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dezembro 10, 2018
Isaque Pinheiro + Roberto Freitas na dotArt, Belo Horizonte
NOTA DE ESCLARECIMENTO
A dotART galeria comunica com pesar que a maior parte das obras do artista Isaque Pinheiro, da exposição “AcorDo Rei”, inaugurada no último sábado (1°), foram furtadas quando estavam sendo trazidas do Rio de Janeiro para Belo Horizonte. O caminhão que transportava as obras foi abordado na altura de Belford Roxo e encontrado pela polícia vazio, horas depois, no Complexo do Chapadão, no Rio de Janeiro. Foram furtadas mais de 50 obras que passaram pelo Paço Imperial em setembro, com grande sucesso de público e crítica. Na exposição da dotART ficaram duas obras da mesma série, que o artista produziu especialmente para a galeria, além de seis obras que não entraram na mostra do Paço, por serem de um porte maior que o espaço comportava. Foi uma exposição belíssima e acabou se tornando efêmera. As obras que sobraram dão a dimensão da série e se tornaram, com este fato, ainda mais importantes. A mostra “Desejo de preto ou como desafinar o coro dos contentes”, de Roberto Freitas, segue em exposição na íntegra.
Observação: A dotART galeria pede, ainda, que caso alguém veja ou saiba o paradeiro das obras, que comunique imediatamente à direção por e-mail.
Cartas de baralho em madeira, esculturas flutuantes e pinturas contemporâneas. Esses são alguns dos elementos das duas novas exposições da dotART galeria, ambas com abertura marcada para 1° de dezembro e com temáticas politizadas: AcorDo Rei, do artista português Isaque Pinheiro; e Desejo de preto ou como desafinar o coro dos contentes, do portenho Roberto Freitas, que vive e trabalha em Belo Horizonte. A visitação gratuita acontece até 19 de março.
Idealizada e produzida para o Paço Imperial, no Rio de Janeiro, e com curadoria de Marcelo Campos, “AcorDo Rei” marca a estreia de Isaque Pinheiro em Belo Horizonte, cidade que, nas palavras dele, “faz parte do mapa da arte contemporânea”. Ambientada na galeria 2, a mostra traz cerca de 60 peças inéditas, entre esculturas e xilogravuras em cedro, que representam o “Rei”, a valiosa carta de baralho. Ele é o pretexto para provocar reflexões sobre o poder, a verticalidade dos signos, a imposição e a rarefação da legitimidade das autoridades. Imperfeita, a imagem nunca se apresenta por completo nas representações do artista, à exceção de uma, marcada por uma dobra, como se estivesse desgastada pelo tempo. Não se pode desprezar também a natureza geométrica da exposição, um caráter modernista para imagens medievais.
“Ao olhar para a imagem de um rei numa carta de jogo, compreendo que é composta de várias cores. Ao separar cada uma dessas cores, consigo entender melhor o espaço que cada uma delas ocupa no todo. Quando volto a juntá-las, se uma delas não estiver presente, tenho noção da sua falta, de como seria se lá estivesse. Tudo isto pode ser visto como links entre o poder de conseguir ver as coisas e a arte de conseguir gerar dúvida, inquietação, provocar discussão e, talvez, tirar conclusões. Só quando todas as cores políticas estão presentes no mesmo universo e se relacionam é que poderemos ambicionar ter um governante ou um governo pleno”, pondera o artista. “AcorDo Rei” também fabrica metáforas relacionadas às cores e aos naipes das cartas: o branco e o negro incitam o público a pensar em conceitos de etnia, enquanto o naipe de paus, escolhido pelo artista, se aproxima da classe dos trabalhadores.
Na galeria 1, a mostra “Desejo de preto ou como desafinar o coro dos contentes” exibe mais de 50 pinturas, desenhos e esculturas inéditos de Roberto Freitas. Com curadoria de Wilson Lazaro, a exposição reúne parte da produção do artista ao longo de 2018, um flerte com a cisão social provocada pelo complexo contexto político brasileiro. “‘Desejo de preto’ flerta com as vozes dissonantes, que desejam, pela via da poesia, corroborar com gritos silenciosos de um mundo cindido. As pinturas e esculturas foram pouco a pouco ficando mais espessas e negras. Mas não que eu ache que a crise em que entramos seja negra. Ao contrário, é uma crise de representação dos brancos de classe média”, descreve Freitas.
Há um ano e meio trabalhando para esta mostra, Freitas exibe pinturas pela primeira vez. Contudo, ele diz que não ver muita diferença entre a linguagem pictórica e a da escultura, já que, para o artista, a tela não é sobre representação e, sim, uma apresentação, um gesto quase performático. “Meu procedimento em arte é um exercício real de liberdade, na perspectiva que o ato de produzir é espiritual, meditativo e sistemático. Como arte e vida são confusamente misturados para mim, inevitavelmente medito no trabalho sobre estar no mundo e sobre o mundo que me contém”, declara. Nesse sentido metafísico, a exposição também trará esculturas sonoras, criando uma poética do ilusionismo e de surpresa.
Isaque Pinheiro nasceu em Lisboa, em 1972, e vive no Porto. O artista trabalha com esculturas e faz uso de objetos do cotidiano descontextualizados – o princípio do ready made –, sempre guiado pelo ofício, pelo domínio das formas e do material e por uma novidade na hora de manipular referências e assumir a história conceitual e expandida da escultura moderna. Tem no currículo exposições individuais no Paço Imperial (Rio de Janeiro, RJ), Galeria Presença (Porto, Portugal), Galeria Caroline Pagès (Lisboa, Portugal), Galeria Mário Sequeira (Braga, Portugal), Galeria Esther Montoriol (Barcelona, Espanha), Galeria Marsiaj Tempo (Rio de Janeiro, RJ), Galeria Ybakatu (Curitiba, PR), entre outras. Também participou de diversas coletivas, a exemplo do Museu Stenersen (Oslo, Noruega), Centro Galego de Arte Contemporânea (Santiago de Compostela, Espanha) e Caixa Cultural Rio de Janeiro (RJ). Suas obras estão em importantes coleções, como a Coleção de Arte Fundação EDP (Lisboa), a Fundação Edson Queiroz (Fortaleza, CE) e acervos privados em Portugal, Brasil, Austrália, Espanha, Dinamarca, França e Bélgica.
Roberto Freitas nasceu em Buenos Aires, em 1977, e vive e trabalha em Belo Horizonte (MG). Artista desde 2002, produz trabalhos que flertam livremente entre problemáticas típicas de linguagens como cinema, dança, música, escultura, performance, desenho e pintura. Tem bacharelado em Artes Plásticas e mestrado em Teoria da Arte, ambos realizados na Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc). Entre 2003 e 2008, geriu a Arco, um espaço dedicado a exposições de arte contemporânea, em Florianópolis (SC). Tem no currículo exposições individuais no Sesc Palladium (Belo Horizonte), no Sesc Pompeia (São Paulo, SP), na Galeria Virgílio (São Paulo), no MIS Campinas (SP), no MIS Santa Catarina (Florianópolis), no Museu Victor Meirelles (Florianópolis), entre outros. Também participou de coletivas na Espanha, na Argentina, no Uruguai, no Chile, na Venezuela, no Peru, na Colômbia, na Sérvia, no México e em outros países. Conquistou prêmios como o Rumos Itaú 2015-2016, o Elisabete Anderle Artes Visuais 2015 e o Projeto Redes Artes Visuais Funarte 2014. Fez residências na Sérvia, no México, na Dinamarca, na Argentina e no Brasil, como o Red Bull Station e o JA.CA – Centro de Arte e Tecnologia.