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setembro 16, 2018
Matheus Rocha Pitta no BNDES, Rio de Janeiro
O Espaço Cultural BNDES e Rosa Melo Produções Artísticas abrem ao público, no Rio de Janeiro, a nova exposição de Matheus Rocha Pitta, Caminho da Pedra, com inauguração na sexta (21/9) a partir das 18h. A mostra tem curadoria de Luísa Duarte e articula quatro diferentes obras da trajetória recente do artista em uma única e inédita instalação, pensada especialmente para o espaço da Galeria BNDES.
Os trabalhos, datados de 2014 a 2018, são construídos em um agenciamento no qual a poesia nasce do encontro com uma realidade hostil, assim como no poema de Carlos Drummond de Andrade, que batiza a exposição. O artista realiza aqui uma operação poética na qual instaura uma subversão fina: faz do encontro com o obstáculo um acontecimento capaz de gerar afetos outros que não o imobilismo, ou melhor, entende o imobilismo (a petrificação), a incapacidade de agir, como uma potência. As quatro obras – Ao Vencedor as Batatas (2016), Sopa de Pedra (2014), Leite de Pedra (2018), e Primeira Pedra (2015) – surgem dispostas no chão da galeria, sob uma luz fria e baixa, como que convocando uma aproximação cuidadosa, permeada pelo silêncio, na contramão de uma atenção dispersa tão comum na atualidade.
No conjunto de trabalhos, o tênue equilíbrio entre peso e delicadeza é constante e cuidadosamente perseguido. “Esse é o caminho da pedra: conseguir responder aos impedimentos com delicadeza”, diz Rocha Pitta. Em julho deste ano, a comunidade da Maré participou do projeto escultórico “Leite de Pedra”, em um processo de colaboração no qual mais de mil litros de leite foram trocados por pedras com população local. Acomodadas nas embalagens de leite e preenchidas com cimento, as pedras formam os tijolos da escultura exposta no BNDES. “Tirar leite de pedra é uma expressão popular que significa fazer algo impossível. De uma certa forma, traduz o famoso dito de Hélio Oiticica: da adversidade vivemos. ‘Leite de Pedra’ pretende fazer tal adversidade visível”, pontua o artista.
O programa educativo da exposição Caminho da Pedra é coordenado por Débora Oelsner Lopes em parceria com as arte-educadoras Mariane Rodrigues e Pamela Carvalho, da ONG Redes da Maré. Em cartaz até o dia 30/11, a mostra tem entrada franca.
O ARTISTA
Mineiro, radicado no Rio de Janeiro há 20 anos, Matheus Rocha Pitta sedimentou interesses e estratégias que permitem identificar, em uma obra que se adensa a cada novo trabalho, enunciado crítico sobre os gestos que regem a vida comum. O artista remove os gestos de seu fundo biográfico e os apresenta como atos estéticos com uma dimensão histórica. Através do uso de fotografias, vídeos, esculturas e instalações, Rocha Pitta constrói seu próprio repertório de gestos, ativados diretamente com o público de suas exposições. Sem apelar para enunciados discursivos de disciplinas que tomam os gestos de troca como objeto de investigação (economia, filosofia, política), Rocha Pitta articula objetos e imagens que inventa para gerar conhecimento que não cabe nesses campos de estudo, mas que assumem implicações éticas de grande alcance.