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outubro 20, 2018

Arthur Omar no Sesc Consolação, São Paulo

Sesc Consolação inaugura exposição A Origem do Rosto, de Artur Omar, que estabelece diálogo entre a fotografia, a percepção e a antropologia

Com curadoria de Adolfo Montejo Navas, exposição traz o tema do olhar para o outro a partir ensaios fotográficos, instalações multimídias e ciclo de debates sobre o pensamento sensorial

O fotógrafo, cineasta, artista plástico Arthur Omar propõe uma discussão sobre a fotografia, a percepção e a antropologia na exposição A Origem do Rosto, que inaugura no dia 29 de agosto no Sesc Consolação. A visitação é gratuita e acontece até 1º de dezembro, de segunda a sexta, das 11h às 21h30; e aos sábados e feriados, das 10h30 às 18h30.

Além disso, ao longo de toda a mostra, o ciclo de debates O Pensamento Sensorial convida pesquisadores para discutir a relação da fotografia com o cinema, com a antropologia e com questões contemporâneas a partir da obra artista.

Com séries fotográficas e projeções de imagens e filmes, a mostra reúne em um ambiente que funciona como uma grande instalação obras que tomam o rosto, a apercepção e o olhar como ponto de partida para pensar o presente urgente.

O premiado artista mineiro, que vive e trabalha no Rio de Janeiro, atravessa diferentes fases, séries e linguagens para expressão a violência e a empatia dos olhares. Nesses rostos – que manifestam e expressão a radicalidade do outro– passamos da forma mais figurativa, para a mais abstrata - até a dissolução da forma.

O que vemos? Quem nos olha? Olhar é um ato violento, mas os olhos que se cruzam produzem afetos, sensações, pensamentos.

Expressar estados alterados, mentais, o pensamento antes da forma é o “trabalho de campo” da obra de Arthur Omar, “sua exploração fundamental, além da categoria de beleza”. Nas palavras do curador Adolfo Montejo Navas “a origem do rosto é o descobrimento da alteridade, algo que provém de um esgarçamento das identidades do que vemos que já está onipresente na obra do artista, mas também deriva daquela vibração emocional que a câmera colada ao rosto oferece, produzindo, assim, um singular triângulo: o rosto do artista focando o rosto do outro para chegar ao rosto final da imagem”,

Para além das séries fotográficas inéditas _Antropologia Solúvel, Limbo, Multidão _ uma das atrações é a celebrada “Antropologia da Face Gloriosa”, uma série experimental in progress, que registra a multiplicidade quase alucinatória de rostos em êxtase ou delírio de foliões durante o carnaval do Rio de Janeiro. “A Antropologia da Face Gloriosa procura expressar esses sentimentos, à maneira de uma antropologia debruçada sobre o bárbaro, o difuso, o transversal da nossa realidade de brasileiros. E como se trata de rostos gloriosos, é necessária uma ciência diferente para abordá-los. Daí a fotografia como ferramenta”, comenta Ivana Bentes, coordenadora geral da mostra.

“Todas as fotos chamadas de ‘antropológicas’ talvez não passem de jogos de percepção, de jogos que aconteçam no interior e a partir da percepção, e não no mundo objetivo. Ou talvez suponham uma forte dominante lúdica percepcional, pré-construtiva, interna ao aparato sensorial e cerebral, de tal forma que a componente propriamente antropológica, que atua em nós com uma retórica de convencimento, não tenha esse status de verdade que se lhe quer atribuir”, conceitua Arthur Omar no livro “Antes de Ver”. Um livro em que desenvolve sua própria teoria fotográfica.

Outros destaques são as séries “Antes de Ver” e “Antropologia Solúvel”, nas quais os rostos emergem na sua luta por se tornarem figuras; a fotomontagem “Limbo”, em que as faces captadas na viagem do artista ao Afeganistão são superpostas a paisagens e elementos gráficos. Estamos falando de um “presente conturbado”, que discute como podemos atravessar barreiras sociais, culturais, de todos os tipos e constituir uma relação com o outro a partir do olhar e da arte.

CICLO DE DEBATES

O PENSAMENTO SENSORIAL - CINEMA, FOTOGRAFIA, ANTROPOLOGIA
Organização: Ivana Bentes

A Origem do Rosto
Sábado, 1/9, às 15h
Apresentação da exposição “A Origem do Rosto”, com a presença do artista Arthur Omar e do curador. A aparição do rosto na arte, os processos de criação das imagens e a relação da fotografia com o cinema, a antropologia e a percepção.
Convidados: Arthur Omar (artista), Adolfo Montejo (curador) e Ivana Bentes (pesquisadora, ECO/UFRJ).

Experimental Tropical
Sábado, 29/9, às 15h
É possível pensar por imagens? O efeito-cinema na arte e o pensamento sonoro e por música. Fotografia, arte e cinema experimental na obra de Arthur Omar.
Convidados: Ismail Xavier (pesquisador, ECA/USP), Guiomar Ramos (pesquisadora, ECO/UFRJ) e Rosane Kaminski (historiadora, UFPR).

