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dezembro 11, 2018
Ronaldo do Rego Macedo no Paço Imperial, Rio de Janeiro
Ronaldo do Rego Macedo apresenta 40 pinturas inéditas em óleo sobre tela e sobre papel na individual, intitulada Fissão][Tectônica, um segmento de sua produção dos anos 2010, que ocupa três salas do Paço Imperial, sob curadoria de Sonia Salcedo Del Castillo.
[Fissão = (Física nuclear) Divisão de um núcleo de átomo pesado em dois ou vários fragmentos, determinada por um bombardeamento de nêutrons, e que liberta uma enorme quantidade de energia e vários nêutrons]
A mostra reúne trabalhos abstratos de dimensões que variam de três metros a 30cm de lado. As telas menores se organizam em mosaicos na montagem da exposição. Completam o circuito vitrines com esculturas em aço corten de pequenos formatos e com dezenas de estudos para as obras em exibição.
A pintura recente do artista carioca, professor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, é a continuidade de uma pesquisa de décadas, em que a cor constitui pura presença física e a obra não se refere a qualquer objeto extra-plástico. Cores vibrantes e criadas pelo artista, como azuis, vermelhos e roxos, são “soterradas” por camadas muito espessas de tinta a óleo de tons de branco variados, aplicadas com pincel, trincha, vassoura ou a mão diretamente. Nas telas grandes e pequenas, há vestígios das camadas de cor implacavelmente cobertas pelos brancos, nos quais a marca das “pinceladas” se faz evidente.
Em algumas pinturas aparecem frases, palavras soltas e grafismos, mais legíveis ou ilegíveis mesmo, que tendem à invisibilidade. Ronaldo do Rego Macedo diz que “não são para serem lidos facilmente ou nem serem lidos. São propositalmente fugidios, diferentes dos graffiti de um Cy Twombly ou Basquiat que são afirmativos, são mensagens decifráveis prontamente”.
“Estou sempre girando em torno do tema da invisibilidade, do silêncio, do vazio. Sempre há algo que nunca se revela inteiramente, fica à sombra […]. A pintura vem para a frente, ela quer nos abraçar, mas há alguma coisa que chama atenção para o que é fluido e recessivo. O título, quando aparece inscrito na pintura, […] é, muitas vezes, é um signo vazio, que nada significa, ainda bem. E que tem sempre um apagamento, que contradiz essa presença da área pintada”, entrega Rego Macedo.
Sobre o apagamento a que o artista se refere, curadora Sonia Salcedo Del Castillo abre assim o texto de apresentação da mostra: “Embora Ronaldo do Rego Macedo aspire ao desaparecimento, em sua virtuosa poética pictórica – interessada na invisibilidade do silêncio, do vazio... –, o vigor impresso à fatura de suas telas resulta em espaço e presença pulsantes. Há nela tal frescor que, por vezes, parece sugerir sabor à sua pintura.”
Não por outro motivo ela intitulou o texto “ ... tão vivas que até dá vontade de comê-las”.
Ronaldo do Rego Macedo [Rio de Janeiro, 1950] fez sua primeira individual aos 23 anos no Rio, à qual se seguiram outras 12 em capitais brasileiras. Desde os 19 anos participa de coletivas no Brasil e Montevideu, Buenos Aires, Cidade do México, Toronto, Pully [Suíça], Viena e Linz [Áustria], Paris, Bruxelas, Cairo, Rabat e Tóquio.
O artista esteve na Bienal Internacional de São Paulo de 1973 e de 1987, quando ganhou Sala Especial, e no Salão Nacional de Arte Moderna de 1972 e 1973. Sua pintura está nas coleções particulares de Gilberto Chateaubriand, João Sattamini e nos acervos do MAM Rio e do Museu Nacional de Belas Artes (RJ). Seu mestre foi Aluisio Carvão, com quem estudou três anos no MAM Rio. Foi ainda aluno de Lygia Pape e Cildo Meireles também no MAM Rio.