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novembro 18, 2018
Laercio Redondo na Pinacoteca, São Paulo
Coleção de arte brasileira da Pinacoteca recebe nova interpretação em exposição de Laercio Redondo
O artista cria uma instalação sensorial no Octógono e intervém junto a obras de quinze artistas, incluindo Anita Malfatti, Almeida Júnior, Claudia Andujar, Maria Martins, entre outros, propondo novas leituras da arte brasileira
A Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, apresenta, de 24 de novembro de 2018 até 25 de fevereiro de 2019, a exposição Laercio Redondo: Relance, que ocupa os espaços do Octógono e também da exposição de longa duração do acervo no primeiro andar da Pinacoteca. Com curadoria de Fernanda Pitta, curadora sênior do museu, e consultoria curatorial da historiadora da arte norte-americana Kaira M. Cabañas, a mostra propõe investigar outras possíveis interpretações das narrativas da história do Brasil, contadas através da coleção do museu, a partir da experiência olfativa.
A prática do artista Laercio Redondo, que vive entre a Suécia e o Brasil, desde há muito se detém sobre imagens da memória coletiva e sobre certos apagamentos na cultura brasileira. Para o Projeto Octógono, o paranaense explora as potencialidades de uma anedota do artista Estevão Silva (c.1844-1891) – o primeiro pintor de ascendência africana a frequentar a Academia Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro –, que se valia do recurso de apresentar suas pinturas de natureza-morta, juntamente com as frutas representadas, de modo que seus odores também fizessem parte da percepção do observador.
Tal estratégia sugeriu a Redondo uma maneira de propor uma intervenção que explorasse outras possibilidades da experiência do objeto artístico para além do visual. Esta resultou na proposta de uma intervenção no Octógono que dá início a um percurso pela coleção do museu em que o público vai encontrar displays posicionados estrategicamente próximos a obras de Anita Malfatti, Almeida Júnior, Claudia Andujar, Maria Martins, entre outros, contendo cartões com odores. Tais acordes olfativos foram desenvolvidos através de uma parceria entra a curadoria da Pinacoteca e a casa de fragrâncias alemã, Drom Fragrances, criados pelos perfumistas Cleber Bozzi e Luis Paulo Natividade, com a direção olfativa de Matthieu Ferreira, Renata Abelin e Kelly Medeiros que integram o time de fragrâncias e a área criativa da empresa.
A curadora da mostra comenta que “o odor está neste trabalho de Laercio Redondo como um ponto de partida para o desenrolar de histórias de rastros, restos, apagamentos e retornos”, explicando assim que “o privilégio dado ao sentido do olfato é uma estratégia de ativação, de libertação, de outras memórias, permitindo outras interpretações. Redondo, que sempre tem trabalhado com procedimentos de erosão, de revolvimento e reconfiguração das imagens, desta vez estende ao limite a sua iconoclastia, numa atitude que lhe pareceu necessária para de certa maneira escapar ao poder normalizador das imagens”.
Em Relance, que empresta seu título da canção de Caetano Veloso, o artista busca provocar um desvio crítico do valor simbólico e dos significados comumente atribuídos a algumas obras do acervo. “A aposta, portanto, é de que o cheiro revolva a memória do espectador, produza um embaralhamento e ative uma experiência histórica que transforme a percepção do presente, confrontando seus apagamentos, explicitados pelas imagens”, afirma Pitta. A estratégia visa a abrir a possibilidade, a partir da inversão destes sentidos, de novas interpretações, bem como apontar lacunas nas narrativas do Brasil a partir da coleção do museu.
PROJETO OCTÓGONO
Criado em 2003, o projeto Octógono Arte Contemporânea ocupa um espaço importante do museu, apresentando produções de arte contemporânea comissionadas pelo museu. Ao longo desses 15 anos, o projeto apresentou cerca de 40 site-specifics de artistas brasileiros e estrangeiros, entre eles Ana Maria Tavares, Artur Lescher, Carla Zaccagnini, Carlito Carvalhosa, Joana Vasconcelos, João Loureiro, José Spaniol, Laura Vinci, Regina Silveira, Rubens Mano, Laura Lima, entre outros.
SOBRE O ARTISTA
Laercio Redondo nasceu em Paranavaí, PR, em 1967 e vive e trabalha entre o Rio de Janeiro, RJ, e Estocolmo, Suécia. Terminou sua pós-graduação na Konstfack, University College of Art, Crafts and Design, em Estocolmo, Suécia, e realizou exposições individuais em espaços importantes como Dallas Contemporary (2016); Ana Mas Projects, Barcelona (2016); Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (2015); Die Raum em Berlim (2014), entre outros. Exposições coletivas incluem a Bienal de Cuenca (2018); Tarsila e Mulheres Modernas no Rio (2015) e Josephine Baker e Le Corbusier no Rio – Um caso transatlântico (2014), ambas no Museu de Arte do Rio de Janeiro; Idea di Frattura – Opinione Latina / 2, Galleria Francesca Minini, Milão (2014); Amor e ódio à Lygia Clark, Zachęta National Gallery of Art, Varsóvia (2013); The right to the city, Stedelijk Museum Bureau, Amsterdam (2013); O interior está no exterior, SESC Pompéia, São Paulo (2013); Bananas is my Business: The South American way, Museu Carmen Miranda, Rio de Janeiro (2011); Leibesübungen – Vom Tun und Lassen in der Kunst, Galerie der Hochschule für Bildende Künste, Braunschweig (2008); Bienal do Mercosul, Porto Alegre (2008); entre outras.