Imagens do Êxtase e Políticas da Alteridade
Sábado, 20/10 às 15h
A questão do êxtase, do delírio e da arte como formas de atravessar as barreiras sociais e nossa relação com o outro e sua expressão na obra de Arthur Omar.
Convidados: Tania Rivera (pesquisadora e curadora, UFF–RJ), Charles Cosac (historiador e editor) e Vera Casanova (pesquisadora, UFMG).

As Portas da Percepção
Sábado 10/11 às 15h
Um antropólogo e um neurologistas falam sobre arte, antropologia, sonho e rituais e como essas questões aparecem na obra de Arthur Omar.
Convidados: Carlos Fausto (antropólogo, Museu Nacional/PPGA), Sidarta Ribeiro (neurocientista, UFRN) e Lúcia Monteiro (pesquisadora, USP).

A Vida das Imagens
Sábado, 24/11 às 15h
Como viver entre imagens? As questões interculturais, de mídia, política e filosofia e como a arte contemporânea e a obra de Arthur Omar dialogam com o presente urgente. Conferência de encerramento e diálogo com Arthur Omar.

SOBRE O ARTISTA

Arthur Omar é um artista múltiplo, cineasta, fotógrafo, artista plástico. Seu trabalho alia inovação tecnológica, experimentação com as linguagens e uma grande intensidade dramática, destinada à excitação dos sentidos, visando montar uma nova iconografia para a representação do Brasil.

Como artista visual, participou de duas Bienais de São Paulo. Na de 1998, apresentou, a série fotográfica “Antropologia da Face Gloriosa”, objeto de livro com o mesmo nome, reunidas em uma instalação com 100 fotografias de rostos ocupando uma parede de quarenta metros com o título de “A Grande Muralha”. Na Bienal de 2002, exibiu fotografias feitas no Afeganistão central, na região de catástrofe entre Cabul e Bamyian.

Sobre essas experiências, publicou o livro “Viagem ao Afeganistão”, com prefácio do filósofo italiano Antonio Negri. Outros livros de Omar são “O Zen e a Arte Gloriosa da Fotografia”, “Lógica do Êxtase” e “O Esplendor dos Contrários”, este último com paisagens da Amazônia e o mais recente: “Antes de Ver. Fotografia, Antropologia e as Portas da Percepção”.

Uma grande retrospectiva de seus filmes e vídeos foi apresentada no Museu de Arte Moderna de Nova York e nas sedes do Centro Cultural Banco do Brasil no Rio de Janeiro e em São Paulo, com o conjunto dos seus curtas-metragens experimentais e os seus vídeos. Seu longa-metragem “Triste Trópico” é considerado um clássico do cinema brasileiro.

Omar também dirigiu e produziu diversos filmes para Channel Four e ZDF Arte, como o longa-metragem “Sonhos e História de Fantasmas”, um documentário metafórico em linguagem experimental sobre a cultura negra nos quilombos de Minas Gerais e nas favelas do Rio de Janeiro. Seu filme mais recente é “Cavalos de Goethe”, filmado no Afeganistão.

Pioneiro do uso de instrumentos eletrônicos na música de cinema no Brasil, o artista compôs a trilha sonora da maioria de seus filmes e instalações, propondo relações inovadoras entre imagem.

Entre suas exposições, destaca-se “O Esplendor dos Contrários”, com paisagens em 3D, vistas com óculos especiais, que foi premiada com o troféu da APCA de melhor exposição do ano em São Paulo. Outras mostras do artista foram: “Frações da Luz” (também recebeu o prêmio APCA), “Demônios, Espelhos e Máscaras Celestiais” e “Um Olhar e Sete Véus”.

Em 2006, no Rio de Janeiro, apresentou “Zooprismas”, conjunto de 12 videoinstalações, apontada pelo jornal O Globo como a melhor exposição do ano. No festival Vídeobrasil, apresentou a “Trilogia Cognitiva”, composta por três instalações – “Dervixxx”, “Infinito Maleável” e “Ciência Cognitiva dos Corpos Gloriosos”, em projeções circulares.

No Oi Futuro de Belo Horizonte, apresentou “As Portas da Percepção”, com fotografias e instalações. Seu último livro, lançado em setembro de 2014, é “Antes de Ver — Fotografia, Antropologia e as Portas da Percepção”, uma obra de conceituação teórica sobre a imagem, com 160 fotografias inéditas. Em 2016, apresentou no Rio de Janeiro a exposição “Outras Portas da Percepção”, com seus trabalhos fotográficos mais radicalmente experimentais, ocupando várias salas encadeadas, com imagens e textos referentes à natureza antropológica da percepção.

Posted by Patricia Canetti at 1:10 PM