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março 15, 2019
Rodrigo Zeferino inaugura a Léo Bahia na Casa Tutti, Vitória
“O Grande Vizinho” com abertura em 19 de março, poderá ser visitada até 18 de maio de 2019
Esta será a primeira exposição da Léo Bahia Arte Contemporânea, galeria de arte que tem sua origem na Galeria Casa Tutti.
A mudança do nome resgata a trajetória de seu diretor que, desde 2001, atuou no mercado de arte de Belo Horizonte, tendo realizado inúmeras mostras individuais (Marta Neves, Cinthia Marcelle, Lais Myrrha, dentre outras) e coletivas, além de ter participado de feiras de arte no Brasil e no exterior (São Paulo, Buenos Aires (Argentina), Miami (USA), Nova York (USA), Londres (Inglaterra), Madrid (Espanha), Lisboa (Portugal e Basel (Suiça).
O título da exposição - O Grande Vizinho - faz referência à famosa novela de George Orwell. Na sociedade distópica, descrita pelo autor inglês no livro “1984”, todos os cidadãos são constantemente seguidos pelos olhos onipresentes do Grande Irmão, figura autoritária que representa o poder no enredo.
A série fotográfica apresentada ganhou visibilidade nacional, após receber o Prêmio FCW de Arte 2016/2017, oferecido pela Fundação Conrado Wessel, de São Paulo e discute a relação de uma cidade que cresce em função e ao redor de uma usina siderúrgica (Rodrigo é de Ipatinga, cidade do interior de Minas Gerais, onde está implantada a USIMINAS).
O fotógrafo relata que, com a publicação das primeiras fotografias de “O Grande Vizinho” na imprensa e o seu compartilhamento nas redes sociais, em 2017, passou a receber feedbacks dos moradores de Ipatinga e de outras cidades siderúrgicas, com suas impressões sobre o trabalho.
“A maioria das pessoas que residem na região convivem diariamente com um horizonte ocupado por chaminés, gasômetros e torres, e com o tempo, o olhar se anestesia, até que tudo isso se torna comum. Este retorno me estimulou a voltar o meu olhar para dentro da usina e fazer minha própria leitura do interior de uma empresa deste porte”.
Zeferino destaca que objetiva apresentar uma visão descontruída dos ambientes.
“Muitas vezes, descontextualizo a cena e ressignifico os elementos presentes, seja pela manipulação da luz, pelo recorte ou pelos recursos que a fotografia permite. Tento transformar as grandes estruturas, como panelas de aço líquido, tubulações ou altos-fornos, em criaturas autônomas, pouco reconhecíveis, mas estranhamente belas”.
Assim, evidencia a função onipresença da siderúrgica, transformando, às vezes, os habitantes da cidade, em personagens fantasmas das cenas retratadas.
O objetivo deste trabalho não é o simples registro fotográfico, mas a discutição do papel que a indústria tem na cidade e de como seus habitantes aparecem secundários nesta realidade.
Sem dúvida nenhuma é uma exposição política e questionadora da dependência econômica e social que toda a cidade mantém em relação ao poderio da empresa.
Em 2013, com o início do agravamento da crise econômica brasileira, a siderúrgica chegou a desligar um de seus altos fornos e demitiu vários funcionários, provocando um aumento no índice de desemprego da região, no fechamento de vários estabelecimentos comerciais de Ipatinga, diminuição da arrecadação pelo município e, por consequência, do investimento público e no aumento da criminalidade.
Outra questão discutida se refere aos danos ambientais. Se em Ipatinga, Minas Gerais, existe a questão da extração do minério de ferro, com seu desmatamento, com todo o processo de tratamento deste minério e a criação de suas temerosas barragens, em Vitória convivemos com o “pó preto” que é emitido pelo porto de Tubarão.
Sobre a mostra em Vitória o artista pondera que se Ipatinga tem a USIMINAS, Vitória tem a Vale do Rio Doce e, por isso, acredita na linguagem universal deste trabalho.
A curadoria da exposição é do fotógrafo Pedro David (ler texto curatorial).
Esta exposição já foi exibida em várias cidades do Brasil (Ipatinga, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília) e participou, também, da Mostra de Fotografia de Tiradentes\MG.