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janeiro 23, 2019
MASP anuncia a programação de 2019
Ao longo do ano, eixo temático ‘Histórias das mulheres, histórias feministas’ vai embasar exposições monográficas de Djanira da Motta e Silva, Tarsila do Amaral, Lina Bo Bardi, Anna Bella Geiger, Leonor Antunes, Gego e uma mostra coletiva internacional
O tema “Histórias das mulheres, histórias feministas” será pauta do programa de exposições do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand em 2019. Já estão confirmadas seis monográficas de artistas mulheres, além de uma grande mostra coletiva que levará o título do eixo temático. A exposição se integra à série de mostras e seminários elaborados, nos últimos anos, em torno da noção de histórias, que abarcam narrativas reais, fictícias, relatos pessoais e históricos, apresentadas de maneira mais aberta e plural. Nos três anos anteriores, o MASP apresentou exposições coletivas de destaque dentro de um eixo temático anual, Histórias da infância (2016), Histórias da sexualidade (2017) e Histórias afro-atlânticas (2018), recorde de visitação da atual gestão, com 180.000 visitantes.
As mulheres sempre experimentaram uma realidade distinta da vivida pelos homens no que tange a direitos civis e papéis sociais. Ao longo da história, a diferença de gênero teve momentos dramáticos, como no século 19, em que teorias de suposta base científica foram forjadas para explicar e justificar a dominação masculina. O sociólogo positivista francês Auguste Comte, por exemplo, procurou naturalizar a desigualdade em sua teoria da ordem espontânea da sociedade humana, de 1839. Já que as mulheres eram vistas como naturalmente incapazes de entender e raciocinar, não seriam, portanto, capazes de produzir algo tão complexo como a arte.
Muitos esforços têm sido empreendidos desde o final do século 19 para afirmar a importância das mulheres artistas e de suas obras, como a fundação, em Paris, da Union des femmes peintres et sculpteurs [União das mulheres pintoras e escultoras] em 1881 e, mais recentemente, o surgimento do movimento #MeToo, contra o assédio sexual, em Hollywood. A programação do MASP em 2019 se une a essa rede de esforços que questionam os valores de gênero dentro da história da arte e celebram as histórias e os trabalhos de mulheres que, de modo deliberado ou não, foram ignoradas ao longo dos séculos.
Para aprofundar as pesquisas que embasam o programa de 2019, o MASP organizou dois seminários neste ano: “Histórias das mulheres, histórias feministas”, em fevereiro, e “Histórias feministas, mulheres radicais”, em novembro, numa parceria com a Pinacoteca do Estado de São Paulo. Dos seminários, sairá parte do conteúdo do catálogo e da antologia que serão lançados com a exposição coletiva.
As monográficas de Djanira da Motta e Silva, Tarsila do Amaral e Lina Bo Bardi estão previstas para o primeiro semestre, e a coletiva Histórias das mulheres, histórias feministas, e as mostras de Gego, Leonor Antunes e Anna Bella Geiger, para o segundo. O ciclo em torno das histórias das mulheres e histórias feministas terá, além das exposições, palestras, oficinas, filmes, seminários e outras atividades. A programação pode ser acompanhada no site do MASP.
Em paralelo ao eixo temático, e na sequência das importantes parcerias que tem estabelecido, em junho o museu promove a mostra Comodato MASP Landmann: têxteis pré-colombianos. Com curadoria de Marcia Arcuri, será a primeira exposição dedicada à importante coleção arqueológica, que abarca diferentes tipologias, períodos e territórios, cedida ao museu em comodato por um período de 10 anos. A mostra terá têxteis produzidos no atual Peru entre 800 a.C. e o século 16.
Também em paralelo ao eixo temático de 2019, o MASP exibe o Acervo em transformação, exposição da coleção do museu nos cavaletes de cristal de Lina Bo Bardi. Estão ali nomes como Rafael, Gauguin, Renoir, Van Gogh, Toulouse-Lautrec, Bosch, Teresinha Soares, Claudio Tozzi, Anna Maria Maiolino, Anita Malfatti e Sonia Gomes. A seleção das obras, que podem ser localizadas por mapas impressos, passa por alterações periódicas, que permitem identificar características comuns aos trabalhos e propiciam diálogos entre os diversos artistas, assim como propor novos percursos para o visitante redescobrir a arte.
