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janeiro 10, 2019
Leila Danziger na Caixa Cultural, São Paulo
A exposição individual Navio de Emigrantes de Leila Danziger, em cartaz na Caixa Cultural São Paulo de 15 de janeiro a 31 de março de 2019, com curadoria de Raphael Fonseca e produção de Anderson Eleotério, convida o visitante a uma experiência expandida do espaço do arquivo e tem como ponto de partida memórias da família da artista, ampliando-se na construção de narrativas da memória coletiva e reconfigurações geopolíticas.
A mostra reúne duas grandes séries, intituladas “Navio de Emigrantes” e “Mediterrâneo”. A primeira série parte das listas de passageiros de quatro navios que chegaram ao porto do Rio de Janeiro entre 1935 e 1939, trazendo refugiados do nazismo. O levantamento dos documentos foi desencadeado por lembranças afetivas da artista (o pai e avós de Leila escaparam da Alemanha nazista a bordo do navio Aurigny). A segunda série parte de material encontrado na internet acerca daqueles que nos últimos anos tentam fugir do Oriente Médio e da África, atravessando o Mar Mediterrâneo.
“A pintura ‘Navio de Emigrantes’, de Lasar Segall (c. 1939/41, óleo s/ tela, 230 x 275 cm) que retrata a viagem de famílias ou solitários fugindo, num navio, da guerra, fome e miséria de sua terra natal, é crucial neste projeto”, destaca Raphael Fonseca. “A obra, uma das referências do modernismo, orienta os dois eixos da exposição: um que diz respeito à sobrevivência, o início de uma nova vida em um novo país; e o outro à incerteza, uma vez que os refugiados retratados na pintura encontraram um navio, mas não sabemos se encontrarão um porto”, explica o curador.
Em torno desses eixos, são apresentadas séries de imagens realizadas a partir de operações de apropriação, transferência, deslocamento e ressignificação dos documentos. Segundo a artista, “na exposição busquei construir uma cartografia sensível, a partir da memória dos sobreviventes, assim como, dos vestígios dos náufragos e desaparecidos”.
“Ao se apropriar, deslocar e ressignificar imagens e textos oriundos de arquivos de história, da história da arte e da mídia em geral, a exposição contribui decisivamente para a elaboração de novas narrativas históricas, baseadas em horizontes locais, mas pensadas a partir da nova configuração geopolítica internacional”, avalia o curador.
Apresentando a produção mais recente de Leila Danziger, em diálogo com a obra de Lasar Segall, a mostra "Navio de Emigrantes" atesta a atualidade do artista (falecido em agosto de 1957), evidenciando e rendendo homenagem aos 60 anos de sua morte. Em seu processo de trabalho, Leila desenvolve ações de inscrição e apagamento, tendo a página impressa e o documento histórico no centro de sua produção artística, orientada pela interface entre arte e história desde a década de 1990. Com 25 anos de produção ininterrupta, a artista assume a escrita da história, consciente de que esta tarefa não cabe apenas ao historiador, mas também ao artista.
"Navio de Emigrantes", ao propor o cruzamento entre presente e passado, reforça a dimensão histórica dos fatos recentes e contribui para que o visitante seja especialmente sensibilizado para uma importante reflexão sobre as políticas da memória na contemporaneidade e contribui para o conhecimento da história da arte no Brasil.
Com patrocínio integral da Caixa e produção da Adupla Produção Cultural, a exposição apresenta um conjunto inédito de obras gráficas e vídeos construindo uma narrativa visual em que imagem e palavra (escrita e sonora) problematizam-se mutuamente. A exposição conta também com duas gravuras da série “Emigrantes” de Lasar Segall, reimpressas pelo Museu Lasar Segall, São Paulo, reforçando o diálogo da artista com a obra do modernista lituano-brasileiro.
SOBRE A ARTISTA
Leila Danziger – Artista visual, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pesquisadora do CNPq. Graduou-se em Artes pelo Institut d’Arts Visuels, Orléans, França. Doutora em História, PUC-Rio, com pós-doutorado na Bezalel Academy of Arts and Design Jerusalém, Israel. Ultimas mostras: “Ao sul do futuro” (individual), Museu Lasar Segall, São Paulo (2018); “Hiatus”, Memorial da Resistência, São Paulo (2017); “Livres uniks, Topographie de l’art”, Paris (2017); “Mémoire des livres”, Galerie Dix9, Paris (2016); “ComPosições Políticas”, Centro de Arte Hélio Oiticica, RJ (2016); “Asas a raízes”, CAIXA Cultural Rio de Janeiro (2015); “Há escolas que são gaiolas e há escolas são asas”, MAR, RJ (2014); “O que desaparece, o que resiste” (individual), Funarte BH (2014).