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fevereiro 7, 2019
MASP recebe vídeo de Jenn Nkiru sobre a experiência negra
Diretora, conhecida por trabalhos como a direção artística de ‘Apeshit’, clipe gravado por Beyoncé e Jay-Z no Louvre, estreia ‘Rebirth is necessary’ na Sala de Vídeo em 7.2
A Sala de Vídeo do MASP recebe a partir de 7 de fevereiro Rebirth is necessary (2017, 10min38seg, 8mm, 35mm, digital), vídeo da cineasta anglo-nigeriana Jenn Nkiru vencedor no ano passado da categoria Melhor Curta Documentário do Festival de Cinema Independente de Londres e da categoria Melhor Curta de Arte do prêmio Voice of a Woman, em Cannes. A obra, uma colagem de trechos de vídeos de diversos autores e épocas, fala sobre a experiência negra no mundo —e a necessidade de discuti-la e reinventá-la. Em cartaz até 24 de março no segundo subsolo do museu, o trabalho faz parte da transição entre “Histórias afro-atlânticas” e “Histórias das mulheres, histórias feministas”, eixos temáticos da instituição em 2018 e 2019, respectivamente.
Jenn Nkiru vive e trabalha Estados Unidos e Inglaterra, onde nasceu, e dedica sua obra a um retrato amplo, investigativo e reflexivo sobre a condição negra desde a diáspora africana. É autora de videoclipes, curtas-metragens e videoinstalações. Na música, se destacou no ano passado como diretora artística de segunda unidade para o visual do clipe Apeshit, que o casal de músicos pop Beyoncé e Jay-Z gravou no Louvre. O vídeo, dirigido por Ricky Saiz, traz sequências que questionam a relação hierárquica entre brancos e negros, o papel relegado aos afro-descendentes e o eurocentrismo das histórias da arte e dos museus, como o Louvre.
Em Rebirth is necessary, Nkiru faz uso de imagens próprias e de autores diversos. A maioria das cenas é datada dos anos 1960 e 70, período que registrou o ápice do movimento por direitos civis nos EUA e o surgimento do afrofuturismo. O movimento estético-artístico, que só ganharia este nome nos anos 1990, foi retomado por Hollywood no ano passado com o blockbuster Pantera Negra. Sua proposta é misturar fantasia, tecnologia e referências africanas pré-diáspora para tecer narrativas afrocentradas que apontem tanto para o passado como para o futuro, e inverter a narrativa dominante no mainstream, capitaneada por brancos.
No curta, há trechos de filmes, de comerciais de TV e de clipes. O resultado são sequências oníricas em que surgem ora anônimos ora a organização política dos Panteras Negras e os jazzistas Alice Coltrane e Sun-Ra, considerado um dos pilares do afrofuturismo. A justaposição de passado, presente e futuro, de símbolos de resistência e transcendência, resulta em algo novo e provocativo, e também universal.
“Jenn Nkiru tem fortes referências da música, do cinema africano e do cinema diaspórico. Ela faz parte de uma geração de negros que busca recompor a sua ancestralidade, criou uma linguagem própria ao imprimir velocidade na edição de imagens e alcançou protagonismo em um meio ainda muito dominado por homens brancos”, diz Horrana de Kassia Santoz, assistente de mediação e programas públicos do MASP e responsável pela curadoria desta mostra. “Tem uma linguagem própria e encontra consonância entre os dois ciclos.”