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outubro 29, 2018
Tomie Ohtake na Nara Roesler NY, EUA
A Galeria Nara Roesler | Nova York tem o prazer de apresentar um novo desdobramento da aclamada exposição Tomie Ohtake: Nas Pontas dos Dedos, com curadoria de Paulo Miyada, curador chefe do Instituto Tomie Ohtake. Especialmente organizada por Miyada para a filial de New York e incluindo pinturas, estudos, gravuras e fotografias, esta exposição concisa apresenta exemplares do rico corpo de obra criado por Ohtake nas décadas de 1960 e 70, além de raros registros do processo feitos pela própria artista. A exposição é um desdobramento das exposições Tomie Ohtake: na ponta dos dedos apresentadas na Galeria Nara Roesler | São Paulo (agosto a setembro de 2017) e na Galeria Nara Roesler | Rio de Janeiro (fevereiro a março de 2018) e proporciona um enfoque único sobre o desenvolvimento das composições da artista, de colagens de recortes de revistas a óleos sobre tela.
Tomie Ohtake é uma figura fundamental na história da abstração brasileira. Sua dedicada investigação dos aspectos formais, temporais e espirituais da cor, da forma e do gesto resultaram num corpo de obra extraordinário, produzido ao longo de seis décadas. Nascida em 1913, ela teve uma criação tradicional em Kyoto e viajou ao Brasil em 1936 para visitar um de seus irmãos, que fizera parte de uma grande onda de imigração japonesa ao país. Impossibilitada de voltar ao Japão devido à Segunda Guerra Mundial, Ohtake destacou que dois fatores foram fundamentais em sua decisão de se estabelecer permanentemente no Brasil: ela encantou-se de imediato com a luminosidade tropical única do país, e percebeu que no Brasil teria a oportunidade de ser uma artista com liberdades criativas que lhe seriam negadas enquanto mulher no Japão. Após casar-se e criar seus dois filhos, dedicou-se ao seu trabalho e estabeleceu uma ligação estreita com o grupo Seibi, uma rede informal de artistas nipo-brasileiros unidos por seu interesse pela abstração. Mas Tomie também era ligada a grupos mais amplos de críticos e artistas, como Willys de Castro, Mário Pedrosa, Paulo Herkenhoff e Mira Schendel, entre outros. Essa multiplicidade de filiações e ligações a desobrigava de alinhar-se com qualquer abordagem artística específica, colocando-a numa trajetória artística singular. Foram Schendel e, principalmente, Herkenhoff que incentivaram a artista a empregar mais explicitamente elementos das tradições japonesas, como o zen-budismo e a caligrafia. Em 1975, Ohtake afirmou: “Meu trabalho é ocidental, mas tem grande influência japonesa, um reflexo da minha criação. Esta influência está na busca da síntese: poucos elementos devem dizer muito. Na poesia haiku, por exemplo, fala-se do mundo em dezessete sílabas”.
Em meio aos materiais de arquivo guardados por Tomie em sua casa-ateliê, Paulo Miyada encontrou cadernos de estudos até então virtualmente desconhecidos, contendo pequenas colagens que revelam o caminho percorrido pela artista até chegar à síntese dos anos 1960 e 70. Os delicados estudos foram criados rasgando, recortando e colando pedaços de materiais impressos: revistas, convites, jornais, panfletos. “Ao prestar atenção à natureza do processo de Tomie Ohtake aqui, obtemos acesso às ligações que sua pintura tem com o acaso, o gesto e a ousadia cromática”, observa o curador. Miyada aponta que os estudos em miniatura são um recurso consistente e recorrente empregado pela artista em seu trabalho até a década de 1980. “As composições encontradas serviam de parâmetro para pinturas e gravuras que experimentavam com diferentes tamanhos e combinações cromáticas. É como se a prancheta com recortes de papel fosse uma zona de mineração em que se buscavam formas e combinações de cores”, afirma ele. Em suas composições da década de 1960, Tomie rasgava pedaços de papel para criar a gênese de suas pinturas. “As figuras, neste caso, se assemelham a formas geométricas simples, embora com contornos imprecisos; elas contêm a memória de terem sido rasgadas com as pontas dos dedos”, salienta o curador. Então, na década de 1970, quando suas pinturas começaram a utilizar formas de contornos mais definidos, os estudos também se transformaram, já que a artista passou a utilizar tesouras – nunca réguas ou navalhas – para recortar o papel. “Era uma maneira de lidar com a instantaneidade do gesto e impregnar todo o processo de pintura com este equilíbrio entre acaso e controle”. Além disso, de acordo com o curador, em alguns casos, as texturas das pinturas surpreendentemente advêm da colagem em si, apropriadas a partir de materiais fotográficos variados. “A paleta cromática também se expande, refletindo o cromatismo de uma era que flertava com a psicodelia”.
