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setembro 22, 2018
Julio Le Parc na Nara Roesler, Rio de Janeiro
Com a presença do consagrado nome da arte cinética mundial, a Galeria Nara Roesler | Rio de Janeiro inaugura Julio Le Parc: obras recentes, em homenagem aos 90 anos do artista, a serem completados dia 23 de setembro. A exposição traz pinturas inéditas da série Alchimie, uma escultura da série Torsion (2004), um móbile da série Continuel, e Alchimie Virtuel, com tecnologia que permite ao espectador adentrar o universo do artista. A obra, em realidade virtual, atualiza a questão da virtualidade que Le Parc vem explorando há mais de 50 anos, como nas pinturas Réels et virtuels / serie Surface noir et blanc (anos 50), Volume Virtuel (anos 70), e nas esculturas Cercle Virtuel (anos 60). Por antecipar essa discussão, Le Parc tornou-se reconhecidamente um visionário que sempre acreditou no poder libertário que a arte tem em despertar nossas faculdades perceptivas.
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“Retomar contato com as obras e as ideias de Le Parc quando ele completa seus 90 anos é uma oportunidade de reativar essa crença no papel emancipatório da arte – hoje sem o dogmatismo que regia suas ideias iniciais junto ao grupo de arte cinética – e a esperança de que ela seja portadora de uma oportunidade de transformação”, escreve Rodrigo Moura, em seu texto para a exposição.
As “alquimias” atuais, em acrílica sobre tela, são trabalhos em grande escala, concebidos a partir de vários estágios de desenhos e de pinturas menores que se expandem em composições modificadas progressivamente. “Em algumas pinturas vemos um grande centro preto que, circulado por uma sobreposição de cores agrupadas e sobrepostas, parece atomizado, o que provoca um efeito simultaneamente desorientador e hipnótico”, diz Le Parc. A série Alchimie foi iniciada em 1988, em forma de pequenos esboços surgidos a partir de observações fortuitas do artista e que, aos poucos, foram concretizadas. “Aqui Le Parc está mais uma vez interessado na ideia de permutação cromática e de refração da luz na superfície, criando possibilidades de vibração a partir de planos sobrepostos, círculos concêntricos, espirais e fitas de Moebius”, afirma Moura. O crítico também destaca “a capacidade de evocação ambiental, como se cada tela fosse um corpo espacial com profundidade e luminosidade próprios, reativando o dilema olho/corpo, um antigo problema colocado pela obra de Le Parc”.
Em Torsion, o artista reafirma essa persistência em uma experimentação contínua, em que cada novo conjunto de obras tem suas raízes no que já desenvolveu. A série de esculturas às quais o artista se dedica desde o fim da década de 1990, está ligada ao espírito dos primeiros relevos, especialmente dos "volumes virtuais" desenvolvidos nos anos de 70. A contundente presença do aço inox, esse material de superfície acetinada, permite múltiplas mudanças devido a sua maneira de atrair a luz. Para Rodrigo Moura, a questão que se coloca de forma mais evidente é a da incidência da luz do ambiente sobre os filetes de aço inoxidável. “Evoca-se uma dimensão de duração à medida que nos deslocamos em torno delas, como se fossem micro espelhos imperfeitos ou fragmentos de labirintos. Por isso, quanto mais extensão, maiores as possibilidades”.
Julio Le Parc (n. 1928, Mendoza, Argentina) vive e trabalha em Cachan, na França. O artista apresenta ao espectador uma visão divertida e desmistificada da arte e sociedade por meio de suas pinturas, esculturas e instalações perceptualmente ilusórias. Le Parc faz interagir cor, luz, sombra e movimento de modo que as formas aparentem movimento, estruturas sólidas se desmaterializem, e a própria luz pareça plástico. Como co-fundador do Groupe de Recherche d’Art Visuel (GRAV), trabalhou para romper os limites na arte e a participação de espectadores contribuiu diretamente com suas famosas esculturas cinéticas e ambientes de luz.
A partir de 1960, no entanto, começou a desenvolver uma série de obras distintas que utilizavam a luz “leitosa”: esses objetos, geralmente construídos com uma fonte lateral de luz branca que era refletida e quebrada por superfícies metálicas polidas, combinavam um alto grau de intensidade com uma expressão sutil de movimento contínuo.
As obras de Le Parc foram tema de inúmeras exposições individuais na Europa, América Latina e Estados Unidos, em instituições como o Pérez Art Museum, Miami, EUA (2016); Museum der Kulturen Basel, Basel, Suíça (2015); Bildmuseet, Umea, Suécia (2015); Malba, Buenos Aires, Argentina (2014); Palais de Tokyo, Paris, França (2013); Biblioteca Luiz Angel Arango, Bogotá, Colômbia, (2007); Laboratorio Arte Alameda, Cidade do México, México (2006); Castello di Boldeniga, Brescia, itália (2004) entre outras. O artista também fez parte de diversas exposições coletivas e bienais como: a Bienal Internacional de Curitiba, Curitiba, Brasil (2015); Bienal do Mercosul, Porto Alegre, Brasil (1999); Bienal de Havana, Havana, Cuba (1984); Bienal de São Paulo (1967), a Bienal de Veneza em 1966 (quando recebeu o Prêmio) e a polêmica exposição do MoMA, The Responsive Eye (1965). Como ato de protesto contra o regime militar repressivo no Brasil, ele se juntou a artistas no boicote da Bienal de São Paulo em 1969 e publicou um catálogo alternativo de Contrabienal em 1971. As obras coletivas posteriores de Le Parc incluem a participação em movimentos antifascistas no Chile, El Salvador e Nicarágua. Recentemente, Le Parc tem sido objeto de grandes retrospectivas, como Form into action no Pérez Art Museum, Miami, EUA (2016), Julio Le Parc na Serpentine Gallery, Londres, Reino Unido (2014); Le Parc: Lumière no MALBA, Buenos Aires, Argentina (2014); Soleil froid no Palais de Tokyo, Paris, França (2013); Le Parc lumière na Casa Daros, Rio de Janeiro, Brasil (2013); e da exposição Dynamo no Grand Palais, Paris, França (2013).
