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março 19, 2019
Artur Lescher na Pina Estação, São Paulo
A Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo, apresenta, de 23 de março a 24 de junho de 2019, a exposição Artur Lescher: Suspensão, que ocupa o 4º andar da Pina Estação. Com curadoria de Camila Bechelany, a retrospectiva pontua os momentos mais importantes da trajetória do artista reunindo um conjunto de cerca de 120 trabalhos, incluindo instalações, esculturas, maquetes e cadernos de desenho. A mostra propõe evidenciar como, desde o início da carreira, Lescher tem testado a aplicação das noções de gravidade, a partir da engenharia e da matemática, na construção de uma poética particular.
A obra escultórica de Artur Lescher (São Paulo, 1962) começou a chamar a atenção da crítica após sua participação na 19ª Bienal de São Paulo, em 1987. Desde então, o artista tem explorado a relação com o espaço expositivo em que se apresenta, caracterizando-se por intervir de maneira sutil nesse ambiente, de modo a fornecer ao observador alguma memória daquele lugar. Nesse sentido, seus interesses vão desde o modelismo até a astrologia, passando pela matemática, pela arquitetura e pela mitologia. Para a exposição na Pinacoteca, seus mais de 30 anos de pesquisa foram divididos em três eixos/salas: (1) Narrativas líquidas, que trata das potencialidades e dos desafios dos materiais; (2) Suspensão, sobre a verticalidade na escultura; e (3) Engenharia da memória, que apresenta a investigação do artista em direção à uma reescrita e construção imaginária da cidade.
No eixo Narrativas líquidas, constam esculturas que oferecem um contraponto à imagem orgânica da natureza. As obras da série Rios (2004-2019), por exemplo, assemelham-se a cachoeiras e cursos de rios, e, mesmo tendo sido construídas com materiais sólidos ou brutos como feltro, papel, madeira, aço e pedra, ainda assim evocam transparência e fluidez. “O material não é utilizado como suporte, ele desafia a forma e explora a realidade espacial, seja pelo equilíbrio, seja pela massa que carrega ou ainda pela sua resistência”, define a curadora.
Para conceber suas obras, o artista parte sempre do desenho à mão livre ou de uma maquete, para, em seguida, escolher o material. Posteriormente, este é trabalhado por meio de procedimentos semi-industriais – como solda, polimento e galvanização – para finalmente suspender a obra, arrematando assim as tensões do trabalho. Os projetos que utilizam a gravidade para experimentar o volume no espaço e os pêndulos estão reunidos no eixo Suspensão. “Ali podemos ver o desafio do peso, a resistência do material e a relação com o espaço público e a posição do espectador, questões caras ao artista”, resume Bechelany.
“A verticalidade das peças sugere a tentativa de atingir outro mundo, de escapar, de viajar. Os pêndulos também se relacionam a um imaginário cosmogônico ou um interesse pela leitura do céu. Cada obra é como um ponto de referência e o conjunto de pêndulos atua como um mapa imaginário do céu sobre nossas cabeças”, explica a curadora. A elegância do desenho e a perfeição executiva de Lescher, que explora, sobretudo, a dualidade peso-leveza, apontam para um fértil diálogo com tradições da escultura brasileira, notadamente com a obra de Waltercio Caldas. “Em Lescher são o empirismo e a percepção que comandam e justificam as proporções e as escalas nas quais as obras são desenhadas e desenham o espaço”, completa ela.
Para o escritor Juliano Garcia Pessanha, que assina texto para o catálogo da mostra, “adentrar o silêncio das paisagens incomuns de Lescher é expor-se a um chamado de elevação, pois as formas e as geometrias criadas por ele remetem ao alto e a um jogo de conexões com o que está em cima. Sua coragem está em reivindicar o acima quando todos parecem disputar a raiz e o embaixo”.
Por fim, a última sala, dedicada à construção de realidades imaginadas e a relação com o espaço urbano sob o eixo Engenharia da memória traz, como preâmbulo, cerca de 50 maquetes e cadernos de estudos. Estes são exibidos pela primeira vez ao público e visam constituir uma leitura aprofundada e inédita do processo de trabalho de Lescher. Ainda no mesmo espaço, é exibida a instalação Nostalgia do engenheiro (2014), uma homenagem a Giorgio De Chirico formada por 16 objetos em metal e madeira sobre uma base que se refere aos espaços metafísicos imaginados pelo artista italiano em suas pinturas.
CATÁLOGO
Artur Lescher: Suspensão é complementada com um catálogo que inclui uma entrevista conduzida por Lilian Tone, na qual o artista revisa a própria carreira. A edição conta com imagens de obras da mostra, além de outras obras de referência documental. Apresentadas nesta exposição pela primeira vez ao público, as maquetes e os cadernos de estudos que ilustram o método de trabalho do artista, também compõem o livro, que possui textos de Camila Bechelany, curadora da mostra, e Juliano Pessanha.
AÇÃO EDUCATIVA
O Núcleo de Ação Educativa (NAE) da Pinacoteca oferece formação e material especial para professores, além de um recurso educativo à disposição dos visitantes na entrada da exposição. Sábados, domingos e feriados, das 10h30 e 14h30, na Pina Estação. Grupo de até 20 pessoas. Não é necessária inscrição, apenas apresentar-se na recepção do museu. As visitas educativas durante os dias de semana acontecem de 30 de março a 24 de junho, e podem ser agendadas pelos números (11) 3324-0943 e (11) 3324-0944.
SOBRE ARTUR LESCHER
Artur Lescher nasceu em São Paulo, Brasil, em 1962, onde vive e trabalha. Participou das 19ª e 25ª edições da Bienal Internacional de Arte de São Paulo, São Paulo/SP, Brasil (1987 e 2002), e da 5ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre/RS, Brasil (2005). Expôs em diversas coletivas na América Latina, na Europa e nos Estados Unidos, além de duas mostras individuais, a primeira no Instituto Tomie Ohtake (ITO), São Paulo/ SP, Brasil (2006), e a segunda no Palais d’Iéna, Paris, França (2017).