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outubro 3, 2018
Lucimar Bello na Casa Contemporânea, São Paulo
A Casa Contemporânea inaugura no dia 6 de outubro, sábado, das 11h às 17h, a mostra individual Lucimares de Lucimar Bello. Curadoria de Andrés Hernández evidencia a trajetória da artista com a exibição de 11 trabalhos, com obras em papel como desenhos e fotografias, além de instalação, objetos, performance e vídeo.
Lucimar desenvolve séries abertas, ou seja, seus trabalhos não se encerram em espaços de tempo com início, meio ou fim. Atenta aos processos de transformação da cidade, percursos (bem como trocas de correspondências), a artista não se furta a desenvolver sua poética a partir de suportes artísticos variados, que abarcam desde a fotografia da paisagem urbana, desenhos feitos em grafite sobre mapas, instalação com livros artesanais, impressões fotográficas sobre cerâmica, vídeo ou mesmo a realização de performance com a participação do público.
“Lucimares” é aberta com “Estante 3”, obra de 2017 composta de 25 minilivros artesanais de tamanhos variados, criados a partir de 23 romances lidos entre 2016 e 2017, além de um colofón e outro, em que a artista referencia suas escolhas literárias, bem como os títulos das obras escolhidos para sua peculiar biblioteca. “Ontem são hojes”, de 1974, são dois guaches sobre papel Canson. A escolha da série e, sobretudo, a força de seu nome, não poderia ser mais acertada, haja vista sua relação de idas e vindas de Lucimar com sua produção pregressa.
As séries “Viagens de vezes” e “Viagens por fazer”, ambas de 2011, trazem a público desenhos de percursos rodoviários feitos pela artista e aqueles jamais percorridos, respectivamente. Na primeira, desenhos em grafite sobre papel manteiga mostram as rotas feitas entre 2004 e 2011: a grossura das linhas, e mesmo a perfuração do frágil suporte, sinalizam o número de vezes que ela fez os referidos trajetos. A segunda série é composta de 20 desenhos feitos sobre papel artesanal também a partir de mapas, porém, desta vez, Lucimar atém-se a localidades desconhecidas, jamais visitadas.
Registros fotográficos de viagens aéreas e do céu, visto a partir das instalações da galeria na Vila Mariana, são o mote de “Idas e vindas”, série de 11 tiras de fotografias feitas ao longo dos últimos 7 anos.
“As coisas que não existem são as mais bonitas” é a série, datada de 2011, com 20 aquarelas automáticas sobre papel-toalha com marcas de óleo e tauá, um pigmento natural. Ela surgiu a partir da limpeza de um ateliê coberto de pó de aroeira e óleo de linhaça durante uma residência da artista na Bahia.
A relação crítica da artista com a dinâmica da especulação imobiliária é evidente nas séries “Não fui fabricado de pé” e também em “Cidades de Vestir”. Enquanto na primeira Lucimar imprime fotografias da construção de um edifício vizinho ao seu em louças típicas das lápides de cemitérios, na segunda, ela propõe uma ação performática com o uso de 16 tecidos sintéticos com impressões de fotografias de outro edifício e do espaço da Casa Contemporânea. Os visitantes são instados a cobrirem-se com os 16 tecidos, literalmente se vestindo de cidade. O caráter performático, por sua vez, também é evidente na obra “A casa vestida”, quando os mesmos visitantes podem vestir túnicas feitas de tecidos trabalhados com rendas, linhas de bordar, contas e pequenos objetos plásticos pelo espaço da galeria. O vídeo “cadadia+”, realizado entre 2006 e 2012, traz centenas de fotografias da construção do edifício vizinho ao ateliê da artista e é exibido sobre os tecidos de “A casa vestida”.
A exposição se encerra com “Cartas para estante 3”, obra colaborativa realizada ao longo dos últimos sete anos, que colige 30 respostas de amigos da artista aos 60 e-mail’s com trechos do livro “Carta”, de correspondências entre os artistas Hélio Oiticica e Lygia Clark, que Lucimar disparou em 2011.
“Eclode, na pesquisa artística de Lucimar, uma permanente concepção autoral, desde a desconstrução de referências que transmutam forças cognitivas e se conjugam em fluídos, até as autorias particulares de similar força conceitual e projeção sensorial ilimitada. Aparecendo assim ‘re-fragmentos’ completos como matrizes que se projetam em reestruturas múltiplas, semânticas e nomenclaturas propositivas”, escreve Andrés Hernandez no catálogo da individual.