With the presence of the world-renowned name of kinetic art, on September 25 Galeria Nara Roesler | Rio de Janeiro is inaugurating Julio Le Parc: obras recentes [Julio Le Parc: Recent Works] in honor of the artist’s 90th birthday (September 23). Accompanied by a text by Rodrigo Moura, the exhibition features new paintings from the Alchimie series, a sculpture from the Torsion (2004) series, a mobile from the Continuel series, and Alchimie Virtuel, with technology that allows the spectator to enter the artist’s universe. This work, in virtual reality, updates the question of virtuality that Le Parc has been exploring for more than 50 years, including in the paintings Réels et virtuels / series Surface noir et blanc (1950s), Volume Virtuel (1970s), and the sculptures Cercle Virtuel (1960s). By anticipating this discussion, Le Parc became widely recognized as a visionary.
“Resuming contact with Le Parc’s works and ideas as he turns 90 years old is an opportunity for reactivating this belief in the emancipatory role of art – today without the dogmatism that ruled his initial ideas from within the kinetic art group – in the hope that it brings an opportunity for transformation”, writes Rodrigo Moura, in the text he wrote for exhibition.
The current “alchemies,” in acrylic on canvas, are large-scale works, conceived based on various stages of drawings and smaller paintings that are expanded in progressively modified compositions. “In some paintings we see a large black center which, surrounded by an overlapping of grouped and overlaid colors, appears atomized, giving rise to a simultaneously disorienting and hypnotic effect,” says Le Parc. The Alchimie series was begun in 1988, in the form of small sketches that arose based on chance observations by the artist, which were gradually realized. “These “alchemies” are part of my living adventure, expressed in my work as an experimental artist,” Le Parc says.
In Torsion, the artist reaffirms this persistence in a continuous experimentation, in which each new set of artworks is rooted in what has been previously developed. The series of sculptures – which in monumental sizes occupy public spaces of countries such as Mexico, Portugal and the United States – is linked to the spirit of his first reliefs, especially the “virtual volumes” developed in the 1970s. Even though the artworks in the Torsion series are not virtual, but real with the striking presence of stainless steel, this material, by its satiny surface, allows multiple changes due to the way it attracts light. The investigation of the effects of light on the surface of bodies in movement can also be seen through the hypnotic effect of his mobiles, represented in the exhibition by the specimen Continuel Mobile Miroir (2017).
Julio Le Parc (b. 1928, Mendoza, Argentina) lives and works in Cachan, France. The artist presents the spectator with a fun and demystified view of art and society through his perceptually illusory paintings, sculptures and installations. Le Parc makes color, light, shadow and movement interact in a way that makes the shapes seem to move, solid structures to dematerialize, and light itself to appear plastic. As a cofounder of the Groupe de Recherche d’Art Visuel (GRAV), he worked to break the limits in art, and the participation of spectators directly contributed to his famous kinetic sculptures and light environments.
From the 1960s onward, however, he began to develop a series of different works that used “milky” light: these objects, generally constructed with a lateral source of white light that was reflected and broken up by polished metal surfaces, combined a high degree of intensity with a subtle expression of continuous movement.
Le Parc’s works have been the theme of countless solo shows in Europe, Latin America and United States, in institutions such as Pérez Art Museum, Miami, USA (2016); Museum der Kulturen Basel, Basel, Switzerland (2015); Bildmuseet, Umea, Sweden (2015); Malba, Buenos Aires, Argentina (2014); Palais de Tokyo, Paris, France (2013); Biblioteca Luiz Angel Arango, Bogotá, Colombia, (2007); Laboratorio Arte Alameda, Mexico City, Mexico (2006); Castello di Boldeniga, Brescia, Italy (2004), and others. The artist has also participated in various group shows and biennials such as: the Bienal Internacional de Curitiba, Curitiba, Brazil (2015); the Bienal do Mercosul, Porto Alegre, Brazil (1999); the Bienal de Havana, Havana, Cuba (1984); the Bienal de São Paulo (1967), the Biennale di Venezia in 1966 (when he received the Prize) and the controversial exhibition at MoMA, The Responsive Eye (1965). As an act of protest against the repressive military regime in Brazil, he joined artists in the boycott of the 1969 Bienal de São Paulo and published an alternative catalog Contrabienal in 1971. Le Parc’s later collective works include the participation in anti-fascist movements in Chile, El Salvador and Nicaragua. Recently, Le Parc has been the object of large retrospectives, such as Form into Action at Pérez Art Museum, Miami, USA (2016), Julio Le Parc at Serpentine Gallery, London, United Kingdom (2014); Le Parc: Lumière at MALBA, Buenos Aires, Argentina (2014); Soleil froid at Palais de Tokyo, Paris, France (2013); Le Parc lumière at Casa Daros, Rio de Janeiro, Brazil (2013); and the exhibition Dynamo at the Grand Palais, Paris, France (2013).