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outubro 3, 2018
Rubem Valentim na Caixa Cultural, São Paulo
Mostra “Rubem Valentim – Construção e Fé” traça panorama da produção de um dos maiores expoentes da cultura afro-brasileira e do construtivismo no Brasil
A Caixa Cultural São Paulo abre ao público no dia 06 de outubro, sábado às 11h, a exposição Rubem Valentim – Construção e Fé. Com curadoria de Marcus de Lontra Costa, a mostra revela ao público um panorama do trabalho do pintor e escultor baiano, e sua inserção na arte nacional e internacional, privilegiando a produção pictórica e escultórica do artista com obras disponibilizadas de coleções públicas, particulares e dos herdeiros do artista.
Suas obras sintetizam em formas geométricas as simbologias místicas de matriz africana e se destacam na arte moderna construtivista e concretista brasileira. Serão apresentados cerca de 50 trabalhos, entre pinturas, gravuras e esculturas, que mapeiam sua trajetória artística com ênfase na produção realizada em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Um recorte inédito que resgata a negritude de sua arte e destaca a maturidade estética alcançada no período em que viveu nas referidas capitais.
Considerado um dos mestres do construtivismo brasileiro, suas primeiras experiências foram abstratas, contudo, em meados da década de 1950, movido por questões ideológicas, buscou sua ancestralidade africana e encontrou na cultura popular afro-brasileira as características que nortearam seu trabalho até o final da vida, em suas pinturas, esculturas e objetos, em uma trajetória artística avessa às modas. “O trabalho de Valentim tem a autonomia de sua fantasia e assim será lido em tempos futuros. Sua pintura ultrapassa essa objetividade mais visível. Ele desenvolveu sua arte a partir de signos da cultura afro ao som de atabaques que reclamavam uma erudição.” destaca o curador Marcus Lontra.
A exposição é, portanto, um momento de consagração e valorização da questão negra na obra do artista, em uma luta de resistência contra os padrões estéticos vindos de fora. Reelaborando o pensamento construtivista, Rubem Valentim passou a empregar signos inspirando-se nas ferramentas e nos instrumentos simbólicos do candomblé, sintetizando-os nas formas geométricas. Para o crítico italiano Giulio Carlo Argan, a arte do brasileiro correspondia a uma "recordação inconsciente de uma grande e luminosa civilização negra anterior às conquistas ocidentais".
Em São Paulo, Rubem Valentim realizou uma escultura de concreto instalada na Praça da Sé, obra pública marco histórico na cidade. A escultura “Emblema de São Paulo”, em concreto armado aparente, com 8,5m de altura, foi definida pelo artista como “Marco Sincrético da Cultura Afro-Brasileira”. A obra integra o conjunto de 14 esculturas instaladas na praça quando ela foi reurbanizada junto à construção da estação Sé do Metrô, inaugurada em 1978.
Há 20 anos sem uma mostra dedicada exclusivamente à sua obra, essa exposição que já passou pela Caixa Cultural Brasília em 2017, resgata para o público a produção de um artista que contribuiu de forma decisiva para a história da arte brasileira e agregou valores internacionais e da cultura afro-brasileira na construção das questões vanguardistas presentes no século XX.
Rubem Valentim (1922-1991), nascido em Salvador, formou-se em odontologia antes de se dedicar definitivamente às artes plásticas, por volta de 1948. Cursou jornalismo ao mesmo tempo em que se envolvia com a pintura, e em 1954 realizou sua primeira individual. Em 1957, mudou-se para o Rio de Janeiro e passou a participar intensamente da vida artística da cidade carioca e de São Paulo. Expõe em mostras importantes, inclusive em diversas Bienais, nacionais e internacionais. Em 1963, mudou-se para Roma, onde residiu por três anos. Em sua volta para o Brasil, morou em Brasília, onde dirigiu o Ateliê Livre do Instituto Central de Artes da UnB.