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novembro 5, 2018

Not Vital na Nara Roesler, São Paulo

O artista suíço Not Vital traz para a Galeria Nara Roesler SP um recorte de sua vasta e consagrada produção. As esculturas e desenhos reunidos destacam a sua particular capacidade em descontextualizar, reconfigurar e re-localizar fragmentos e símbolos culturais. Os diversos mundos contidos na obra de Vital decorrem de sua vivência: nasceu em 1948 em Sent, na Suíça; aos 18 anos mudou-se para Paris; pouco depois, para Roma; e para Nova York, em 1976. Desde então, tem viajado incessantemente aos quatro cantos do mundo, tendo vivido e trabalhado periodicamente em Agadèz (Níger), Lucca (Itália), Pequim (China), Patagônia (Chile) e Rio de Janeiro (Brasil).

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Segundo a autora do texto que acompanha a exposição Saudade, Giorgia von Albertini, as obras reunidas na mostra atestam os múltiplos mundos vividos pelo artista. Parte representativa das esculturas foi produzida em seu ateliê em Pequim, em parceria com habilidosos artesão, que compreendem tanto a busca pela forma perfeita de Vital quanto a importância do toque humano em sua obra. Em contraste com a maioria das esculturas de aço inoxidável de grandes dimensões, essas obras não são moldadas, e sim feitas à mão, em um processo no qual centenas de pequenos painéis de aço bruto são martelados, soldados entre si e minuciosamente polidos. “Nascidas de uma sinfonia de golpes de martelo, as esculturas de Vital trazem em si o toque humano e, ainda assim, exalam uma espécie de quietude profunda, utópica”, escreve Albertini.

Lótus (Lotus, 2018) é uma das versões da primeira série de trabalhos do artista inspirada na flor de lótus, instalação composta por cem dessas flores, diferentes entre si, dispostas no chão – Let One Hundred Flowers Bloom (2008). “Apresentada com botões fechados, ceifados antes de florescer, Lotus, de Vital, diz respeito tanto à inércia forçada quanto à vitalidade potencial”.

As totêmicas Bengalas (Walking Sticks, 2012) foram produzidas na China, mas a forma foi encontrada por Vital num período anterior a suas viagens – ainda criança, em Engadin, onde nasceu. “Ali, nas imponentes montanhas, as crianças crescem coletando e entalhando bengalas de madeira, e observando as gerações mais velhas galgarem as encostas com seu auxílio”, explica Albertini. A Língua (Tongue, 2010) é uma das formas que Vital vem materializando nos mais variados e surpreendentes materiais e tamanhos por décadas. Surgiu pela primeira vez em 1985, pouco após o artista ter visto uma língua de vaca num açougue em Lucca, Itália. “Ele vislumbrou um caminho de transformação que o permitiria transmutar o familiar em exótico, o orgânico em utópico: em vez de nos mostrar a usual ponta da língua, ele a mostra integralmente; ao invés de apresentá-la horizontalmente, tal como existe no mundo orgânico, opta por fazê-lo verticalmente. Assim, por meio de uma alquimia silenciosa, tudo pode mudar”, pondera Albertini.

A escultura Lua (Moon, 2017), uma esfera grande e perfeita realizada em mármore, demonstra a incessante busca do artista pelo satélite terrestre. Fascinado pela lua durante toda a vida, Vital chegou a construir uma casa no Deserto do Saara só para observá-la.

“Ao percorrê-la com os olhos e acariciar suas crateras, suas sombras e sua superfície silenciosamente animada, somos levados a nos perguntar: será que Vital trouxe a Lua à Terra, ou será que nos transportou ao universo? ”, diz Albertini.

Já em Retratos (Portraits), Vital retrata pessoas próximas ou importantes para ele, outro conceito essencial em sua obra multifacetada. “Esses retratos são sempre compostos de duas caixas de prata que tomam forma e volume com base na data de nascimento do representado”, ressalta a autoria do texto. Nesta exposição, há um retrato de Nara Roesler, colaboradora e amiga de Vital, e de personalidades brasileiras, como Oscar Niemeyer, Ayrton Senna, Pelé e Caetano Veloso. “Os retratos em prata, minimalistas, porém cheios de alma, foram feitos à mão por artesãos do Níger com quem Vital trabalha há mais de 15 anos; a colaboração prossegue mesmo em tempos de profunda crise política e humanitária”.

Por sua vez Saudade, série que dá nome à exposição, evoca o apreço do artista pelo Brasil, seu segundo lar, conforme declara. Para ele, o Rio de Janeiro provou-se o melhor lugar para desenhar. Vital concebe desenhos com o que tem à mão, usando não só lápis, mas também materiais não ortodoxos como fita, cotonetes, adesivos de silicone e sacos plásticos.

“Em sincronia com a vida nômade de Not Vital, sua arte migra como num sonho entre imaginários estrangeiros e alegorias nativas. Com uma alquimia ligeira, ele domestica o exótico e transforma o lugar-comum local em vocabulário visual surreal-minimalista. Consequentemente, identidade e transformação, relocação e descontextualização tornaram-se conceitos-chave na obra de Vital”, completa a autora do texto.

