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novembro 15, 2018
Zé Carlos Garcia na Cassia Bomeny, Rio de Janeiro
Artista apresentará, na Cassia Bomeny Galeria, trabalhos inéditos, produzidos este ano, com penas, madeira e couro, em um diálogo da arte com a antropologia e a história do Brasil
Cassia Bomeny Galeria inaugura, no dia 21 de novembro, a exposição Torto, com obras inéditas de Zé Carlos Garcia, artista sergipano radicado no Rio de Janeiro, que tem tido destaque internacional, com exposições, este ano, na Fundação Prada, em Milão, e na Bienal de Busan, na Coreia do Sul. Com curadoria de Paula Borghi, serão apresentados 13 pares de esculturas, em um total de 26 obras, produzidas este ano, em uma nova pesquisa, na qual o artista dá continuidade à utilização de penas de animais, como vem fazendo desde 2004. A exposição será acompanhada de um livro, com 33 páginas, texto da curadora Paula Borghi e fotos de Mario Grisolli, que mostram o processo de trabalho do artista.
“A produção de Zé Garcia nos sugere pensar as artes visuais em diálogo com a antropologia e a história nacional. Entretanto, isso não significa que Garcia seja um artista etnógrafo ou historiador, pelo contrário, sua produção abre espaço para uma nova percepção dos estudos originários e contemporâneos ao encontro da emoção e da crítica nas artes visuais. São trabalhos que traçam reflexões acerca de conceitos que envolvem as relações entre natureza e cultura no campo da subjetividade antropológica e da potência poética”, diz a curadora Paula Borghi.
Nas obras da exposição, Zé Carlos Garcia apresenta uma redefinição da noção moderna de escultura, retirando-lhe o sentido de volume estático, presente na linguagem ao longo da história da arte, e atribuindo-lhe organicidade e dinamismo através da arte plumária. Na exposição, as obras serão apresentadas em pares. Cada dupla terá o mesmo formato e tamanho, sendo uma escultura feita com penas e outra em couro, com uma lança em madeira, esculpida por ele. Ao utilizar a madeira, o artista apropria-se de itens de mobiliário doméstico, alterando sua função tradicional e agregando a escultura um aspecto híbrido.
“Como a plumagem, a madeira e o couro também constituem os elementos originários das esculturas aqui presentes, logo, das culturas originárias brasileiras e da cultura hegemônica. Pois, se por um lado se pode pensar a plumagem como adorno, o couro como atributos corporais e a madeira como a representação da floresta, por outro, esses mesmos elementos podem ser lidos como ícones do carnaval, do ruralismo e da estratificação. São materiais naturais com representações simbólicas extremamente determinantes para o entendimento e a construção da(s) cultura(s) brasileira(s), tanto em seu sentido hegemônico, como plural (de entender a diversidade dos povos indígenas)”, ressalta a curadora Paula Borghi.
Diferentemente dos trabalhos anteriores, as novas esculturas não têm uma relação direta com a anatomia dos pássaros, apesar de remeterem a eles pelo uso das penas. Daí o nome da exposição, “Torto”. “Não é um corpo real, são volumes, é a abstração em si; não é um pássaro, são corpos tortos. Os materiais continuam os mesmo, mas mudam as anatomias, que não são mais visíveis. São corpos que estão fora do padrão e este trabalho tem a ver com a negação do diferente”, conta o artista.
Zé Carlos Garcia sempre foi fascinado pela arte plumária indígena desde criança, não só com a beleza do material, mas com a longa duração. As penas utilizadas pelo artista são verdadeiras, de animais como pássaros, galos, avestruzes, entre outros, que foram usados para abate em fazendas certificadas, que criam animais para este fim. As peças possuem, além de certificação, um laudo veterinário.
SOBRE O ARTISTA
Zé Carlos Garcia (Aracaju, 1973. Vive e trabalha no Rio de Janeiro) estudou escultura na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro e frequentou a Escola de Artes Visuais do Parque Laje.
Dentre suas exposições individuais estão: “Tropical” (2017), no Espaço Saracura, Rio de Janeiro; “Do pó ao pó” (2017), no Museu da República, Rio de Janeiro; “Prumo” (2015), no Memorial Meyer Filho, em Florianópolis; “Jogo” (2014), no Centro de Arte Hélio Oiticica, Rio de Janeiro; PET (2012), no Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto, Rio de Janeiro, entre outras.
Suas exposições coletivas mais recentes foram: “Busan Biennale” (2018), no The former Bank of Korea, em Busan, Coreia do Sul; “Aluga-se Triplex” (2018), ocupação em São Paulo; “Horse Takes King” (2018), na Fondazione Prada, em Milão; “Bestiário” (2017), no Centro Cultural São Paulo; “Frestas – Trienal de Artes” (2017), no Sesc Sorocaba; “A Room and a Half” (2017), no Ujazdowski Castle Centre for Contemporary Art em Varsóvia, entre outras.