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dezembro 5, 2018
Alice Vinagre no Mamam, Recife
Depois de sete anos sem realizar uma individual no Recife, artista ocupa o museu com a exposição Com olhos de náufrago ou onde fica o próximo porto
No próximo dia 6 de dezembro, às 19h, Alice Vinagre inaugura a exposição Com olhos de náufrago ou onde fica o próximo porto, no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães. Com curadoria de Julya Vasconcelos, a mostra reúne mais de 30 trabalhos, que vão desde telas pintadas durante as décadas de 1980 e 1990, até produções recentes, algumas pensadas especialmente para a exposição. Além de pinturas, Alice também exibe fotografias, um vídeo e duas instalações, sendo uma delas inédita. Esta é a 14ª exposição solo da artista, que não faz uma individual em Recife desde 2011.
O título da mostra, escolhido pela artista, também batiza um dos trabalhos em exposição. Segundo Alice - em referência ao trabalho, que retrata um pequeno barco navegando um mar agitado - “a imagem desse barco no mar revolto fala de uma jornada espiritual, o risco da busca pelas terras desconhecidas”, evocando as ideias da monja budista Pema Chödrön, uma de suas referências. “O risco do naufrágio como metáfora da busca espiritual e do náufrago como uma espécie de alegoria da condição humana é um dos eixos possíveis de leitura da exposição, e também o naufrágio em seu sentido prosaico, de afundamento nas águas, e as sensações e imagens que podem se despregar daí. Há um maciço uso dos translúcidos, do espaço vazio, do azul, dos barulhos e dos silêncios, que remetem a esse significado”, explica a curadora.
A exposição se estrutura em dois momentos. O primeiro, que se inicia no grande salão térreo, é uma espécie de preâmbulo, um passeio pela obra mais explosiva e colorida de Alice. Nesse primeiro momento, que opera um recorte de trabalhos mais antigos da artista, estão concentradas produções dos anos 80, 90 e começo de 2000. Muitos destes trabalhos não são expostos há décadas, e alguns nunca foram vistos pelo público recifense. “São trabalhos que tem uma presença em termos de cor e de ruído. São mais barulhentos. Alguns remetem ao grafite, à charge, ao rabisco, a movimentos espontâneos”, explica a artista.
Depois dessa introdução, toda a exposição passa a trafegar por um fio condutor que remete sempre à fluidez, à agua, ao silêncio, ao mar. Aqui estão sobretudo as obras mais recentes de Alice, que vem desenvolvendo uma longa série que tem a água como elemento central e o uso do azul como recurso expressivo. O vídeo, feito com filmagens de uma câmera de celular, e mostrado apenas uma vez em João Pessoa, dialoga fortemente com a instalação que toma o primeiro andar do museu. A artista também expõe algumas referências literárias e filosóficas nas paredes do último andar do espaço, como forma de abrir o universo criativo e processual dos trabalhos.