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outubro 24, 2018

Água da palavra / Quando mais dentro aflora na Adelina, São Paulo

Coletiva que já foi apresentada em Berlim propõe diálogos entre as artes visuais e a palavra, como matéria-prima. No mesmo dia da abertura da mostra, a Adelina dá início ao ateliê aberto dos artistas que fazem parte da segunda etapa do programa de residência.

Água da palavra / Quando mais dentro aflora traz obras de dez artistas brasileiros e abre para público no próximo dia 27 de outubro, na Adelina - Instituto Cultural. A mostra foi apresentada pela primeira vez no HilbertRaum, em Berlim e, para a remontagem em São Paulo, a curadora Galciani Neves reúne 10 artistas: Anna Guilhermina, Fabio Morais, Isabella Beneducci Assad, Lívia Aquino, Karina Machado, Marta Matushita e Ricardo Barcellos, Jorge Menna Barreto, Elida Tessler e Deco Adjiman.

Na primeira montagem da exposição em Berlim, a ideia era apresentar processos de criação de artistas que se relacionavam com obras de escritores brasileiros. Os artistas buscaram inspiração nas obras e universos dos seguintes autores: Ana Cristina Cesar, Clarice Lispector, Guilhermina Cavalcanti Bulcão (Miná), Hilda Hilst, Paulo Leminski e João Guimarães Rosa.

"Quando recebi o convite para assinar a curadoria da mostra em Berlim, parti de um problema bem elementar: o que nós, artistas e curadora brasileiros apresentaríamos para Berlim, levando em consideração nosso momento histórico e político? A palavra era nosso abrigo, nosso lugar de experimentação. Daí, nos incentivamos por processos de tradução, não no sentido estrito de tradução de uma língua para outra. Mas em um sentido amplo, de uma linguagem para outra, e no nosso caso, seria da literatura para as artes visuais”, explica a curadora Galciani Neves. Para a versão brasileira da mostra, Galciani convidou outros e artistas e acrescentou outras obras de Karina Machado e Lívia Aquino. “Nesse percurso de volta, a tradução deixa de ser nosso único foco. Na conversa com os artistas, pensamos como a força da palavra pode ser uma força de resistência e de luta”, diz.

O título da exposição surge de um verso de uma música de Caetano Veloso e Milton Nascimento, A Terceira Margem. Nas palavras de Galciani Neves, “O título da mostra, explícita referência aos versos da música, tenta evidenciar a palavra e, junto com ela, a sua pronúncia e a sua força de narrar e ficcionalizar, como fonte inesgotável de sentidos: sempre a serem refeitos, exploráveis, manufaturados, em plena abundância de algo a dizer, pensar e inventar sobre o mundo. Podemos, assim, admitir nessa exposição, a palavra como um rio imenso, de águas profundas a se mergulhar, cujo percurso é um abismo sem fim e em cujas margens não cartografáveis os avanços de poder não penetram, pois a jurisdição é a do desejo, sempre mutante, sempre insistente, sempre incontestável”.

“A palavra foi nossa matéria-prima, mas ela está presente em todo o processo da exposição até a sua materialização em obra de arte”, diz a curadora.

RESIDÊNCIA ADELINA

No mesmo dia da abertura da nova exposição da Adelina, os artistas da segunda fase do programa de Residência Artística da Adelina também dão início à abertura dos seus ateliês para o público. Abigail Reyes (El Salvador) e Ele Godoy (Brasil) irão compartilhar seus projetos e pesquisa com as pessoas que tiverem interesse em acompanhar esse processo.

A primeira edição da Residência Adelina para América Latina já recebeu a brasileira Élle de Bernardini e a argentina Natalia Forcada. A seleção para o programa aconteceu por um júri formado por Josué Mattos, curador da residência – e mais cinco curadores e artistas com experiência e atuação no circuito latino-americano. São eles: Camila Bechelany, Galciani Neves, Julia Lima, Vitor Cesar e Renata Cruz.

Os jurados avaliaram mais de 200 inscrições e, para escolherem os nomes, além da qualidade artística das propostas, também buscaram abranger gêneros e diferentes regiões da América Latina. O júri também buscou localizações diferentes entre os quatro ganhadores (principalmente na escolha dos representantes estrangeiros) para que o projeto amplie seu intercâmbio com a região da América Latina. Mais de 10 países da América Latina tiveram representantes nas propostas enviadas para a convocatória da Residência Adelina

SOBRE OS ARTISTAS DA MOSTRA

Anna Guilhermina (São Paulo - SP, Brasil, 1977)
Artista e arquiteta, suas pesquisas debruçam-se sobre a imagem em sua tridimensionalidade, mesclando fotografia e materiais como madeira, acrílico, cobre e vidro.

