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outubro 28, 2018
Leila Danziger na Caixa Cultural, Brasília
A Caixa Cultural apresenta a mostra em artes visuais Navio de emigrantes de autoria da artista Leila Danziger em homenagem a Lasar Segall
A mostra proporciona uma reflexão sobre refugiados, migrações e exílios, em narrativas construídas com documentos diversos, encontrados no Arquivo Nacional e também na internet, num diálogo com a obra de Lasar Segall (1891-1957).
A exposição individual de Leila Danziger, Navio de emigrantes, em cartaz na Caixa Cultural Brasília de 30 de outubro a 23 de dezembro de 2018, cuja curadoria tem assinatura de Raphael Fonseca e produção de Anderson Eleotério, convida o visitante a uma experiência expandida do espaço do arquivo e tem como ponto de partida memórias da família da artista, ampliando-se na construção de narrativas da memória coletiva e reconfigurações geopolíticas.
A exposição reúne duas grandes séries, intituladas Navio de emigrantes e Mediterrâneo. A primeira parte das listas de passageiros de quatro navios que chegaram do porto do Rio de Janeiro entre 1935 e 1939. O levantamento dos documentos foi desencadeado por lembranças afetivas da artista (o pai e avós de Leila escaparam da Alemanha nazista a bordo do navio Aurigny). A segunda série parte de material encontrado na internet acerca daqueles que nos últimos anos tentam fugir do Oriente Médio e da África, atravessando o Mar Mediterrâneo.
“A pintura ‘Navio de emigrantes’, de Lasar Segall (c. 1939/41, óleo s/ tela, 230 x 275 cm) que retrata a viagem de famílias ou solitários fugindo, num navio, da guerra, fome e miséria de sua terra natal, é crucial neste projeto”, destaca Raphael Fonseca. “A obra, uma das referências do modernismo, orienta os dois eixos da exposição: um que diz respeito à sobrevivência, o início de uma nova vida em um novo país; e o outro à incerteza, uma vez que os refugiados retratados na pintura encontraram um navio, mas não sabemos se encontrarão um porto”, explica o curador.
“Ao se apropriar, deslocar e resignificar imagens e textos oriundos de arquivos de história, da história da arte e da mídia em geral, a exposição contribui decisivamente para a elaboração de novas narrativas históricas, baseadas em horizontes locais, mas pensadas a partir da nova configuração geopolítica internacional”, avalia o curador.
Apresentando a produção mais recente de Leila Danziger, em diálogo com a obra de Lasar Segall, a mostra Navio de emigrantes atesta a atualidade do artista (falecido em agosto de 1957), evidenciando e rendendo homenagem aos 60 anos de sua morte. Em seu processo de trabalho, Leila Danziger desenvolve ações de inscrição e apagamento, tendo a página impressa e o documento histórico no centro de sua produção artística, orientada pela interface entre arte e história desde a década de 1990. Com 25 anos de produção ininterrupta, a artista assume a escrita da história, consciente de que esta tarefa não cabe apenas ao historiador, mas também ao artista.
Navio de emigrantes, ao propor o cruzamento entre presente e passado, reforça a dimensão histórica dos fatos recentes e contribui para que o visitante seja especialmente sensibilizado para uma importante reflexão sobre as políticas da memória na contemporaneidade e também contribui para o conhecimento da história da arte no Brasil.
Com patrocínio integral da Caixa Econômica Federal e produção da Adupla Produção Cultural, a exposição apresenta um conjunto inédito de obras gráficas e vídeos construindo uma narrativa visual em que imagem e palavra (escrita e sonora) problematizam-se mutuamente. A exposição conta também com nove gravuras da série Emigrantes de Lasar Segall, reimpressas pelo Museu Lasar Segall, São Paulo, reforçando o diálogo da artista com a obra do modernista lituano-brasileiro.