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setembro 30, 2018
8ª Mostra 3M de Arte no Largo da Batata, São Paulo
Mostra 3M de Arte chega à 8ª edição e firma-se como um dos principais eventos de democratização do acesso à arte do país
Com o intuito de democratizar o acesso à arte, impulsionar a produção artística nacional e gerar reflexões sobre temas contemporâneos relevantes, a 8ª Mostra 3M de Arte ocupa o Largo da Batata, no bairro de Pinheiros, na capital paulista, até 14 de outubro, com patrocínio da 3M via lei de incentivo à cultura. Esta edição apresenta obras inéditas, todas comissionadas pelo projeto, dos artistas Eduardo Coimbra, Estela Sokol, Grupo Inteiro, o duo Rafael Cotait e Marcos Muzi, Raquel Kogan e da selecionada por edital Regina Parra.
Com idealização e curadoria da produtora cultural Elo3, empresa que realiza o evento desde sua primeira edição, a mostra alia uma proposta inovadora de interação do público em geral com a arte e proporciona total liberdade criativa na concepção das obras, que utilizam o espaço público como ambiente de expressão. “Neste ano, os trabalhos permeiam a ideia da arte apontando para uma convivência baseada no respeito e na fruição do espaço público enquanto ativador de sentidos e consciência cidadã”, explica Fernanda Del Guerra, sócia e diretora da Elo3.
Totalmente gratuito, o evento vai ao encontro do propósito dessa política pública de fomento e distribuição de arte e cultura, visando justamente refletir sobre tolerância, interação social e transformação do espaço público em espaço de convivência. Já o Largo da Batata, localizado na zona oeste da capital, pertence a uma área revitalizada que integra o esforço da sociedade civil para transformar a cidade em um espaço de convívio e ocupação por parte da população. Com circulação diária de aproximadamente 150 mil pessoas, o espaço, que recebe a mostra pelo segundo ano consecutivo, tornou-se um símbolo de resistência pública abrigando ocupações, manifestações políticas, blocos de Carnaval e atividades de lazer e entretenimento cotidiano de paulistanos de todas as idades e classes sociais.
Dentro desta linha ideológica, a instalação “Parque”, do artista Eduardo Coimbra, prevê a criação de um espaço de lazer para uso comunitário dos frequentadores e passantes do Largo da Batata, com uma grande extensão de piso em pedra e concreto. Na obra, um plano de grama é um símbolo da paisagem natural domesticada. É um elemento vivo que oferece conforto tátil e térmico, sendo suporte para brincadeiras, exercícios físicos, piqueniques e repouso. A criação de Coimbra proporciona uma experiência aos usuários que suaviza a sensação de aridez do solo urbano construído e oferece ao público o contato com um gramado visualmente infinito instalado sobre o piso da praça.
O projeto ocupa uma área de 80 m² com a construção de um ambiente imersivo de 60 cm de altura, com paredes internas cobertas de espelhos, e o piso coberto com grama sintética. Os limites externos da construção são definidos por duas linhas de degraus em toda sua volta, que dão acesso ao espaço interior. A visão ilusória do plano infinito e da materialidade da grama se sobrepõe à realidade concreta da praça. Desta forma, o visitante é convidado a entrar no campo gramado e ali usufruir o ambiente infinito deste “parque”. Para o passante externo, o plano verde infinito parece atravessar o espaço da praça – sobre, dentro ou sob o nível do chão. Há uma superposição de paisagens que confunde a visão dos espectadores. “Parque” expõe duas realidades, o espaço construído e o imaginado, que apresentam seus extremos entre natureza e artifício. A construção dessas realidades, e o uso que fazemos dos espaços a elas associados, é o nosso sentimento de pertencer ao mundo – um misto de percepção, racionalidade e desejo.
Uma instalação composta por uma fonte de água constitui o projeto “Metro Cúbico” d´O Grupo Inteiro. Formado pelos artistas Carol Tonetti, Cláudio Bueno, Ligia Nobre e Vitor Cesar, o grupo busca manter diálogos públicos através de suas proposições estético-políticas.
A obra criada para a Mostra 3M de Arte resgata a ideia da disponibilidade da água como bem público, enquanto revela uma espécie de contradição da água como commodity, como mercadoria e como especulação, como um fator que influência em decisões políticas. Assim, a obra debate a água como assunto político na cidade, abordando oferta versus escassez, mercadoria versus bem público.
“Metro Cúbico” reflete sobre a condição histórica de ter água acessível em praça pública. Abastecido por caminhão pipa (serão utilizados cerca de 2 mil litros a cada cinco dias de exposição), o projeto, que propõe um ponto de convivência social, com seu entorno que possibilita sentar-se ou fazer manobras de skate, também inspira a relação da interação social com os monumentos (a instalação atinge 3,5 metros de altura em seu ponto mais alto), o imaginário político e estético da cidade e a memória afetiva social.
Já a artista Raquel Kogan integra em seu trabalho os múltiplos usos e sonoridades do Largo da Batata para criar “Falante”, uma instalação interativa sonora com o espaço público por meio de um grande telefone sem fio. Feito de tubos de aço, a obra não só transmite som de uma extremidade à outra, mas também o amplifica através de megafones a todos que estiverem passando por perto. "Falante é uma obra quieta e muda que só funciona se alguém falar com ela, propagando esta onda sonora tanto pelos canos como ao espaço público pelos megafones. A obra ganha significado a partir da interação do público com ela", conta Raquel.
