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setembro 6, 2018
Elvis Almeida na dotART, Belo Horizonte
Grandes pinturas coloridas dispostas ao lado de outras de pequenas dimensões ensaiam uma espécie de cadência musical personalizada. Assim é a exposição do artista Elvis Almeida, Revelação durante o nascimento de uma gota, com curadoria de Efrain Almeida e Wilson Lazaro. A abertura está programada para 15 de setembro na dotART galeria, com lançamento do catálogo.
Idealizada especialmente para o espaço, a mostra teve uma temporada prévia no Paço Imperial, no Rio de Janeiro, de 28 de junho a 26 de agosto. O recorte traz uma série de 21 obras inéditas, construídas em suportes como papéis, madeiras e lonas, e que exibem cenas limítrofes entre figuras e abstrações, com repetições de círculos, pontos, linhas e listras. São imagens que geram incertezas, atemporais, mas com um que de tecnológico, distante do nosso tempo.
“É interessante pensar a produção de Elvis Almeida no contexto atual. Ele, diferente de muitos da mesma geração, que optam por uma produção afinada com meios ‘não tradicionais’, marca uma posição distinta, não só por eleger a pintura como seu meio expressivo, mas também por criar procedimentos pictóricos, escala cromática e imagens que o distanciam esteticamente dos seus pares, mesmo os pintores”, observa o curador Wilson Lazaro, diretor artístico da dotART.
A partir de uma metodologia pessoal, e sem trabalhar com referências reais ou imaginárias, o artista articula formas, cores e gestos de maneira singular e dinâmica, em constante tensão. As obras têm apelo sensorial e alegre, apesar das formas geométricas, e não trazem soluções a priori. “Eu me esforço em ser fiel ao traduzir poeticamente as dúvidas que vão surgindo em meu próprio caminho, no percurso entre a vida e o fazer artístico, deixando em segundo plano questões como a repercussão ou a visibilidade que minha pintura possa ter ou não ter”, expressa Elvis Cavalcante, reconhecendo que não busca controlar o tipo de sensações que sua pintura possa provocar.
O curador Wilson Lazaro aponta o caminho suspeito de origem dessas imagens. “Elas guardam proximidades com o grafite ou com a linguagem dos quadrinhos e com as imagens oriundas da mídia de massa”, presume Lazaro. A proposta fica mais clara ao se conhecer a história do artista e de seu ambiente de trabalho. Elvis Almeida nasceu na Zona Norte do Rio de Janeiro, filho de uma família de nordestinos, e integra a primeira geração da família que cursou faculdade – a Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde se formou em Gravura.
Coerentemente, o artista fixou seu ateliê em Ramos, na Zona Norte, ao lado da linha do trem, onde divide espaço com amigos de infância, também do universo das artes, do grafite, da tatuagem e da música. “Fico bem feliz em ver tanta gente extremamente jovem e plural – periférica, negra, feminista, libertária, não binária – interessada por arte e por fazer arte. É algo muito animador”, expressa Elvis.
Ao terminar a faculdade, Elvis Almeida se tornou assistente do artista plástico Luiz Zerbini. Foi ele que o nomeou como “o melhor pintor do Brasil”, ao fim da exposição individual “Certezas para dobrar”, na galeria Mercedes Viegas, no Rio, no fim de 2016. O elogio foi feito inicialmente no Facebook, mas reverberou na imprensa e chamou a atenção da crítica e de instituições, inclusive, internacionais. Em 2017, Elvis cravou duas mostras individuais – “O cotidiano das estruturas familiares”, no Oi Futuro Flamengo, no Rio; e “Ponta Seca Torta / Faca Cega”, no Galpão Fortes D'ALoia & Gabriel (antiga galeria Fortes Vilaça), em São Paulo –, além de participar de três coletivas, no Sesc Pompeia, em São Paulo; na C.galeria e na Caixa Cultural, ambas no Rio.
“Existem muitas cascas na pintura esperando para serem quebradas, tenho pressa, mas preciso tomar cuidado para não acelerar. Fora da pintura ainda existe um campo enorme para ser explorado! A diversão está apenas começando!”, promete o artista.
Elvis Almeida nasceu em 1985 no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha. Graduou-se em Gravura na UFRJ, em 2013, e frequentou cursos de Serigrafia na Escola de Artes Visuais do Parque Lage e de História da Arte na ONG Redes da Maré, todos no Rio de Janeiro. Suas exposições individuais incluem: “Revelação durante o nascimento de uma gota”, pensada para a dotART galeria, mas exposta inicialmente no Paço Imperial (Rio de Janeiro, 2018); “Ponta Seca Torta / Faca Cega”, no Galpão Fortes D’Loia & Gabriel (São Paulo, 2017); “O cotidiano das estruturas familiares”, no Oi Futuro Flamengo (Rio de Janeiro, 2017); “Certezas para dobrar”, na Mercedes Viegas Arte Contemporânea (Rio de Janeiro, 2016); “Uma cidade de xapisco dividida por um muro de cau”, na Amarelonegro Arte Contemporânea (Rio de Janeiro, 2010).
Entre as coletivas, destacam-se: o 20º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil, no Sesc Pompeia (São Paulo, 2017); “Pintura”, na Caixa Cultural (Rio de Janeiro, 2017); “Um desassossego”, na Galeria Estação (São Paulo, 2016); “Oito artistas”, na Mendes Wood DM (São Paulo, 2016); “Gramática urbana”, no Centro de Arte Hélio Oiticica (Rio de Janeiro, 2012); “Arte Pará”, na Fundação Romulo Maiorana (Belém, 2011); “Reality reimagined”, na Modified Arts (Phoenix, 2010) e VI Bienal Internacional de Arte da Bolívia (La Paz, 2009).