Not Vital (n.1948) nasceu na aldeia de Sent, no vale alpino de Engadin (Suíça). Atualmente, vive e trabalha entre o Rio de Janeiro, Pequim e Sent. Vital estudou Arte em Paris e em Roma antes de mudar-se para Nova York em 1976. Desde 2000, sua prática se expandiu, passando a incluir construções, como casas, escolas, torres, pontes e túneis, e diluindo a fronteira entre arte e arquitetura. Essas construções são estruturas permanentes e muitas podem ser vistas no parque de esculturas de Vital em Sent ­ bem como na Bélgica, Brasil, Indonésia, Níger e Patagônia. Vital realizou exposições individuais recentes nas seguintes instituições: Museo d'Arte di Mendrisio, em Mendrisio (2015), Musées d'Art et d'Histoire, em Genebra (2014); Isola di San Giorgio Maggiore, em Veneza (2013); Ullens Centre for Contemporary Art, em Pequim (2011); Museo Cantonale d'Arte di Lugano (2007); The Arts Club of Chicago (2006); e Kunsthalle Bielefeld (2005). Em 2001, o artista participou da 49ª Bienal de Veneza (com curadoria de Harald Szeeman). Seu trabalho está representado em coleções públicas no mundo todo, entre elas o Carnegie Institute, em Pittsburg; o Dallas Museum of Art, em Dallas; o Solomon R. Guggenheim Museum, em Nova York; o Kunstmuseum Bern, em Berna; o Kunsthalle Bielefeld, em Bielefeld; o Kunstmuseum Luzern, em Lucerna; o Musées d'Art et d'Histoire, em Genebra; o Museum of Fine Arts, em Boston; o Museum der Moderne, em Salzburgo; o Philadelphia Museum, na Philadelphia; The Museum of Modern Art, em Nova York; The Ashmolean Museum, em Oxford; The Brooklyn Museum, no Brooklyn; e o Toyota Municipal Museum of Art, em Aichi.


The Swiss artist Not Vital is bringing to Galeria Nara Roesler | São Paulo a slice of his vast and renowned production. The sculptures and drawings featured in the show highlight his particular knack for decontextualizing, reconfiguring and relocating cultural symbols and fragments. The various worlds contained in Vital’s work derive from his life experience: he was born in 1948 in Sent, Switzerland; at 18 he moved to Paris; a little later, to Rome; and to New York, in 1976. Since then, he has traveled incessantly to the four corners of the world, having lived and worked periodically in Agadez (Niger), Lucca (Italy), Beijing (China), Patagonia (Chile) and Rio de Janeiro (Brazil).

According to the author of the text that accompanies the exhibition Saudade [Longing], Giorgia von Albertini, the artworks featured in the show evince the multiple worlds lived by the artist. A representative part of the sculptures was produced in his studio in Beijing, in partnership with skillful artisans, who understand both Vital’s search for the perfect form as well as the importance of the human touch in his work. Unlike most of his large-format sculptures in stainless steel, these works are not molded, but rather made by hand, in a process in which hundreds of small panels of raw steel are hammered, welded together and painstakingly polished. “Born in a symphony of hammer blows, Vital’s sculptures harbor the human touch, yet they simultaneously emanate sort of deep-seated, utopian quietness,” writes Albertini.

One of a series of artworks inspired in the lotus flower, Lotus, 2018, is a version of the installation Let One Hundred Flowers Bloom (2008), consisting of 100 of these flowers, different from one another, arranged lying down. “Presented with closed buds, cut before having had any opportunity to flourish, Vital’s Lotus refer to both, forced stasis and potential vitality.”

The totemic Walking Sticks, 2012, were produced in China, but the shape was found by Vital in a period prior to his travels – while still a child, in Engadin, where he was born. “There, in the high-altitude mountains, children grow up collecting and carving wooden walking sticks, as well as observing the older generation climbing with such,” explains Albertini. Tongue, 2010, is one of the shapes that Vital has been materializing in the most diverse and surprising materials and sizes for decades. It arose for the first time in 1985, soon after the artist had seen a cow’s tongue at a meat shop in Lucca, Italy. He “discerned a pathway for transformation which would enable him to transmute the familiar into the exotic, the organic into the utopian: instead of showing us just the usual tip of the tongue, he displays the whole thing; instead of presenting it horizontally, as it exists in the organic world, he chooses verticality. Just like this, by means of silent alchemy, everything can change,” Albertini considers.

The sculpture Moon, 2017, a large and perfect sphere made of marble, demonstrates the artist’s incessant search for the terrestrial satellite. Fascinated by the moon all his life, Vital went so far as to build a house in the Sahara Desert just to observe it.

“Walking around the moon, and caressing its craters, its shadows, and its quietly animated surface with our eyes, we are left wondering: did Vital bring the moon down to earth, or did he transport us into the universe?” says Albertini.

In Portraits, Vital portrays people near or important to him, another essential concept in his multifaceted work. “Those portraits are always composed of two silver boxes that take their form and volume from the birthdates of those they represent,” the text’s author points out. In this exhibition, there is a portrait of Nara Roesler, a collaborator and friend of Vital, and of Brazilian personalities such as Oscar Niemeyer, Ayrton Senna, Pelé and Caetano Veloso. “The minimalistic, yet soulful silver portraits that portray them have all been made by hand; by Tuareg silversmiths in Niger, with whom Vital has worked for more than 15 years, continuing collaboration even in times of deep political and humanitarian crisis.”

For its part, Saudade [Longing], the series that lends its name to the title of this exhibition, evokes the artist’s appreciation for Brazil, his second home, he declares. For him, Rio de Janeiro has proved to be the best place for him to draw. Vital conceives drawings with what he has at hand, using not only a pencil, but also unorthodox materials such as tape, cotton swabs, silicone adhesives and plastic bags.

“In cadence with Not Vital’s nomadic way of life, his art migrates dreamlike in between foreign imageries and native allegories. By means of fleet-footed alchemy he domesticates the exotic and transforms the local commonplace into surreal-minimalistic visual vocabulary. Identity and transformation, re-location, and de-contextualization have consequently evolved to key concepts within Vital’s oeuvre,” Albertini explains.

Posted by Patricia Canetti at 6:30 PM