Com “Miração”, os artistas Marcos Muzi e Rafael Cotait convidam o público a repensar o olhar sobre a sociedade (o coletivo), o outro (compartilhado com outra pessoa) e nós mesmos (individual) por meio de uma instalação em três pilares. “O projeto pretende estimular uma reflexão sobre a autoimagem, essa busca por selfies, que pode esconder ao invés de revelar.”, analisa Muzi. A dupla atua em parceria há quase uma década criando obras de interatividade com elementos de ilusão ótica, estereoscopia (imagens tridimensionais) e anamorfose (imagens distorcidas vistas a partir de um ângulo ou reflexos em espelhos que se reconstituem).
Em MIRA-NOS, símbolos, imagens e informações transformam-se, fundem-se e modificam-se quando observados a partir de pontos de vista diferentes. Os “caleidoscubos” (cubos de acrílico, elementos de imagem e lâmpadas de LED vistos a partir de espelhos) entregam sensações ao observador de acordo com seu movimento. Aqui, a compreensão do coletivo dá-se de forma individual, pois cada ponto de vista, cada luz específica, traz uma informação diferente.
Já em MIRO-TE, o observador é estimulado a olhar-se no espelho e a resposta é uma surpresa. Como experiência individual, MIRO-ME é um periscópio composto de quatro espelhos no qual o espectador observa-se em um espelho mas sua imagem refletida não é a esperada. “O ganho dessa experiência está na surpresa, no inesperado, no susto”, avalia o artista.
Um muro branco de 12 metros de comprimento e um pequeno triângulo, ambos de concreto, são justapostos em “Contraforte”, trabalho que Estela Sokol apresenta nesta edição da Mostra 3M de Arte. Com nome emprestado do vocabulário da arquitetura e combinando com seu significado, a obra se constrói por aquilo que se faz apenas estruturalmente necessário - duas formas que, juntas, se mantém em pé - e propõem diálogo com a praça pelo mínimo, pelo que pode haver de silencioso ali, espelhando medidas e faturas de outras formas e objetos vizinhos, indicando semelhanças e repetições de eixos e presenças.
No entanto, diferente dos contrafortes da história, o que este protege é uma pequena superfície triangular pintada de amarelo luminoso, uma ideia de cor-luz, que revelará diferentes nuances de acordo com os deslocamento do sol e do espectador. Em diálogo aberto com a cidade, o trabalho assim como um muro, estão silenciosamente sujeitos a intervenções que possam se dar durante sua estada no local.
A selecionada do Edital
Com uma mensagem de resistência que se evidencia na escuridão, Regina Parra, a grande vencedora do edital da 8ª Mostra 3M de Arte, assina a obra “É Preciso Continuar”, baseada no livro de Samuel Beckett “O Inominável”. O projeto é constituído por um letreiro luminoso colorido de grandes dimensões que manifesta a ideia da artista de que “se entendermos que a sociedade é construída e imaginada, também podemos acreditar que ela pode ser reconstruída e reimaginada”.
Mestre em Teoria e Crítica da Arte pela Faculdade Santa Marcelina e bacharel em Artes Visuais pela Faap, a artista realizou exposições individuais na Galeria Millan (SP), Pivô (SP), Centro Cultural São Paulo, Galeria Leme (SP), Fundação Joaquim Nabuco (PE) e Paço das Artes (SP), além de diversas coletivas nacionais e internacionais. Sua obra faz parte do acervo de instituições como Pinacoteca de São Paulo, Instituto Figueiredo Ferraz e VideoBrasil.
Em um momento de transformações urbanas e digitais dentro da sociedade, a Mostra 3M de Arte compreende a importância de estar em espaços democráticos para a exibição e interação do público com a arte como um agente de diversidade e modificação do espaço social. A oportunidade de ter uma obra exposta na mostra consiste na valorização artística do trabalho pertencente a um projeto já estabelecido que é realizado há oito anos e já apresentou renomados artistas nacionais e internacionais, como Guto Lacaz, Giselle Beiguelman, Paulo Bruscky, Nicola Constantino e Bill Viola.
Ao apresentar a Mostra, a 3M também promove a cultura e a arte, importantes instrumentos para a transformação social do nosso país, além de incentivar a promoção de uma arte disruptiva e de vanguarda. Depois de sete edições, com um público visitante de mais de 200 mil pessoas, a Mostra celebra seu segundo ano no Largo da Batata, o que democratiza ainda mais a arte e a aproxima do cotidiano das pessoas. O evento visa inspirar a todos que passarem por esta grandiosa instalação a céu aberto, promovendo uma reflexão diferente sobre o espaço público, sobre a arte e suas vertentes. “A Mostra visa inspirar a todos que passarem por estas grandiosas instalações a céu aberto, promovendo uma reflexão diferente sobre o espaço público, sobre a arte e suas vertentes.”, destaca Luiz Serafim, head de Marketing Corporativo da 3M.
O evento conta ainda com o espaço container.art - que nesta edição da mostra está configurado como um estúdio de arte - oferece oficinas gratuitas destinadas ao público com temas conectados a ciência e arte, coordenadas pela arte educadora Vera Barros, todos os dias, das 8h às 20h.
Vera implantou o Departamento Educativo do Museu de Arte Moderna de São Paulo – o Educativo MAM – São Paulo, entre 1997 e 2005, colaborou como consultora para a Escola São Paulo na conceituação e produção de sua programação em 2007 e desenhou e executou projetos educativos, formação de equipes para instituições culturais e museus, formação de professores, seminários e palestras sobre arte educação, além de pesquisa, elaboração de textos e projetos gráficos em várias cidades do Brasil e nos Estados Unidos.
Além das oficinas, Vera coordena as visitas guiadas e as informações sobre as obras, artistas e oficinas do container.art, que estarão presentes no site da mostra em um catálogo digital, disponível a partir da abertura. Na grade de atividades, destaque para as oficinas "Máscaras Faciais", "Jornalista por um Dia", "O Outro no Espelho" e "Telefone de Lata".