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setembro 6, 2018
Rodrigo Braga na Anita Schwartz, Rio de Janeiro
Artista mostra trabalhos feitos especialmente para esta sua grande individual, a primeira na galeria
A Anita Schwartz Galeria vai inaugurar em 12 de setembro próximo a exposição Os olhos cheios de terra, uma grande individual do Rodrigo Braga, com trabalhos feitos especialmente para esta ocasião. A obra central, e que dá nome à exposição, é uma instalação que ocupará o grande salão térreo do edifício de três andares no Baixo Gávea, com desenhos, serigrafias, objetos, vídeo e fotografias. No segundo andar estarão fotografias resultantes de uma imersão do artista na galeria, em que realizou durante uma semana ações corporais, registradas também em vídeo.
O ponto de partida para este processo tem início nas pesquisas feitas por Rodrigo Braga a partir de 2014 sobre o solo e subsolo do nordeste brasileiro, no atual sertão que outrora foi mar. Em 2015, Rodrigo Braga esteve na França, onde visitou pedreiras de rochas calcárias datadas de aproximadamente 55 milhões de anos, utilizadas comumente em edificações nas cidades francesas ao longo da história. Como primeiro resultado dessa pesquisa, ele realizou, em 2016, no Palais de Tokyo, em Paris, a monumental instalação "Mar Interior", a céu aberto, composta por toneladas de pedras brutas e fósseis marinhos. De volta ao Brasil, fez viagens ao sertão do Cariri, sul do Ceará, visitando e trabalhando em pedreiras também com alta incidência de fósseis de animais e vegetais marinhos, assim como grandes jazidas de gipsita, uma espécie de “fossilização” de sal de antigas bacias marinhas, estimadas em cerca de 110 milhões de anos.
Mais recentemente, o artista tem se interessado por outras formas de registros ancestrais de vida no desenvolvimento do planeta, como o carvão mineral e a petrificação de vegetais – tanto aquáticos como florestas pré-históricas. Deslocados de seu uso, seja na geração de energia seja na construção de casas, os combustíveis fósseis e as rochas calcárias interessam ao artista por seu vasto campo simbólico.
Um elemento que Rodrigo Braga retoma, depois de longo tempo, é o corpo. A ação corporal está presente em toda a exposição. Desde os registros de sua performance solitária, até o uso de seu próprio sangue – extraído apropriadamente por um enfermeiro – em desenhos, o corpo é um dos elementos de ligação dos trabalhos.
A convite do compositor Ronaldo Bastos, Rodrigo Braga ouviu “Trastevere”, canção feita em parceria com Milton Nascimento, que integrou o álbum “Minas” (1975). A música, experimental, “aberta e desconstruída, como os experimentos de John Cage, se quebra e se interrompe”, destaca Rodrigo Braga. Ele conta que a composição tinha tudo a ver com seu trabalho atual, com a presença humana, corpórea, depois de muito tempo dedicado às paisagens e elementos naturais. “A letra fala dos sentidos – visão, audição – ou da falta deles. E, apesar de ter sido composta na década de 1970, é extremamente atual, também no âmbito político, em que o ser humano está fragmentado, perdendo as certezas, se evanescendo”.
INSTALAÇÃO “OS OLHOS CHEIOS DE TERRA”
A instalação que ocupará todo o grande espaço expositivo térreo da galeria abrangerá desenhos gestuais a carvão, giz e lápis/bastão sanguínea, e serigrafias sobre lona crua – que circundará as paredes do espaço –, três fotografias em grande formato, um vídeo, e uma série de elementos e núcleos compostos por minerais em bruto. Há uma predominância da oposição preto x branco, extremos opostos, presente tanto nos minerais – gipsita, gesso, cal (branco), carvão mineral e carvão vegetal (preto) – como na letra de “Transtevere”, impressa na lona crua em branco, com algumas palavras destacadas em preto: cego, calado, ouvindo, surdo, mudo, falava e ouvia. Em meio a essa oposição estará o vermelho, contido no sangue presente nos desenhos, e a figura humana, de maneira evidente ou não.
SOBRE RODRIGO BRAGA
Nascido em Manaus em 1976, Rodrigo Braga se mudou ainda criança para o Recife, onde se graduou em Artes Plásticas pela Universidade Federal de Pernambuco (2002). Atualmente vive no Rio de Janeiro. Expõe com regularidade desde 1999. Em 2012, participou da 30ª Bienal Internacional de São Paulo e, em 2016, realizou uma exposição individual no Palais de Tokyo, em Paris. Em 2009, recebeu o Prêmio Marcantonio Vilaça – Funarte/MinC; em 2010, o Prêmio Marc Ferrez de Fotografia; em 2012, o Prêmio Pipa/MAM Rio Voto Popular; em 2013, o Prêmio MASP Talento Emergente. Possui obras em acervos particulares e institucionais no Brasil e no exterior, como MAM SP, MAM Rio e Maison Européene de La Photographie, em Paris.