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dezembro 10, 2018
A frente e o verso do olho na Ecarta, Porto Alegre
Galeria Ecarta recebe última exposição do ano: Imagens, desenhos, pinturas e instalações compõem o sexto projeto expositivo do ano selecionado por edital. A abertura conta com audiodescrição.
Na quinta-feira (13.12), a exposição A frente e o verso do olho ganha abertura na Galeria Ecarta. Os artistas Carlos Donaduzzi, Elias Maroso e Emanuel Monteiro propõem diferir da ideia de buscar nas imagens um avesso capaz de restituir um verdadeiro sentido ao que se vê. A mostra foi selecionada em edital e tem curadoria de Paula Luersen. A abertura acontece às 19h com audiodescrição, recurso dimensionado de forma poética para ser compreendido como parte da proposta.
A exposição parte dos escritos do romancista austríaco Robert Musil, autor que situa a imagem como um fremir de pálpebras, isto é, vibrações que tomam o pensamento por trás dos olhos fechados. Tal qual a reflexão sobre a linguagem inaudível que figura nos livros de Musil, o projeto expositivo trata das fronteiras entre o pensamento e sua fixação. “Mostrar que imagens realizadas podem guardar apenas de longe as feições do que as motiva e, ao mesmo tempo, continuar a ser pensamento em ato”, constatam os artistas.
De acordo com eles, não se trata de revelar o que está por trás das imagens. “O significado subjacente, o não dito velado pela aparência das coisas. O que se quer ao considerar as imagens pelo avesso do olho, é tratar do que ocupa o pensamento quando este se faz imagem, além do que não se fixa, e continua a restar para além do que se resolve em imagem”, refletem.
O trabalho de Elias Maroso revela que no confinamento dos objetos em espaço artístico, há imagens e forças capazes de atravessar paredes. Maroso parte das paredes da Ecarta e busca formas de transpor os limites do próprio recinto, projetando quebraduras e sinalizações, além de construir dispositivos que emitem energia eletromagnética que cruzam as paredes. “A arte não está apenas em um tipo de lugar e não se restringe aos espaços de exposição. Não se trata apenas de mostrar imagens e, sim, de produzir fenômenos do atravessamento”, ressalta.
O espaço imediato em que se dá a relação com telas de telefones, computadores e outros dispositivos é retratado por Carlos Donaduzzi. As imagens abordam a textura invisível e impregnada de silêncio que perpassa as ações nas redes. “Vídeo e fotos sublinham gestos mínimos, deixando dúvidas no que se desenrola à frente ou no verso dos olhos em cada cena retratada, concentrando a percepção do que se fixa e se perde no entorno das telas”, explica.
O artista Emanuel Monteiro trabalha as relações entre imagem e memória na produção de paisagens em desenho, pintura, livro de artista e instalações. “Recorro com frequência a materiais de origem orgânica e mineral na tentativa de evocar sensações táteis, somados ao uso da palavra escrita. A partir de fragmentos na construção de uma espécie de teatro da memória, as palavras, imagens e artefatos têm um lugar incerto, ambíguo e precário”, avalia.
A audiodescrição será transmitida dentro e fora da Ecarta, em um perímetro de 20 metros. O acesso é por aparelho de rádio sintonizado na faixa 88.8 FM. Os dispositivos desenvolvidos pelo artista Elias Maroso são dimensionados para destacar o não visível da imagem, além de entender a arte como força que não é restrita aos limites físicos e disciplinares dos lugares especializados.
A mostra faz parte do edital de seleção da Ecarta que contou com comissão julgadora formada por Francisco Dalcol, Mônica Zielinsky e Vera Pellin. A visitação é gratuita e encerra em 26 de janeiro na Ecarta (av. João Pessoa, 943).
Um pouco mais sobre os artistas e o local
Emanuel Monteiro (Londrina/PR, 1988) - artista visual e professor no curso de Artes Visuais, da UFPR. Está no doutorando em Artes Visuais pela Ufrgs e conquistou o 4° Prêmio Incentivo à produção de Artes Visuais do RS e o 13° Salão Nacional de Arte de Jataí, em Jataí (Goiás).
Elias Maroso (Sarandi/RS, 1985) - artista visual e doutorando em Artes Visuais pela Ufrgs. Desenvolve pesquisa individual em artes visuais voltada ao desenho artístico, objeto e intervenção. É um dos fundadores e atua como gestor e artista na Sala Dobradiça, em Santa Maria. Participou em duas edições da Bienal do Mercosul e realizou exposições em Porto Alegre, Florianópolis, São Paulo, além de Montevidéu e Maldonado (Uruguai), Viseu (Portugal) e em Florença (Itália).
Carlos Donaduzzi (Santa Maria/RS, 1989) - artista visual e doutorando em Artes Visuais pela Ufrgs. Foi premiado no Salão Latino-Americano de Artes Plásticas, promovido pelo Museu de Arte de Santa Maria, em 2014, com menção honrosa no mesmo evento em 2017. Há oito anos, participa de exposições coletivas e individuais em Porto Alegre, Florianópolis, Brasília, São Paulo e Montevidéu com trabalhos em fotografia e vídeo.
Paula Luersen (Três de Maio/RS, 1988) – pesquisadora e doutora em Artes Visuais. Atuou na coordenação do espaço Quiosque da Cultura, em Gravataí (RS), onde deu início ao Prêmio de Incentivo à Produção em Artes Visuais. Foi mediadora em bienais e em outros eventos de arte contemporânea. Conta com artigo na revista Arte & Ensaio e tem participação no livro Outro ponto de vista.
Galeria Ecarta – dedicada à arte contemporânea e à experimentação produzida no Rio Grande do Sul. Completou 13 anos recebendo, em média, seis exposições anuais. Promove também itinerâncias, laboratórios de curadoria e montagem, entre outras atividades próprias e em parceria com instituições de âmbito local, regional e nacional. A coordenação é do artista, curador e gestor cultural, André Venzon.