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março 5, 2019
33ª Bienal de São Paulo - Afinidades Afetivas no Palácio das Artes, Belo Horizonte
O recorte de uma das mostras de arte mais relevantes do mundo chega, mais uma vez, ao complexo cultural do Palácio das Artes. A Fundação Clóvis Salgado, em parceria com a Fundação Bienal, recebe itinerância da 33ª Bienal de São Paulo. Neste ano, todas as galerias de artes visuais da Fundação Clóvis Salgado e o Cine Humberto Mauro receberão obras de 15 artistas em suportes variados que integraram a edição 2018 da Bienal. Entre eles, estão trabalhos de Waltercio Caldas, Tamar Guimarães, Alejandro Corujera, Roderick, Sofia Borges, Sara Ramo e Maria Laet.
Com o título Afinidades Afetivas, a mostra parte de compatibilidades artísticas e culturais entre os envolvidos, ressaltando a justaposição das obras no centro do processo curatorial. Desse modo, o Pavilhão Bienal recebeu doze projetos individuais selecionados pelo curador-geral Gabriel Pérez-Barreiro e sete mostras coletivas organizadas por artistas-curadores convidados.
“A itinerância da Bienal de São Paulo exerce um importante papel de democratização da arte, por ser uma das principais plataformas do segmento no mundo, a sua circulação promove a ampliação do público e as reflexões de uma linguagem profusa e diversa. Pela quinta vez, a FCS recebe a itinerância da Bienal consolidando a parceria entre as duas Instituições. ‘Afinidades Afetivas’ chega a Belo Horizonte ocupando todas as galerias do Palácio das Artes e também o Cine Humberto Mauro, esse feito de trazer a ocupação da Bienal para o cinema nos permite ampliar ainda mais as linguagens artísticas propostas pela curadoria’’, explica Uiara Azevedo, gerente de Artes Visuais da Fundação Clóvis Salgado.
Responsável pela curadoria das itinerâncias, o crítico italiano Jacopo Crivelli explica que essas mostras foram concebidas como novas experiências em relação ao projeto original, de maneira que não replicassem literalmente o que foi visto no Pavilhão. “As ‘narrativas’ propostas por cada uma das exposições itinerantes são parciais e pessoais e não têm a ambição de resumir os assuntos abordados pelos artistas e pelas obras da 33ª Bienal, mas sim buscar outras relações, outras afinidades afetivas, e manter-se assim mais fiel às suas ideias centrais”, conta Jacopo. “Exatamente como na exposição original, o convite à atenção está feito, cabe agora a cada visitante observar e desenhar sua própria exposição”
Além de ampliar a circulação das obras de arte que fizeram parte da Bienal, o programa de itinerâncias possibilita novas relações entre os visitantes e a obra. Um exemplo é a instalação de madeira Te doy una esfera de luz dorada (2018), do argentino Alejandro Corujeira, que propõe o caminhar como uma manifestação do desenho, considerada por ele semente de qualquer atividade artística. Na expografia da Grande Galeria do Palácio das Artes, a obra, junto dos desenhos do artista, recebe um destaque diferenciado em relação ao Pavilhão em São Paulo, proporcionando maior contato entre o público e a instalação.
Com ampla participação de artistas latinos e brasileiros, outros destaques do recorte da Bienal são os trabalhos de Waltercio Caldas, artista-curador da Bienal conhecido por produzir, com esculturas, circunstâncias espaciais, além de usar a palavra como elemento escultórico, como em Not Now (2014). As cinco obras da artista-curadora Sofia Borges também se destacam ao lidar com a tragédia a partir de uma pesquisa sobre a mitologia, a existência e a impossibilidade de uni-la ao significado.
Já a mineira Tamar Guimarães vai ocupar o Cine Humberto Mauro uma vez por semana com Ensaio (2018), obra audiovisual filmada no próprio Pavilhão da Bienal e que traz reflexões sobre o racismo e misoginia. Desnudando a própria organização cultural, a trama mostra Isa, uma jovem diretora negra convidada por uma instituição de arte contemporânea para sugerir um projeto, ao que ela responde propondo uma adaptação de Memórias Póstumas de Brás Cubas.
A artista conta que o interesse pelo formato do ensaio vem da tensão entre repetição e diferença, do estado de espera e a potência da renovação pelas mudanças internas de relações entre as partes. “Procurava um texto para um ensaio a ser filmado, e queria trabalhar com algo que falasse de um modo de ser e estar no Brasil. Memórias Póstumas, de Machado de Assis, me cativou muito porque há um ceticismo em relação ao progresso e uma leitura crítica afiada sobre a sociedade brasileira”, conta a artista. No elenco de não-atores está, também, o curador-geral da 33ª Bienal Gabriel Pérez-Barreiro.
É a segunda vez que a Itinerância da Bienal se estende ao espaço do Cine Humberto Mauro, construindo uma ponte com as galerias do Palácio das Artes. “Trazer a ocupação da mostra para o Cinema nos permite ampliar ainda mais as linguagens artísticas propostas pela curadoria, possibilitando um trânsito do público do cinema para as galerias”, observa Uiara.
Um convite à atenção do público – O cuidado com a atenção orientou o programa curatorial da mostra, e foi com o objetivo de criar espaços favoráveis à desaceleração, observação, reflexão do público e compartilhamento de experiências que a Fundação Bienal vem desenvolvendo ações educativas em parceria com o Centro de Formação Artística e Tecnológica – Cefart. No período expositivo da itinerância, os professores do Cefart e outros multiplicadores artistas vão oferecer atividades como palestras, visitas guiadas e processos exploratórios de produção e apreciação artística desenvolvidos para potencializar a experiência estética dos diversos públicos. Segundo Lucas Amorim, coordenador da Escola de Artes Visuais do Cefart, essas ações são de extrema importância para a formação de público não só para o recorte da Bienal ou das artes visuais, mas também para todos os corpos artísticos e espaços culturais da Fundação Clóvis Salgado.