Deco Adjiman é artista plástico e, desde criança, se dedica à poesia. Sua pesquisa se expandiu para outros suportes e o artista passou a criar projetos e composições misturando o papel — seu velho conhecido — à madeira, trabalhando a junção entre poesia e artes visuais. É representado pela Sé Galeria, em São Paulo. Entre as suas exposições individuais, destacam-se “a poesia venceu “ (Curadoria de Maria Montero, 2014). eu, mesmo: outro” (Curadoria de Galciane Neves, 2016) e “:háuma” (Curadoria de Maria Montero, 2018). Participou das coletivas “da raiz ao objeto“ (São Paulo, 2015), “dexposição ou rearranjo” (São Paulo, 2015), “avesso do avesso do avesso “ (São Paulo, 2015); “o mar” (São Paulo, 2015) e “matéria: 6” (São Paulo, 2015) “tudo joia” (São Paulo, 2016).

Eduardo Borém (Montes Claros, MG, Brasil) - Vive e trabalha entre a Capital Federal e São Paulo, SP. É músico-fundador da banda Móveis Coloniais de Acaju (1998), do escritório de design de interiores Borém & Borém (2008) e atua como designer desde a graduação em Desenho Industrial pela Universidade de Brasília - UnB, (2004), com habilitação em Projeto Gráfico e Projeto de Produto. Sua atuação em artes visuais, em todos estes anos, aconteceu principalmente nos cruzamentos entre poesia, música, design, desenho e fotografia. Entre 2003 e 2018, participou de exposições, prêmios, shows e feiras, no Brasil e no exterior.

Elida Tessler é artista plástica e professora do Departamento de Artes Visuais e do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. Realizou doutorado em História da Arte Contemporânea na Université de Paris I - Panthéon-Sorbonne (França), onde residiu de 1988 a 1993. Entre 2009 e 2010, realizou o Pós-Doutorado na EHESS-Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales e junto ao Centro de Filosofia da Arte - UFR de Philosophie - Université de Paris I- Panthéon – Sorbonne. É pesquisadora do CNPq, desenvolvendo pesquisa em torno das questões que envolvem arte e literatura, relacionando a palavra escrita à imagem visual. Foi fundadora em 1993 e coordenou até 2009, junto com Jailton Moreira, o TORREÃO, espaço de produção e pesquisa em arte contemporânea, em Porto Alegre. Mantém um grupo de pesquisa chamado .p.a.r.t.e.s.c.r.i.t.a., onde articula produção e reflexão crítica a partir de textos de artistas e da presença da palavra em produções contemporâneas de arte.

Fabio Morais (São Paulo - SP, Brasil, 1975) é artista visual escritor, doutorando em artes visuais na Universidade do Estado de Santa Catarina. É representado pela Galeria Vermelho. Sua mais recente exposição individual foi “Escritexpográfica”, na Galeria Vermelho (São Paulo, janeiro de 2017). Em sua prática artística, atua entre o circuito expográfico e o editorial

Isabella Beneduci Assad (São Paulo - SP, Brasil, 1992) - Artista, graduada em Artes Visuais pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) em 2016. Em sua produção investiga as dimensões da palavra: falada, grafada, construída, desenhada, formada, vista. A palavra como vestígio e indício. Em paralelo integra o Metade junto com a arquiteta Ana Tranchesi, com quem também desenvolve pesquisas e trabalhos. Em 2016 o grupo foi contemplado pelo edital de intervenção pública do projeto Contracondutas com o projeto centoeonze.

Jorge Menna Barreto (Araçatuba, SP, 1970.) Vive e trabalha no Rio de Janeiro, RJ. Representado pela Galeria Carbono. Indicado ao Prêmio PIPA 2015 e 2017. Membro do Comitê de Indicação do Prêmio PIPA 2010 e 2014. Artista e pesquisador, há 18 anos deixa que o lugar determine aquilo que irá construir e, mais recentemente, o que irá comer. Professor no Instituto de Artes da UERJ, Rio de Janeiro, Rj e doutor em Poéticas Visuais em Artes pela USP, São Paulo, SP. Recentemente concluiu um Pós-doutorado na UDESC, Florianópolis, SC, onde se dedicou a investigar relações possíveis entre agroecologia e as práticas site-specific em arte.

Karina Machado (São Paulo - SP, Brasil, 1975) - É artista visual e idealizadora da Casa Goia, onde desenvolve projetos culturais, artísticos, expográficos, cenográficos e de design. Após 16 anos dedicados à advocacia, formou-se em fotografia em 2013 e, desde então, integra grupos de estudo e produção de arte contemporânea e fotografia. Assinou cenários para Óperas e Espetáculos de Dança, bem como coleções de joias para o corpo. Participou de exposições individuais e coletivas, no Brasil e no exterior (Alemanha, Itália e Suíça), sob a curadoria de Galciani Neves, Josué Mattos, Agnaldo Farias, Chiara Zocchi, Fiammetta Cavalleri, Denise Gadelha, Armando Prado, Vitor Cesar, Regina Parra, Enrico Rocha e Ligia Nobre. Destacam-se os trabalhos “Abre a Tua Boca. E Grita este Nome Meu” (2018), “Rastro de Corpo Sonoro” (2017/2018), “Coincidentes” (2017), “Avesso Perfeiro (2017), “Quanto Silêncio há na Volta?” (2015) e CuriMbó (2014).

