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outubro 6, 2018

Edgard de Souza na Vermelho, São Paulo

A Vermelho apresenta a segunda exposição individual de Edgard de Souza na galeria

Conhecido por sua instalação permanente no Instituto Inhotim, de Souza teve seu trabalho exibido em exposições de destaque como Queermuseum: Cartografias da Diferença na Arte Brasileira (Parque Lage, Rio de Janeiro, 2018 / Santander Cultural, Porto Alegre, 2017), Modos de Ver o Brasil: Itaú Cultural 30 Anos (OCA, São Paulo, 2017), Histórias da Infância (MASP, São Paulo, 2016), XXIV Bienal de São Paulo (1998) e 25º Panorama da Arte Brasileira (MAM SP, São Paulo, 1997).

Essa será a 19ª exposição individual de Edgard de Souza que já teve mostras solo em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Nova York, Amsterdam, Los Angeles e Cidade do México.

Edgard de Souza ocupa a Vermelho com novos trabalhos que conjugam sua pesquisa em torno do ambiente doméstico e dos movimentos do corpo inserido nessa esfera. O doméstico sempre esteve presente na obra de Edgard de Souza, seja com bancos, vasos, mesas, cadeiras ou almofadas que carregam traços antropomórficos, ou que, de alguma maneira, preveem o corpo humano em relação a si. Além disso, as formas de Edgard são ambíguas e fragmentadas, com vestígios de corporeidade, desejo e erotismo. É a fricção entre a reclusão de um espaço privado e o impulso de uma produção voltada ao publico que poderá ser visto na mostra de de Souza.

Do espaço privado do artista vêm as obras Cama (2018) e Encosto (2018), ambas originadas pelo quarto que ocupava na casa de seus pais, em São Paulo, durante sua juventude. O mobiliário do quarto era composto por peças da Hobjeto, empresa de móveis fundada em 1964 pelo artista e designer Geraldo de Barros (1923-1998). A empresa carregava em seus desenhos a marca construtiva da obra de Barros e seus móveis modulares eram produzidos usando as mesmas técnicas de suas pinturas feitas em Formica. As obras de Barros eram construídas a partir da desconstrução e do fragmento, tanto de imagens quanto de ações. Esses procedimentos são espelhados por Edgard, que desdobra as peças de seu antigo quarto em frações abstratas e rearticuladas, mas que carregam em si seu entorno formador, tanto no apreço pela forma quanto pelos métodos de construção. Tanto Encosto quanto Cama saem da figuração objetal de suas composições originais para voltarem a abstração concretista de Barros.

Edgard estende a articulação modular à sua própria obra com seu novo bronze Sem título (2018). As peças, produzidas dentro da lógica da reprodutibilidade técnica, assumem um novo caráter auto ativado, podendo existir individualmente enquanto edição de um mesmo trabalho, ou como novos trabalhos únicos, que se compõe do acumulo de edições da mesma matriz. A peça também se espalha por mesas, parede e chão, sem ter uma posição final correta de contemplação.

Os movimentos do corpo também podem ser vistos em sua nova série de bordados denominados R (2017-2018). Edgard leva os rabiscos imprecisos vistos em sua última individual para uma construção planejada, usando linha de algodão sobre superfícies de linho. O mesmo tipo de “desenho de ação” é visível, mas agora eles são criados de maneira diametralmente oposta, trazendo o atrito entre as construções espontâneas e planejadas para as obras. Os bordados podem ser erráticos como rabiscos, ou pontuais, como se formassem infecções sobre o tecido. Em comum, eles carregam o volume construído a partir do acumulo de material, chegando a formar protuberâncias que parecem escorrer do plano, rompendo o bidimensional.

Essa pulsão de vida inserida em objetos do cotidiano também aparece na série de colheres de pau que Edgard apresenta dentro de vasos de cristal. Os objetos triviais foram esculpidos rigorosamente por Edgard a partir de toras de madeiras nobres e raras como mogno e jacarandá da Bahia e foram dotadas de impulsos e desejos. Em Colher lambe colher (2017) a madeira ganha vida e feições humanas e, em dupla, parecem servir uma à outra voluptuosamente. Em Colher de pau - cara de pau (pinoquio) (2018) o utensílio ganha malícia, como o personagem de Carlo Collodi. A colher, mentirosa, tem seu nariz alongado. Colher de pau - cara de pau (2018) é travessa e mostra a língua ao observador.

Outro objeto trivial que aparece cheio de furor é Torneira (2018). A peça integra uma série de torneiras de proporções agigantadas que de Souza vem produzindo desde os anos 1990. Da torneira em bronze de pátina dourada flui uma grande gota de sua boca, lembrando uma secreção humana.

Posted by Patricia Canetti at 2:05 PM