|
setembro 12, 2018
Guga Ferraz na Artur Fidalgo, Rio de Janeiro
Em sua primeira individual na Artur Fidalgo galeria, Guga Ferraz (Rio de Janeiro, 1974) apresenta uma série de obras inéditas, entre desenhos e esculturas realizadas de 2014 para cá. Com o título de Alegoria - Mula sem cabeça ou a cidade que casou com o Bispo, a exposição elege como ponto de partida a mítica lenda da mula, presente no imaginário de diferentes culturas, e adapta sua narrativa ao contexto político do Rio de Janeiro, cidade onde vive e trabalha.
Em cerca de duas décadas de produção, o artista explora a cidade e o tecido urbano em obras cujos desdobramentos tomam a forma de performances, instalações, esculturas, desenhos, fotografias e interferências diretas no espaço da urbe. A vivência da cidade - e mais especificamente, da rua - apresenta-se como elemento fundamental para compreender o corpo de sua obra, cujas influências também são diretamente atravessadas pela cultura do skate e por sua formação inicial em arquitetura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Seus trabalhos frequentemente ativam a memória do espaço urbano e alteram suas dinâmicas. É o caso de “Até onde o mar vinha. Até onde o Rio ia” (2010), em que Guga demarca uma linha de 200 metros de sal grosso no Centro da cidade, aludindo ao ponto geográfico que a água do mar atingia antes das diversas reformas urbanas que sucederam-se no desenrolar do século XX, no Rio de Janeiro. No corpo de sua obra, a cidade revela-se não apenas objeto ou personagem, mas também sujeito central, ativo.
Como um cronista de seu tempo, o artista explora as complexidades das dinâmicas urbanas do Rio de Janeiro, questionando o status político da cidade, tanto nas contradições da gestão do atual prefeito Marcelo Crivella quanto dentro do contexto da intervenção das Forças Armadas em curso na capital carioca. Na presente exposição, o artista lança mão de uma narrativa mítica para refletir sobre tópicos como a institucionalização do estado de guerra e a estetização da violência, em meio ao turbulento cenário da cidade e do país. Sua alegoria refere-se, assim, tanto a uma tentativa de leitura metafórica de seu tempo quanto a dimensão carnavalesca do termo, em que o carnaval revela-se como resposta, escapismo ou rebeldia diante do espírito de época atual.