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agosto 19, 2018
Carolina Soares abre duas novas curadorias na Sem Título Arte, Fortaleza
Abertura: 30/08, às 18h, com a presença da curadora e dos artistas Marcelo Amorim, Anderson Morais, Henrique Viudez, Ingra Rabelo e Thomas Saunders
Corpos domesticados, normatizados, passivos, reprimidos. As duas exposições que abrem na Sem Título Arte, sob a curadoria de Carolina Soares, põem em questão a normatização dos corpos e da sexualidade. A primeira reúne trabalhos do artista e curador Marcelo Amorim. A segunda é uma coletiva de Anderson Morais, Henrique Viudez, Ingra Rabelo e Thomas Saunders.
Se eu fosse você não me trataria como você, individual de Marcelo Amorim, reúne trabalhos que problematizam formas de conduta masculinas normatizadas, o “status da masculinidade” como dado natural e um padrão evidente. É de modo sutil que o artista traz à discussão a repressão, a negociação, as contradições e as inconsistências presentes no universo da masculinidade. Como aponta Carolina Soares em seu texto curatorial, “o trabalho de Marcelo Amorim - com sua crítica tácita às construções em torno de um corpo masculino – autoriza-me pensá-lo como um valioso mecanismo de arte para reinventar a realidade. E mais, pensá-lo como um gesto que, em sua potência, se faz contrário a intolerâncias.”
Se eu gritasse desencadearia a existência é uma coletiva com trabalhos de Anderson Morais, Henrique Viudez, Ingra Rabelo, Thomas Saunders. Há na mostra um diálogo em que os padrões de conduta emergem como mola propulsora de um estado de repressão dos corpos. Corpos estes compreendidos socialmente como recipientes passivos de uma lei cultural inflexível. Cada artista, a seu modo, traz para o debate a possibilidade de pensar a representação do corpo não como um mero instrumento com o qual uma série de significados culturais é apenas externamente relacionada. Vão além. Buscam compreender principalmente as questões de gênero e sexualidade como base para uma identidade agora descolada de um ideal normativo e potencializada como característica descritiva de uma determinada experiência.
Vale ressaltar que, embora contrários a um sistema de gênero estável e binário, os trabalhos não investem esforços na ruptura utópica de um estado do corpo livre dos construtos heteronormativos. Eles reconhecem, porém, as noções de gênero e de sexualidade como mecanismos construídos culturalmente e, portanto, passíveis de reinvenções que permitam o reconhecimento do desejo como elemento fundamental no agir no mundo.
O que está em questão nesses trabalhos, primorosamente postos em relação sob a mediação de Carolina Soares, é uma ideia de sociedade para a qual o próprio existir requer normas. Nossos corpos parecem não serem nossos. Nossa forma de agir no mundo é então reduzida ao tabuleiro de um jogo com todos os movimentos previamente definidos, fugir ao regulamento é colocar-se fora do jogo. E como seria existir fora do tabuleiro? Ou, como existir para além das jogadas já mapeadas?
Programação paralela
No dia 22 de agosto, às 19 horas, Marcelo Amorim participa com Carolina Soares de uma conversa na Sem Título Arte. Os dois se conheceram em 2008 e de lá para cá mantém diálogos e trocas estreitas. Na Sem Título, o caminho é inverso. Primeiro a gente tem a chance de ouvi-los, conhecer a trajetória desse artista visual, curador independente e professor, nascido em Goiânia, no bate-papo “A Masculinidade Desmantelada”. Depois virá a abertura da exposição e o lançamento do catálogo que acompanha a individual de Marcelo Amorim.
Marcelo Amorim é artista visual, curador independente e professor. Entre 2009 e 2016 dirigiu o Ateliê397, espaço independente de arte, onde foi responsável pela concepção e realização de programas de exposições, publicações, debates e cursos voltados para o contexto da arte contemporânea. Pós-graduado em Mídias Interativas pelo Centro Universitário SENAC, é editor formado em Produção Editorial pela Universidade Anhembi Morumbi. Foi coordenador editorial do Paço das Artes, instituição da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, entre 2004 e 2008. É um dos orientadores do grupo de acompanhamento de processos artísticos Hermes Artes Visuais.
Entre as curadorias que realizou destacam-se: Contraprova (Paço das Artes, 2015), Lusco Fusco - Karlla Girotto (Ateliê397, 2015), Pintar a China Agora, - Brody & Paetau (Ateliê397, 2015), É fluido mas é legível (Oficina Oswald de Andrade, 2014); Vá em frente, volte pra casa! - Júnior Pimenta (Sem Título Arte, 2018). Em sua obra artística, Marcelo Amorim coleciona e apropria-se de imagens para a partir delas produzir principalmente desenho, pintura e vídeo. Retiradas de acervos particulares, manuais, livros didáticos, mídias sociais, as imagens tem procedências diversas e parecem ser de um passado distante. Através de montagens e transposições o artista liberta intenções, particularidades e gestos contidos nas imagens com o intuito de revelar seu papel de conformadoras de comportamentos e levantar questões sobre os valores culturais históricos e sua evolução ao longo do tempo. Realizou exposições individuais no Ateliê397, Centro Cultural Elefante, Centro Cultural São Paulo, Galeria Zipper, Galeria Jaqueline Martins, Galeria Oscar Cruz, Museu de Arte de Ribeirão Preto, Paço das Artes, além de ter participado de coletivas na Caixa Cultural, Instituto Figueiredo Ferraz, Memorial da América Latina, Paço das Artes e Sesc, entre outros.
SERVIÇO
22 de agosto, às 19h
“A Masculinidade Desmantelada”
Conversa com Marcelo Amorim e Carolina Soares
30 de agosto, às 18h
“Se eu fosse você não me trataria como você”
Individual de Marcelo Amorim
“Se eu gritasse desencadearia a existência”
Coletiva com trabalhos de Anderson Morais, Henrique Viudez, Ingra Rabelo, Thomas Saunders.
Sem Título Arte
Rua João Carvalho 66, Aldeota, Fortaleza, CE