EXPOSIÇÕES 2019
Djanira: a memória de seu povo
2º subsolo - março a maio, MASP
junho –outubro, Casa Roberto Marinho, Rio de janeiro
Curadoria: Isabella Rjeille, curadora-assistente, MASP, e Rodrigo Moura, curador-adjunto de arte brasileira, MASP
Artista identificada com a segunda etapa do modernismo brasileiro, Djanira da Motta e Silva (Avaré, São Paulo, Brasil, 1914 – Rio de Janeiro, Brasil, 1979) dedicou seus 40 anos de carreira à pintura a óleo e à têmpera, ao desenho, à azulejaria e à gravura. Sua produção foi inicialmente categorizada como “primitiva” pela crítica dos anos 1940, o que resultou em um lugar problemático para a sua arte e na marginalização da artista dentro das narrativas depois construídas sobre o modernismo no Brasil. Essa mesma categorização permitiu, no entanto, que Djanira se posicionasse de maneira independente no cenário artístico, fazendo uso de seu autodidatismo como ponto de partida para se afastar de tendências dogmáticas ou escolas e para criar uma combinação única entre temática social e síntese formal. Com obras produzidas entre os anos 1940 e 1970, a mostra vai revisitar sua produção a fim de reposicionar Djanira da Motta e Silva no contexto da história da arte moderna no Brasil. Esta exposição é co-organizada pelo MASP e pela Casa Roberto Marinho, no Rio de Janeiro, para onde irá itinerar em junho. Os principais temas de sua pintura serão abordados nos diferentes núcleos da exposição – como os retratos e autorretratos (que marcam o início de sua produção); as diversões e os festejos populares; as representações do trabalho e do trabalhador; a religiosidade afro-brasileira; as diversas paisagens do Brasil e os índios canela do Maranhão.
Tarsila Popular
1º andar - abril a julho
Curadoria: Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, e Fernando Oliva, curador, MASP
Centrada na obra de Tarsila do Amaral (Capivari, São Paulo, Brasil, 1886 - São Paulo, Brasil, 1973), a exposição, de cerca de 120 trabalhos, propõe uma nova abordagem da produção da artista, em geral apresentada como parte da tradição modernista europeia. Sem ignorar os aspectos modernistas canônicos e formais de sua obra, o projeto busca enfatizar seus personagens, temas e narrativas, especialmente em relação a questões sociais, políticas, raciais e de classe, bem como chamar atenção para as aproximações com a arte popular e vernacular.
Lina Bo Bardi: Habitat
1º subsolo - abril a julho
Curadoria: José Esparza Chong Cuy, curador, Museum of Contemporary Art Chicago (MCA), Julieta González, diretora artística, Museo Jumex, Cidade do México, e Tomás Toledo, curador-chefe, MASP
Lina Bo Bardi: Habitat é uma exposição panorâmica, co-organizada pelo Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), Museo Jumex, Cidade do México, e Museum of Contemporary Art Chicago (MCA), que olha para a vida, a obra e o legado cultural da arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi (1914–1992). Como uma imigrante italiana no Brasil, Bo Bardi entendeu que as ideias modernistas europeias não poderiam ser aplicadas na América Latina sem adaptações, contaminações e diálogos com o contexto sociocultural local. Esta percepção permitiu a ela mergulhar no contexto e no habitat brasileiro para criar uma linguagem única e radical de design, arquitetura e curadoria.
Organizada em três eixos – O habitat de Lina, Repensando o museu e Da Casa de Vidro à cabana –, a exposição irá se debruçar sobre a ampla atuação de Bo Bardi, com seus projetos de arquitetura, mobiliário e empreitadas editoriais, além de propostas pedagógicos, expográficas e curatoriais para museus e centros culturais. Os temas principais da exposição giram em torno dos projetos fundamentais da carreira da arquiteta, bem como de momentos decisivos de sua trajetória pessoal, como a chegada do casal Bardi ao Brasil, o MASP e sua radical pinacoteca com cavaletes de vidro, a Casa de Vidro, a revista Habitat, sua experiência em Salvador, na Bahia, a exposição A mão do povo brasileiro, os projetos de edifício e cenário para teatro, o SESC Pompeia e uma ampla seleção de mobiliário. Junto com a abertura, haverá o lançamento de um catálogo de 272 páginas, amplamente ilustrado, com oito ensaios acadêmicos, material de arquivo e traduções dos escritos de Bo Bardi.
