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setembro 16, 2018
Alfredo Volpi e Ione Saldanha na Ipanema, Rio de Janeiro
A mostra homenageia o grande artista ítalo-brasileiro em seus trinta anos de morte, e cria um diálogo com a artista gaúcha radicada no Rio, em mais de 80 obras no total, que revelam as semelhanças na pintura de ambos.
A Galeria de Arte Ipanema apresenta, a partir do próximo dia 24 de setembro, às 19h, a exposição Alfredo Volpi e Ione Saldanha: o frescor da luminosidade, que homenageia o grande artista Alfredo Volpi (1896-1988) em seus trinta anos de morte, reunindo 66 obras suas em diálogo com outros 20 trabalhos de Ione Saldanha (1919 – 2001), com curadoria de Paulo Venancio Filho. Na abertura da exposição, será lançado um livro-catálogo editado pela Barléu, com texto do curador e imagens do fotógrafo Rômulo Fialdini. As obras que compõem “Alfredo Volpi e Ione Saldanha: o frescor da luminosidade” pertencem a importantes acervos privados no Brasil, como o do Instituto Volpi.
Foi de Volpi a primeira obra adquirida pela Galeria de Arte Ipanema, em 1965, ano em que foi criada. Além de representado pelo espaço de arte, Volpi foi pelas décadas seguintes amigo próximo da família responsável pela galeria. Ao longo de sua história, a galeria sempre realizou mostras com obras do artista, em especial as individuais em 1974, 1979, 1999 e 2003. Luiz Sève lembra que uma de suas “obrigações” quando viajava para a Europa era trazer para Volpi não somente os tubos de tinta que ele usava, como o queijo italiano pecorino, sua paixão, difícil de encontrar no Brasil.
Nesta mostra agora, a ideia é aproximar o universo de Volpi com o de Ione Saldanha. “Volpi é o inventor da alegria na pintura brasileira. A mesma que se encontra nos bambus de Ione”, afirma Paulo Venancio Filho, que aponta muitas semelhanças entre os dois artistas. "A simplicidade rítmica de porta e janela das casas modestas, de casarões e sobrados se transferiram para a pintura de ambos. (...) Absorvem não só a geometrização arquitetural, também as cores, simples, claras, timidamente puras, caracterizam essa pintura na margem do construtivismo brasileiro, nem concretista, nem neoconcretista estrito”. “Não é só a desconsideração dos fatos e da cor local que caracteriza desde seu início a pintura de Volpi, em Ione é também ausente o elemento literário, narrativo, alegórico. Todos esses elementos tão sugestivos ambos vão desconsiderar, ignorar, e propor um espaço de construção, um ambiente real e abstrato, vivo. Para isso contribui a lírica contida, não derramada, antirretórica que um e outra manifestam. Ambos falam pouco, numa sintaxe de poucos elementos, direta, resultado de uma aquisição rigorosa e econômica dos meios pictóricos próprios”.
“As ’bandeirinhas’ de Volpi e o bambu de Ione têm conexões próximas”, salienta o curador. Para ele, as “bandeirinhas” de Volpi e o bambu de Ione têm conexões próximas. “A ‘bandeirinha’ é uma forma, o bambu um objeto, mas a bandeirinha é também um objeto e o bambu uma forma. A proximidade e afastamento, a correlação entre forma e objeto é o que desperta o interesse”. “Ninguém tinha pintado antes num bambu, mas ele estava lá e Ione o encontrou. E se transformou em uma ‘tela’ cilíndrica, um objeto pictórico. O bambu não tem lados, frente e verso, é uma superfície contínua, circular. E há ainda uma conexão plástica entre a verticalidade natural dos bambus e os mastros de Volpi, as tão frequentes diagonais que atravessam as telas de alto a baixo”, destaca.
PEQUENA CRONOLOGIA DE VOLPI E IONE
Volpi nasceu em Lucca, Itália, em 1896. Ione em 1919, em Alegrete, Rio Grande do Sul. Uma diferença de 23 anos os separa. É pouco provável que tenham se conhecido pessoalmente. Que um tenha visto a pintura do outro é bastante possível. Estiveram juntos em algumas exposições. Viveram vidas bastante diferentes; Volpi no Cambuci, bairro então operário de São Paulo, Ione, no Rio de Janeiro, diante do mar do Leblon, onde morava. São os anos 1950 do século passado que os aproximam; os anos dominantes da abstração e das tendências construtivas, embora, nem um nem outro sejam por estas, estritamente, caracterizados. E é isso que os distingue e indica a discreta afinidade entre os dois. Anteriormente, Volpi, em Itanhaém, litoral de São Paulo, e Iole, em Ouro Preto, tinham dado atenção à singeleza esquemática da arquitetura urbana popular brasileira. Fizeram viagens importantes para a Europa praticamente na mesma época, Ione, pela segunda vez, em 1949, Volpi pela primeira em 1950. Estiveram juntos na II Bienal de São Paulo em 1953. Volpi teve sua primeira grande retrospectiva em 1957, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, apresentada por Mário Pedrosa. Em 1956 e 1957 é convidado a participar das Exposições Nacionais de Arte Concreta e mantém contato com artistas e poetas do grupo concreto. Nos anos 1960 e 1970 retorna a elementos pictóricos anteriores como as fachadas e as bandeirinhas. A primeira importante individual de Ione foi também realizada no MAM do Rio de Janeiro em 1959. A partir de 1966, abandona a pintura em tela e inicia os bambus, ripas e carretéis. Ambos participaram ainda de outras Bienais de São Paulo, exposições coletivas e individuais em museus e galerias. Alfredo Volpi faleceu em 1988, com 92 anos, e Ione Saldanha em 2001.