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fevereiro 12, 2019
Os fins do sono na Oma, São Bernardo do Campo
Exposição Os fins do sono reúne importantes nomes da arte contemporânea, com curadoria de Paula Braga e Aléxia Bretas, mostra inédita discute o sono como território de recusa à gestão capitalista do tempo
Levamos um modo de vida no qual tentamos constantemente nos adequar ao tempo que nos resta e à necessidade de estar sempre despertos: daí, para muitos, o sono ter se tornado sinônimo de ócio improdutivo e perda de tempo. Sabemos, no entanto, que o estado de sono proporciona não apenas uma pausa, interrupção ou descanso para o “eu” consciente, como também exerce um papel fundamental para a sobrevivência e o bem-estar do corpo e da mente, sobretudo, em meio à cultura da vigilância e da gestão produtivista do tempo durante vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana.
Trazendo à luz importantes questões sobre os propósitos e a finitude do sono, a exposição terá sua abertura na sexta-feira, dia 15 de fevereiro, às 19 horas, na Oma Galeria. Intitulada Os fins do sono, a mostra reúne cerca de 11 obras, entre desenhos, fotografias, instalações, audiovisuais, montagens e plotagens. Sob curadoria das professoras e também pesquisadoras Paula Braga e Aléxia Bretas, a mostra coletiva explora o sono como reserva existencial e política, trazendo para o Grande ABC importantes nomes da arte contemporânea, como Ana Teixeira, Beanka Mariz, Fernando Velázquez, Dani Tranchesi, Gustavo Von Ha e Ricardo Basbaum.
Segundo as curadoras, “as obras da exposição tratam dos aspectos curativos do sono, tanto no âmbito individual quanto coletivo. Dormir é transgressor pois estabelece um território de recusa à lógica do capitalismo tardio”. O espectador que visitar a exposição terá a oportunidade de se deparar com diferentes nexos e sensações produzidas pelas múltiplas tensões entre o dormir, o sonhar, a insônia e o despertar.
Na obra da artista Ana Teixeira, o desenho plotado na parede se reporta à gravura “O sono da razão produz monstros” do artista espanhol Francisco Goya, seguido de uma frase de Fernando Pessoa que contradiz o senso comum, indicando importantes afinidades entre o sonho e o raciocínio lógico. A carioca Beanka Mariz expõe uma cama hospitalar junto a um soro intravenoso, que alude à patologia da convivência com a insônia. “Penso o meu trabalho como uma investigação incessante entre Natureza e Método – bata-se ou não, a porta sempre se abrirá”, observa a artista.
As fotografias de Dani Tranchesi nos remetem a espectros que perambulam em meio a um parque de diversões torturante numa espécie de pesadelo recorrente, enquanto no vídeo de Gustavo Von Ha, depoimentos exaltam os delírios provocados pelos sonhos. Já Ricardo Basbaum apresenta um áudio e diagramas plotados na parede, a nos lembrar que dormir não é a única estratégia para estar no aqui e agora: “sem sonho, sem sono”. É preciso resistir à normatização dos comportamentos também na vigília, recuperando uma racionalidade desperta, que recusa o imperativo do consumo e da vigilância no ritmo 24/7.
Fernando Velázquez, o último aqui apresentado, explora a luz do néon que atua como impeditivo do sono, em uma espécie de loop de um contínuo estado de vigília. “Os humanos têm a capacidade de articular dados objetivos e subjetivos sobre o mundo exterior de uma forma particularmente densa e intrincada”, afirma o artista. Revelando um lado poético entre linguagens, Velázquez trabalha livremente alguns aspectos abordados pela mostra, principalmente pela ótica de uma sociedade cada vez mais individualista e seduzida pelos excessos.
A exposição “Os fins do sono” é a primeira exposição da Oma Galeria em 2019. Com entrada gratuita de terça a sábado, a mostra ficará aberta para visitação até o dia 23 de março.