Tomie Ohtake nasceu em Kyoto, Japão em 1913 e viveu em São Paulo, Brasil de 1936 até sua morte no início de 2015. Ela começou sua carreira como artista profissional com quase 40 anos de idade, com uma investigação imersiva da abstração, trabalhando inicialmente com pintura, e posteriormente gravura e escultura. Durante sua longa e prolífica carreira, seu trabalho foi apresentado em inúmeras exposições individuais, incluindo diversas mostras no Museu de Arte Moderna de São Paulo, a partir de 1957; em grandes exposições no Hara Museum of Contemporary Art, Tóquio; Mori Art Museum, Tóquio; Barbican Centre, Londres; Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro; e em uma retrospectiva no Instituto Tomie Ohtake em São Paulo por ocasião de seu centenário, entre muitas outras. Participou de inúmeras bienais internacionais, inclusive as de Veneza, Havana e Cuenca, além de oito edições da Bienal de São Paulo. Desde a década de 1980, Ohtake produziu diversas esculturas públicas de grande porte em grandes e pequenas cidades do Brasil, inclusive obras que se tornaram cartões-postais de São Paulo, a cidade onde morou. Em 2001, inaugurou-se em São Paulo o Instituto Tomie Ohtake, com um programa dedicado a importantes exposições de arte contemporânea, arquitetura e design, bem como à preservação do legado da artista. O trabalho de Tomie Ohtake está em coleções permanentes no mundo todo, entre elas as do Museu de Arte Contemporânea de Hara, Tóquio; M+, Hong Kong; Metropolitan Museum of Art, Nova York; MASP, Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, São Paulo; MAM-SP, Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo; MAM-RJ, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro; MAC-USP, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, São Paulo; MAC-Niterói, Museu de Arte Contemporânea de Niterói, Niterói; Patricia Phelps de Cisneros Collection, Caracas; Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo; e Tate Gallery, Londres. Tomie Ohtake é representada pela Galeria Nara Roesler desde sua fundação.
Paulo Miyada nasceu em São Paulo em 1985. Concluiu mestrado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Miyada é curador-chefe e supervisor do Departamento de Curadoria e Pesquisa do Instituto Tomie Ohtake. No Instituto, Miyada foi curadorde exposições como Cecily Brown – If Paradise Were Half as Nice (2018), Aprendendo com Dorival Caymmi: Civilização Praieira e Leda Catunda – I love you baby (2016). Também colaborou em várias outras mostras, entre elas Os Muitos e o Um (2016), Tomie Ohtake 100-101 (2015), Nelson Felix: Verso (2013) e o programa Arte Atual (desde 2013). É também um dos coordenadores de curso da Escola Entrópica, onde leciona. Miyada foi curador assistente na 29ª Bienal de São Paulo (2010) e membro da equipe curatorial do programa Rumos Artes Visuais do Itaú Cultural (2011-2013), bem como da retrospectiva do programa em 2014. Foi curador de exposições coletivas como A parte que não te pertence, Wiesbaden (Kunsthaus Wiesbaden, 2014), É preciso confrontar as imagens vagas com os gestos claros e Em direto (Oficina Cultural Oswald de Andrade, 2011 e 2012). Miyada foi cocurador do 34º Panorama da Arte Brasileira – Da pedra, da terra, daqui (Museu de Arte Moderna de São Paulo, 2015) e curador-chefe do projeto Estou cá (Sesc Belenzinho, 2016).