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março 16, 2019
Chico Tabibuia na Estação, São Paulo
Com curadoria de Thais Rivitti, esta exposição é uma oportunidade rara de se ver reunido um conjunto numeroso de obras de Chico Tabibuia, cuja produção celebrada vinda de mãos não eruditas, foi uma das pioneiras a habitar a cena da arte contemporânea atraída por críticos como Frederico Morais, Maria Alice Milliet e Emmanoel Araujo.
As esculturas de Francisco Moraes da Silva (1936-2007), nascido em Aldeia Velha, no município de Silva Jardim, mas registrado em Casemiro de Abreu, também no Rio de Janeiro, surpreendem pela força de suas representações. Frequentemente são configurações de imagens arquetípicas, que fundem o masculino e o feminino, cujos padrões fálicos, principalmente em seus Exus, imprimem a presença explícita de Eros. O tema da entidade teve origem ao artista frequentar um terreiro de Umbanda, dos 13 aos 17 anos, mas foi a partir de 1986, já como integrante da Assembleia de Deus, que viria a representá-la em suas várias faces e com grande frequência.
Tabibuia encontra seus exus, sacis, pretas velhas e animais embutidos na natureza, nos troncos e raízes de árvore. Da madeira maciça, sem encaixes, com raros acréscimos, nascem seus seres imaginários. Segundo Rivitti, o que o artista faz é menos inventá-los e mais encontrá-los, um modo análogo a um médium, numa sessão de umbanda, quando recebe um Exu. “ Ao contrário do escultor moderno, Tabibuia revela o que já habita a sua matéria, os limites formais de suas obras estão dados a priori.”
A curadora destaca que as esculturas de Tabibuia chamam a atenção pelo erotismo e ao mesmo tempo aludem ao sagrado. “Não é apenas o falo das imagens que aponta vetorialmente para a frente ou para baixo, mas as esculturas, monolíticas e aprumadas como um todo apresentam a mesma rigidez do membro ereto. Somava-se a isso a certeza de que estamos diante de objetos de culto. Havia algo na presença dessas obras que, mesmo no interior do cubo branco da galeria, me falava do contexto religioso”, escreva Rivitti.
Ao se debruçar sobre a obra do artista, a curadora destaca que o desafio do trabalho de Tabibuia e de outros artistas neste momento atual do mundo da arte que parece querer dissolver fronteiras é de grandes proporções. “É necessário recusar categorias estanques e incluir o que já foi visto como “arte popular” nas exposições de museus de arte contemporânea. Mas, para isso, é preciso repensar como as obras de Tabibuia operam (e como podem estar) dentro de museus e galerias. Necessário também recolocar a importância – para aqueles que vão conviver com seu trabalho – de se aproximarem do pensamento de matriz africana e indígena, pois tudo isso está em jogo e é relevante para sua compreensão de mundo. Há muito a ser feito, mas foi dada a partida para essa iniciação”, conclui.