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agosto 8, 2018
João Maria Gusmão & Pedro Paiva no Fortes D’Aloia & Gabriel | Galpão, São Paulo
A Fortes D’Aloia & Gabriel tem o prazer de apresentar duas exposições individuais simultâneas no Galpão (Barra Funda): Um cão com uma cauda notável do duo português João Maria Gusmão & Pedro Paiva e Espiritual-Vivente-Respira do artista brasileiro Rodrigo Cass. A abertura acontece em 11 de agosto das 14h às 17h e as exposições seguem em cartaz até 21 de dezembro.
Um cão com uma cauda notável, um truque de circo indescritível com seres microscópios do espaço, um arco-íris, um calçado muito desconfortável mas eterno, os últimos dias de uma pulga minúscula num mundo fictício, uma melancia bidimensional que se parece com a lua de lado, a fonte da juventude, um pôr-do-sol perpétuo seguido pelo cair da noite, um elefante de 20 centímetros, uma limonada que sabe a laranja, um comboio a vapor fantasma que segue para norte e para sul ao mesmo tempo, um planeta feito de queijo, neve a cair na Antártida enquanto toda a gente dorme, um dromedário bastante grande a tomar banho numa banheira consideravelmente pequena, um ecrã pousado durante muito tempo numa pedra arredondada, um quadro suprematista que Kazimir Malevich nunca terá conseguido fazer, etc e tal…
As obras João Maria Gusmão & Pedro Paiva examinam nossa relação com a realidade para subvertê-la com precisão analítica, sensibilidade e humor. Fazendo inúmeras referências à literatura e à filosofia, a dupla emprega uma abordagem científica que confere uma aura enigmática, quase mística, às coisas triviais. Cada trabalho de sua nova exposição em São Paulo – divididos entre um grupo de esculturas em bronze e uma grande instalação com micro-filmes – revelam pequenas ficções poético-filosóficas sobre as coisas do mundo.
A instalação é composta por seis projetores alterados com um elaborado sistema de filtros e mecanismos em sincronia. Trata-se de um novo passo dos experimentos visuais da dupla, situado entre a camera obscura e o proto-cinema. Nesses trabalhos, padrões simples e coloridos formam imagens cinéticas: uma torneira abrindo e fechando, a neve caindo, a silhueta de um camelo passando na frente das pirâmides. Episódios banais ganham uma carga de fantasia.
As esculturas traduzem o aspecto lúdico dos micro-filmes na superfície do bronze patinado – presente tanto na materialidade das peças quanto nas cenas em si. Flertando sempre com o absurdo, os artistas dão peso homogêneo a elementos díspares como filosofia, arquitetura, objetos ou animais. Todos estão sujeitos a mudanças semânticas através de associações inusitadas: uma forma ovoide sobre um plano é um Dromedário debaixo de água, enquanto um relevo quadrado com formas circulares é Canto de queijo, por exemplo. Por vezes surrealistas e quase sempre jocosas, essas narrativas estapafúrdias de Gusmão & Paiva oferecem um olhar fascinante para as coisas que nos cercam.
João Maria Gusmão (Lisboa, 1979) e Pedro Paiva (Lisboa, 1977) colaboram desde 2001 criando filmes, esculturas, fotografias, instalações e publicações. Suas individuais recentes incluem: Lua Cão (com Alexandre Estrela), Kunstverein München (Munique, 2018); The Sleeping Eskimo, Aargauer Kunsthaus (Aarau, Suíça, 2016); Papagaio, mostra itinerante que passou por Hangar Bicocca (Milão, 2014), Camden Arts Center (Londres, 2015) e KW Institute for Contemporary Art (Berlim, 2015); The Missing Hippopotamus, Kölnischer Kunstverein (Colônia, 2015). Dentre as coletivas, destacam-se as participações nas Bienais de Veneza (2013, 2009), de Gwangju (Coreia do Sul, 2010) e de São Paulo (2006).