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novembro 15, 2018
Virginia de Medeiros na Casa Porto das Artes Plásticas, Vitória
A artista visual Virginia de Medeiros apresenta, de 20 de novembro de 2018 a 6 de janeiro de 2019, a exposição Studio Butterfly e outras fábulas, na Casa Porto das Artes Plásticas, em Vitória/ES. Contemplada pelo Prêmio Funarte Conexão Circulação Artes Visuais, promovido pelo o Ministério da Cultura e pela Fundação Nacional de Artes (Funarte), a mostra apresenta instalações, vídeos e fotografias na criação de narrativas que lançam um olhar surpreendente sobre histórias reais. O trabalho da artista baiana converge estratégias documentais para ir além do testemunho, questionando os limites entre realidade e ficção. A curadoria é assinada por Moacir dos Anjos. A visitação acontece de terça a sexta-feira, das 13h às 19h, e aos sábados, das 10h às 14h, com entrada gratuita. Na abertura, a partir das 19h, haverá bate papo e visita guiada com a artista. A classificação indicativa é de 16 anos.
A exposição “Studio Butterfly e outras fábulas”, que contém cenas de nudez, reúne quatro obras: “Studio Butterfly” (2003-2006), “Cais do corpo” (2015), “Manilas Bar – Casa da Marinalva” (2014), e “Sergio e Simone # 2” (2007-2014). Segundo a artista, os pilares dos seus trabalhos são sexualidade, gênero e religião. As obras apresentam uma perspectiva do encontro com o outro e do aprofundamento dessa vivência que exige uma intensa troca de referências e de afetos. “Meu trabalho fala de políticas do afeto e de economia do cuidado. É o que me move”, explica a artista. Partindo desse pressuposto, Virginia se lança a encontrar novos modos de ler a realidade e de estar atenta para as representações descuidadas que são criadas a respeito dela. Sendo assim, a artista mergulha, se envolve e participa das vidas das pessoas e das cidades com quem convive.
Para a realização da obra “Studio Butterfly”, que dá nome à exposição, a artista se dedicou por três anos ao estabelecer uma relação com várias travestis de Salvador. A vídeoinstalação apresenta o registro de testemunhos dados por várias das travestis em visita ao estúdio fotográfico montado por Virginia para acolhê-las. São depoimentos permeados por lembranças das fronteiras entre o masculino e o feminino. Em retribuição à cessão de imagens das travestis, a artista produziu books para cada uma delas. Ladeando a exibição do vídeo, projeções sequenciadas de fotografias retiradas desses books e de álbuns pessoais das travestis são instaladas: imagens das mesmas pessoas, mas feitas em condições e momentos distintos.
Já “Sergio e Simone # 2” reforça o baralhamento de gêneros sugerido na obra anterior e acrescenta, na tessitura fluida de imagens filmadas pela artista, ambiguidades identitárias que desconcertam e ensinam. O trabalho mostra, em telas distintas que por vezes se atravessam, depoimentos de duas personagens que são, ao final, uma pessoa apenas. Simone, uma travesti que tomava conta de uma fonte pública na Ladeira da Montanha, em Salvador, foi foco de Virginia em um primeiro momento. No entanto, após um delírio místico causado por overdose de crack, Simone decide abandonar a fonte. Volta para a casa dos pais, reassume seu nome de batismo, Sérgio, e se torna pregador evangélico, renegando a vida que antes levava, denunciando-a como provação de sua nova fé. A partir de então, a artista passa a filmar Sérgio, cujo comportamento parece conflitar em quase tudo com o de Simone, da sexualidade declarada às religiões que um e outro professam.
A terceira obra separa solidão e partilha, calmaria e desassossego, transgressão e obediência, entre outros pares de estados e fazeres tantas vezes distinguidos de modo artificial. Formada por um vídeo e quatro fotografias, “Manilas Bar – Casa da Marinalva” é um trabalho que foi comissionado pelo Museu de Arte do Rio (MAR). “A obra retrata o bordel de Marinalva, seu fechamento e o desaparecimento dessas pessoas e desses espaços de resistência. Mostra o processo de gentrificação, de higienização humana e de como não são pensados projetos sociais para inclusão daquelas pessoas que já ocupavam os locais”, conta Virginia.
A quarta e mais recente obra apresentada nesta exposição é “Cais do Porto”. Feita a partir de imagens e falas de prostitutas que vivem e trabalham no entorno da Praça Mauá, zona portuária do Rio de Janeiro, a obra mostra o local que foi objeto de radical intervenção urbanística na última década. Em comum com o trabalho anterior, há a vontade de registrar um tipo de vida em progressivo desmanche, dessa vez claramente acelerado pelo processo de gentrificação causado pelas mudanças implementadas na região. Em seus depoimentos, as prostitutas denunciam os mecanismos explícitos e velados de expulsão de um território. As falas das prostitutas são acompanhadas por imagens de corpos seminus que dançam e afirmam, em sensualidade contida ou aberto erotismo, a vontade de confrontar e resistir às forças que as querem regular.
Itinerância – Antes da temporada em Vitória, a exposição “Studio Butterfly e outras fábulas” esteve em cartaz em Brasília, na Galeria Fayga Ostrower, de 31 de agosto a 14 de outubro de 2018. A itinerância da mostra integra o Prêmio Funarte Conexão Circulação Artes Visuais, promovido pelo o Ministério da Cultura e pela Funarte.
Virginia de Medeiros é artista visual e educadora, Mestre em Artes Visuais pela Escola de Belas Artes-UFBA. Ao longo de sua trajetória realizou cerca de 60 exposições nacionais e internacionais, entre elas: 2017-2018: História da Sexualidade, MASP [São Paulo, SP]; 2017: Jogja Biennale XIV, Yogyakarta, Indonésia; 2016: La réplica Infiel, Centro de Arte 2 de Mayo [Madri, Espanha]; 2015: Rainbow in the dark: no joy e tormento of Faith, Malmö Konstmuseum [Malmö, Suécia]; 2014: Salón de Belleza [Beauty Salon], Utopian Pulse - Flares in the Darkroom [Viena, Áustria]; 2014: 31ª Bienal de São Paulo: como (...) coisas que não existem. Pavilhão da Bienal [São Paulo, SP]; 2006: 27ª Bienal Internacional de São Paulo Como Viver Junto, Pavilhão da Bienal [São Paulo, SP], entre outras. Em 2015, ganhou o Prêmio PIPA voto popular e júri; foi artista premiada na 5ª Edição Prêmio Marcantonio Vilaça CNI / Sesi / Senai. Como educadora ministrou inúmeras oficinas em instituição de Arte e Fundações como Associação Cultural Videobrasil [São Paulo, SP], Universidade Federal da Bahia [Salvador, BA], Escola de Arte Visuais Parque Lage [Rio de Janeiro, RJ], Universidade Federal de Ciências da saúde de Porto Alegre [Porto Alegre, RS], Museu de Arte do Rio de Janeiro – MAR [Rio de Janeiro, RJ], Museu de Arte Contemporânea – MAC/USP [São Paulo, SP], entre outras. Foi Coordenadora do Curso de Pós-Graduação em Artes Visuais: Cultura e Criação da Rede-EAD, SENAC, Bahia [2008/2009] e Professora Substituta do Departamento de História da Arte e Pintura na Escola de Belas Artes – UFBA, também em Salvador [BA].