Lívia Aquino (Fortaleza - CE, Brasil, 1971) - É pesquisadora do campo das artes visuais, professora e artista. Doutora em Artes Visuais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente é coordenadora da Pós-graduação em Fotografia: Práticas Poéticas e Culturais e professora da Pós-graduação em Práticas Artísticas Contemporâneas da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP). Participou de exposições na Pinacoteca de São Paulo, no Centro Cultural São Paulo, na Oficina Cultural Oswald de Andrade, no Instituto Tomie Ohtake, na Fundação Joaquim Nabuco, no Museu de Arte de Ribeirão Preto, no Sesc São Carlos. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil.

Marta Matushita (São Paulo - SP, Brasil, 1955) - Com pesquisas em diferentes linguagens artísticas (sumiê, dança, butô, desenho, pintura, fotografia, gravura), a artista utiliza elementos encontrados na natureza e construídos industrialmente. Com releitura e reorganização desses elementos, cria uma conversa ou confronto, trazendo um diálogo incessante e paciente, ressaltando o tempo e processos de transformação.

Ricardo Barcellos (Porto Alegre - RS, Brasil, 1969) - Graduado em Comunicação Social, PoA-RS, cursou ICP (International Center of Photography) em NY-EUA e Met film school, em Londres-UK. Atualmente frequenta o Grupo de estudos do atelier Fidalga, coordenado por Albano Afonso e Sandra Cinto. Sua pesquisa transita entre a fotografia, o vídeo e a instalação, permeando reflexões no condicionamento da imagem. Já expôs no PHotoESPAÑA em Madrid, na República Checa, na República Dominicana, Itália, Bogotá, França, Suíça. Seu trabalho pertence a importantes coleções como Masp-Pirelli, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Mac-RS e Instituto Cervantes. Foi vencedor do prêmio Conrrado Wessel de fotografia, do prêmio Hasselblad Latin America, entre outros.

SOBRE A CURADORA

Curadora, professora e pesquisadora no campo das artes visuais. Possui mestrado e doutorado em Comunicação e Semiótica pela PUC - São Paulo, SP. Atualmente, é professora do curso de Artes Visuais, de Produção Cultural e da Pós-Graduação em Fotografia na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) em São Paulo, SP, no Programa de Pós-Graduação em Artes da Universidade Federal do Ceará e na Escola Entrópica (Instituto Tomie Ohtake – São Paulo, SP). Desenvolve projetos curatoriais e educativos, atividades relacionadas à crítica e acompanhamento de artistas.

SOBRE OS ARTISTAS DA RESIDÊNCIA ADELINA

Abigail Reyes (San Salvador, 1984)
Abigail vive e trabalha em La Libertad, El Salvador. Designer gráfico de formação, artista visual e poeta, realizou exposições individuais no Museu MARTE (El Salvador), no Palais de Tokyo (Paris), na Galeria Lokkus (Colômbia), na Galeria Extra (Guatemala), na Manzanita Hall Gallery CSUN (Estados Unidos), no Museu de Arte e Design (Costa Rica), entre outros. Participou de exposições coletivas na Galeria Sies + Höke (Alemanha), Taimiao Art Gallery (Pequim), Context Miami (Estados Unidos), Cine Tonalá (Colômbia), Spacio Poporopo (Guatemala), Teoretica (Costa Rica), Sala Nacional ( El Salvador), Centro Cutural da Espanha (El Salvador), Galeria Lokkus (Colômbia). Participou de residências artísticas em El Salvador e Nicarágua. Em 2012, levou o primeiro lugar no concurso de poesia IpsoFacto e já teve textos publicados na revista mexicana Círculo de Poesia.

Efe Godoy (Sete Lagoas, 1988)
Com propostas artísticas que transitam entre desenho, música e performance, Efe Godoy iniciou a graduação em Artes Plásticas na Escola Guignard (UEMG). Sua relação com o desenho é quase instintiva e começou na própria infância. Em suas obras vemos, frequentemente, animais e plantas em forte simbiose com o humano, além de toda uma intensa ligação com os aspectos ordinários da vida cotidiana, assim como da memória e do passar do tempo. Desde 2010, lidera os vocais do projeto musical “Absinto muito”. Em sua trajetória, Godoy atuou como arte-educador, entre 2011 e 2103, no Instituto inhotim, assim como em uma série de outras exposições.

SOBRE A ADELINA - INSTITUTO CULTURAL

Em abril de 2017, o empresário Fabio Luchetti criou o projeto Adelina, no Bairro Perdizes. Com ampla atuação no circuito de arte e educação contemporâneas, o projeto promove a difusão, produção e compartilhamento de conhecimento, por meio de encontros, debates, oficinas, publicações, além de cursos interdisciplinares, exposições de artistas contemporâneos e ações extramuros. O objetivo do projeto é firmar-se como um espaço para a concepção, formação e difusão da arte. Em suas muitas ações, a ideia é atingir os mais diversos perfis, favorecendo o intercâmbios entre artistas, curadores e amantes da arte. Desde a sua fundação, a Adelina pretende aproximar a arte e educação, participando ativamente da formação livre de públicos variados, entre os quais estão professores da rede de ensino público, estudantes, crianças, adolescentes e idosos.

Posted by Patricia Canetti at 6:50 AM