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setembro 24, 2018
Cesar Oiticica Filho no MAM, Rio de Janeiro
O artista, cineasta e fotógrafo mostra uma série de vídeos, fotografias, videoinstalações, realidade virtual e obras interativas como desdobramento de sua pesquisa sobre o fim da fotografia na era digital.
O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro inaugura no próximo dia 1º de setembro de 2018, das 15h às 18h, a exposição Metaimagens, com aproximadamente quinze trabalhos inéditos de Cesar Oiticica Filho, desdobramento de sua investigação poética sobre o fim da fotografia na era digital. Nesta mostra, o artista associa a destruição parcial de seu trabalho e equipamento em 2009 ─ ocorrida no incêndio do Projeto Hélio Oiticica, de que é curador ─ à substituição da imagem fotográfica pela digital, abordada nos diferentes núcleos que formam a exposição.
“Há dez anos eu já estava discutindo do fim da fotografia, e com o incêndio, objetiva e literalmente, isso ocorreu”, comenta o artista. As fotos “derretidas” viraram “outra coisa”. A exposição traz outra reflexão, a de que a digitalização da fotografia cria sua transformação em “imagem”, “manipulada e banal, onde perde a credibilidade”.
Em trabalhos anteriores, Cesar Oiticica Filho havia experimentado a mídia fotográfica colorida “até o esgotamento das possibilidades e do material, cortando a emulsão com a luz, usando feixes de luz muito fortes como laser e lanternas de alta potência direto no papel fotográfico”.
Nesses novos trabalhos, o artista articula – a partir da destruição pelo fogo do seu próprio trabalho e equipamento – a transformação da fotografia em imagem digital e os desdobramentos desse meio em pintura, cinema, realidade virtual e objetos, onde ganha materialidade. “Essa vocação transmidiática do artista permitiu o atravessamento generalizado dos diversos campos em que a produção visual era segmentada em áreas autônomas (como vídeo, fotografia, filme, publicações e pinturas)”, acentua o curador Fernando Cocchiarale.
A obra central da exposição, “Núcleo Metaimagético” (2018), é uma grande instalação composta por uma série de lâmpadas cercadas por dezenas de imagens dos negativos e cópias danificadas pelo fogo, “formando em torno da luz um núcleo que representa o final da imagem fotográfica e o início de uma série de possibilidades, mostradas nas demais obras da exposição”, comenta o artista.
Outro grupo de trabalhos é o constituído pela série “Metaimagem” (2018), com quatro impressões em tela das fotos danificadas pelo incêndio, que ganham intervenções de pintura sobre as partes derretidas, e têm dimensões de 82cm x 51,5cm cada uma.
TRILOGIA “BRASIL 2016”
Na parte direita do foyer, que dá para o Pão de Açúcar, o público verá a trilogia “Brasil 2016” (2016), um conjunto de três jarros de vidro, os transobjetos, com aproximadamente 20cm de diâmetro e 30cm de altura cada um, em que o artista discute as questões do país de forma poética. “Talvez sejam as obras de significado mais óbvio na exposição”, observa ele. O primeiro contém uma porção de grãos de feijão contornada por grãos de arroz. O segundo traz uma vela de gel acesa sobre água, e o terceiro dois óleos de diferentes densidades e cores, de soja e de dendê, disputam o espaço.
Na parede do fundo do foyer, serão projetadas as obras mais próximas do cinema, animação e vídeo, como o filme performance “É Tudo Verdade” (2003), originalmente em Super 8 depois transferido para digital, “Para os seus olhos somente” (2018, 8’), e “A Dança da Luz” (2003), um filme in progress, feito a partir da primeira versão da obra “Caixa de Dança”, apresentada na exposição individual "A Dança da Luz", no Museu Nacional de Belas Artes, em 2003..
REALIDADE VIRTUAL
Explorando a técnica da realidade virtual, “que coloca a pessoa dentro da imagem”, Cesar Oiticica Filho propõe em “Rolezinho” (2017, filme 360º, com smartphone, óculos de realidade virtual e headphones) um “delírio deambulatório” como os de Hélio Oiticica (1937-1980), em um alucinante deslocamento por skate pelas ruas de Nova York.
No final do percurso expositivo, o artista propõe o visitante a “parar, fechar os olhos e se deitar para se voltar ao corpo, ao aqui e agora, despertando outros sentidos adormecidos pela enxurrada de imagens recebidas”. Isto poderá ser feito na instalação sensorial “SolAr” (2018), em que uma lâmpada de luz forte age simultaneamente a um ventilador, de modo a ativar a sensação de frio/calor, como um “antídoto para não ser engolido pela ditadura da imagem, que nos chegam em grande volume diariamente”.
