigo, AlimentAção e MinoPaulo.