Histórias das mulheres, histórias feministas
1º andar, 1º e 2º subsolo - agosto a novembro
Curadoria: Isabella Rjeille e Mariana Leme, curadoras-assistentes, e Lilia Schwarcz, curadora-adjunta de histórias
A exposição será dividida em duas grandes seções. A primeira, Histórias das mulheres, incluirá obras de diversos territórios, estilos e gêneros pictóricos, do século 16 ao final do século 19, incluindo retratos, naturezas-mortas e paisagens, além de cenas históricas e religiosas. Como diálogo e contraponto, Histórias feministas reunirá artistas de diferentes nacionalidades que trabalham no século 21 em torno das ideias de feminismo ou em resposta a elas. A exposição será organizada a partir de eixos temáticos com obras de diferentes linguagens que buscarão lançar um olhar crítico à história das mulheres e dos próprios feminismos, bem como apresentar uma reflexão sobre os projetos de futuro e imaginários que os feminismos contemporâneos propõem.
Anna Bella Geiger (título a confirmar)
2º subsolo - novembro a março de 2020
Curadoria: Adriano Pedrosa, diretor artístico, e Tomás Toledo, curador-chefe
Mostra da artista carioca (1933, Rio de Janeiro, Brasil), ainda a ser detalhada.
Leonor Antunes (título a confirmar)
1º subsolo - dezembro a março de 2020
Curadoria: Amanda Carneiro
A monográfica de Leonor Antunes (Lisboa, Portugal, 1972) será realizada em parceria com o Instituto Bardi e irá ocupar dois locais de exibição, o MASP e a Casa de Vidro, ambos projetos de Lina Bo Bardi. As esculturas de Antunes dialogam com a arquitetura, o artesanato e o design locais e tomam nomes de artistas e arquitetas importantes para a história do modernismo, como é o caso de Bo Bardi. Por essa razão, os trabalhos de Antunes serão realizados especialmente para a exposição que contará também com a publicação de um catálogo, com ensaios inéditos, em português e em inglês.
Gego (título a confirmar)
1º andar - dezembro a março de 2020
Curadoria: Pablo Léon de La Barra, curador-adjunto de arte latino-americana, MASP, Julieta González, diretora artística, Museo Jumex, Cidade do México, e Tanya Barson, curadora-chefe, Museu d’Art Contemporani de Barcelona (MACBA)
O MASP, junto a Fundación Jumex, México, o Museu d’Art Contemporani de Barcelona (MACBA) e a Tate, Londres, que também receberão a mostra, organiza uma grande retrospectiva dos trabalhos de Gego [Gertrude Goldschmidt] (Hamburgo, Alemanha, 1912 - Caracas, Venezuela,1994), uma das artistas mais significativas do pós-guerra a emergir na segunda metade do século 20, na América Latina. Sua produção artística interdisciplinar variou entre a arquitetura, o design, a escultura, o desenho, a impressão, o tecido, as instalações site-specific, as intervenções nos espaços, a arte pública e a pedagogia. Por isso, a mostra vai abranger uma variedade de mídias, desde a metade dos anos 1940 ao começo dos anos 1990, de modo a dar conta da extensa produção da artista.
Formada em engenharia e arquitetura pela Technische Hochschule, em Stuttgart, Gego enfrentou a perseguição nazista em 1939, o que a levou a uma imigração forçada para a Venezuela, onde se tornou pioneira na abstração geométrica e na arte cinética, nas décadas de 1950 e 1960. A artista explorou as relações entre linha, espaço e volume em um ousado e sistemático arranjo tridimensional de esculturas de fios. Posteriormente, suas formas orgânicas, estruturas lineares e abstrações modulares tratavam, metodicamente, de noções de transparência, energia, tensão, relação espacial e movimentação óptica.