NOS PILOTIS DO MAM
Em meados de setembro, serão inauguradas duas outras obras interativas nos pilotis do MAM:
• “Caixa de Dança 1” (2002), em que dois macacões cobertos por LEDs estarão à disposição do público para serem vestidos. Uma câmera digital captará os movimentos do expectador participante, que depois receberá por email as imagens.
• “Caixa de Danca 5.0” (2018), uma grande instalação composta por quatro telas translúcidas dispostas como paredes de um cubo, com 6 metros de face, em algodão muito fino, onde são projetadas imagens, vistas tanto do lado de fora como de dentro. Dessa forma, as imagens em movimento estão em sentido de fuga quando vistas do lado interno, e são convergentes, do outro lado, como que atingindo o espectador que está fora do cubo, criando a sensação de contração/expansão, dependendo do ponto de vista. O espectador poderá também dançar, ao som da música que integra a obra.
CINEMATECA DO MAM
Na Cinemateca do MAM será apresentado ao longo da exposição o filme “Hélio Oiticica” (2012), com 94’, dirigido e produzido por Cesar Oiticica Filho, premiado no Festival de Berlim em 2013 pela Fédération Internationale de la Presse Cinématographique (FIPRESCI), e pelo Caligari (pela inovação da linguagem cinematográfica), sendo o primeiro brasileiro a receber esta premiação. Ainda em 2013, o filme recebeu o Prêmio Especial do Júri no Festival do Livro e do filme de Arte em Perpignam, França.
SOBRE CESAR OITICICA FILHO (1968, Rio de Janeiro, RJ)
Nascido no Rio, foi criado em Manaus até os 18 anos, quando voltou à cidade natal. Retornou diversas vezes a Manaus, e fixou definitivamente residência no Rio em 1997, quando assumiu a curadoria do Projeto Hélio Oiticica. Formou-se em Comunicação Social em 1992, pela Faculdade da Cidade, e cursou cinema na New York Film Academy, em Londres, em 2007. Aos treze anos fez o seu primeiro curso de fotografia em Manaus. Aos dezesseis anos de idade integrava o catálogo da 1ª Fotonorte, mostra nacional feita pela FUNARTE com os principais fotógrafos da região norte do país. Sua primeira exposição individual foi no Teatro Amazonas, em Manaus em 1996. Trabalha com cinema, e arte contemporânea. Inventou uma nova técnica que transita entre a pintura e a fotografia, apresentada em 2003 na exposição "A Dança da Luz", no Museu Nacional de Belas Artes. É há 17 anos curador do Projeto Hélio Oiticica. Entre seus principais trabalhos estão as curadorias de “Rhodislandia”, na OM_Art, no Jóquei Clube de Rio de Janeiro, em 2018, e de “José Oiticica Filho”, junto com Carlo Cirenza, no MIS de São Paulo, em 2016. Em 2015 participou da XII Bienal de Havana, e em 2014 de “Brasil x Brasil”, no Museu de Artes Aplicadas, em Frankfurt, Alemanha. Em 2013, participou da Bienal de Moving Image B3, em Frankfurt, Alemanha, onde ministra uma master class. Em 2011 realiza o filme “Museu é o Mundo” (Brasil, 2011, 12’), um making off da exposição “Museu é o Mundo”, de que foi curador, junto com Fernando Cocchiarale, uma retrospectiva de Hélio Oiticica, que percorreu em 2010 quatro cidades no Brasil e ganhou o Prêmio APCA. Em 2011 também mostra seus trabalhos inéditos em “Quântica”, no Centro Cultural da Justiça Federal, Rio de Janeiro. Em 2008, faz o curta “Invenção da Cor” (Brasil, 2008, 7’), sobre o “Penetrável Magic Square 5”, de Hélio Oiticica, no Instituto Cultural Inhotim, em Minas Gerais. Em 2007 realiza a ação “É Tudo Verdade”, com Carlo Cirenza, no Rio de Janeiro, saindo ao mar com uma jangada que traz impressa na vela a imagem de Pelé. No mesmo ano, cursa cinema na New York Film Academy, em Londres. Em 2006, participa do Arte Pará, selecionado por Paulo Herkenhoff, com o trabalho “Pintura Quântica”. Em 2005 foi apontado pela revista “Photo” francesa como uma das revelações da nova geração de fotógrafos brasileiros, com o trabalho “Mulheres luz”.