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março 4, 2019
Janaina Mello Landini na Zipper, São Paulo
Uma corda com 20 metros de comprimento, 30 centímetros de diâmetro e 120 kg de massa fica suspensa no salão principal da Zipper. Ambas as extremidades se desmembram gradualmente da trama principal até que suas espessuras mínimas se agarrem às paredes do espaço expositivo, sustentando a instalação. Em remissão aos eixos cartesianos, três linhas riscadas na parede da galeria inserem o trabalho no planos do espaço mapeado e terreno do controle. Assim a artista Janaina Mello Landini projeta sua terceira individual na Zipper, aberta a partir do dia 9 de março. Com curadoria de Taisa Palhares, a exposição Aqui, agora. apresenta site-specific e trabalhos em tela da série Ciclotrama.
Ciclotrama é um neologismo da artista para designar a pesquisa que desenvolve desde 2010. A partir de um desenho espacial, ela experimenta tensão a física entre os fios e a distribuição das cargas recebidas para tocar em temas como interconectividade e interdependência. A passagem e a fixação do tempo é outro interesse de Janaina, que busca impregnar no trabalho as longas horas dedicadas aos atos de tramar e desmembrar, estabelecendo uma relação com a prática artesanal. “Conceitualmente, uma Ciclotrama é uma seção de um ciclo contínuo e binário, uma estrutura esquemática com característica hierárquica, composta de partes interdependentes. Como ato, é uma longa ação de dividir o todo e suas partes, até que sua unidade mínima fique aparente e sustente todo o sistema como um conjunto”, pontua a artista.
Sua produção transita entre diferentes escalas – do espaço público aos objetos. O andar superior da galeria ficou reservado aos trabalhos em tela da artista. Nestes, Janaina tomou como ponto de partida linhas imaginárias (paralelos e meridianos) de projeções cartográficas planisféricas, cilíndricas e cônicas. Desconsiderado os territórios que originalmente ocupavam as representações, a artista cria ocupações neste espaço imaginado com cordas que se prendem às telas e se desenrolam pelo espaço expositivo. “A Ciclotrama é um ato imprevisível e intuitivo. Como metáfora, ele representa o fluxo e acaba por determinar uma zona. A ideia nesta série de trabalhos é criar ilhas e regiões em uma relação entre a corda e o espaço cartográfico”, afirma a artista.
Janaina Mello Landini (São Gotardo, MG, 1974), mineira radicada em São Paulo, agrega seu conhecimento sobre a arquitetura, a física e a matemática e sua percepção sobre o tempo para desenvolver obras que transitam por diversas escalas. Sua pesquisa tem resultado nas séries "Ciclotramas", feitas com cordas que se desmembram em espessuras mínimas, e “Labirintos Rizomáticos”, obras em cetim que resultam na construção de perspectivas multifocais, anulando a construção tradicional. Principais exposições individuais: Aglomeração. Galerie Virginie Louvet, Paris (2018); Ciclotrama, Museu da República, Rio de Janeiro (2016); "Ciclotrama 27 (medusa)", Galeria Macca, Cagliari, 2015; "Ciclotramas", Galerie Virginie Louvet, Paris, 2015; "Ciclotrama 20 (onda)", Zipper Galeria, São Paulo, 2015; "Paisagens", Galeria Desvio. Belo Horizonte, 2011; "Ciclotrama", Espaço, Belo Horizonte, 2010. Principais exposições coletivas: “Sea of Desire”, Foundation Carmignac, Ilha de Porquerolles, França (2018); “Monumental”, Marina da Gloria, Rio de Janeiro (2018); "Double Je", Palais de Tokyo, Paris, 2016; "Vértice", Centro Cultural dos Correios, Brasília, 2015; The Fine Art Laboratory, Universidade de Arte de Musashino, Tokyo, 2015; "Art for Florence Design Week – 5.0 Edition", Florença, 2014. Coleções institucionais: Foundation Carmignac (França), The BIC Collection (França).
Taisa Palhares é professora de Estética no Departamento de Filosofia da Universidade Estadual de Campinas (IFCH/Unicamp). Possui graduação (1997), mestrado (2001) e doutorado em Filosofia (2011) pela Universidade de São Paulo (USP). Realiza estudos nas áreas de estética e artes visuais, com ênfase na pesquisa sobre a fundamentação da obra de arte desde a Modernidade. De 2003 a 2015, foi pesquisadora e curadora da Pinacoteca do Estado de São Paulo, sendo responsável pelo projeto de exposição retrospectiva "Mira Schendel" (2013/2014), em parceria com a Tate Modern. É autora do livro "Aura: a crise da arte em Walter Benjamin" (Fapesp/ ed. Barracuda, 2006). Desde 2000, atua como crítica de arte, e foi uma das idealizadoras e co-editoras da revista independente de arte e crítica "Número" (2003-2010).