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agosto 3, 2018

O Outro Trans-Atlântico no Sesc Pinheiros, São Paulo

Proveniente do Museu de Arte Moderna de Varsóvia, a mostra joga luz sobre a produção das duas correntes artísticas para além do Atlântico Norte

A revisão, como exercício permanente para expansão de narrativas que constroem a história da arte, fundamenta a pesquisa desta exposição que o Sesc traz a São Paulo. O Outro Trans-Atlântico: Arte Ótica e Cinética no Leste Europeu e na América Latina entre os anos 50 e 70 reúne cerca de 100 obras, de mais de 30 artistas e coletivos do período do pós-guerra, oriundos do Leste Europeu e América Latina, que compartilharam o mesmo entusiasmo por Arte Cinética e Op Art.

Idealizada pelo Museu de Arte Moderna de Varsóvia (Polônia) e realizada pelo Sesc em São Paulo, com parceria do Instituto Adam Mickiewicz e da Casa Sanguszko, a exposição tem curadoria da polonesa Marta Dziewańska, pesquisadora e curadora do Museu de Arte Moderna de Varsóvia, em conjunto com Dieter Roelstraete e Abigail Winograd.

A exposição foi organizada pelo museu polonês em 2017 e, em 2018, esteve em cartaz no Garage Museum of Contemporary, em Moscou (Rússia). Agora, O Outro Trans-Atlântico traz ao público brasileiro obras originalmente exibidas em Varsóvia e Moscou, acrescida de trabalhos latino-americanos, em especial de brasileiros. O conjunto é apresentado, segundo a curadora, em uma narrativa que reflete fatos comuns entre seus interesses e intuição criativa.

Boa parte dos registros de História da Arte entre os anos 1950 e 1970 refletem a produção desenvolvida nos principais centros do Atlântico Norte, em cidades como Nova York, Paris e Londres. “Coloca-se, então, a necessidade de olharmos para outras porções do globo – inclusive para a nossa”, afirma Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc São Paulo.

Miranda complementa: “Para a ação sociocultural do Sesc São Paulo, esta é uma oportunidade ímpar de contribuir para o adensamento da compreensão da arte brasileira em suas linhas de intercâmbio relativas ao Sul global, vista aqui em perspectiva e em intersecção com seus pares óticos e cinéticos do oriente europeu.

É a isso que se dedica a exposição O Outro Trans-Atlântico”.

“Enquanto o Expressionismo abstrato, a Arte Informal e a Abstração lírica reinavam supremos nos centros de arte estabelecidos de Paris, Londres e Nova York, um capítulo distinto da história da arte estava sendo escrito, ligando os polos de Varsóvia, Budapeste, Zagreb, Bucareste e Moscou com Buenos Aires, Caracas, Rio de Janeiro e São Paulo”, destacam Marta Dziewańska, Dieter Roelstraete e Abigail Winograd.

Segundo Dziewańska, o florescimento da Arte Cinética e da Op Art nessas regiões foi, em grande parte, uma manifestação de fascínio pelo movimento, seus efeitos estéticos e as oportunidades dinâmicas que gerou, criando novas possibilidades para o engajamento do público. “Através de um foco em arte que ultrapassou objetos estáticos e definições claras do papel do artista, o caráter de uma obra de arte e o papel do espectador, a exposição tenta reescrever um capítulo marginalizado da história da arte após a Segunda Guerra Mundial através da uma perspectiva geopolítica diferente”, completa.

Entre os artistas brasileiros estão Helio Oiticica, Abraham Palatnik, Sergio Camargo, Almir Marvignier; Ivan Serpa; Lothar Charoux, Lygia Clark, Sérvulo Esmeraldo, Martha Boto, Mira Schendel e Ubi Bava. Já entre outros latino-americanos estão Julio Le Parc, Carlos Cruz-Diez; Jesus Rafael Soto e Gyula Košice. Por sua vez, no rol dos europeus destacam-se Dvizhenie Group; Wojciech Fangor; Grzegorz Kowalski; Myra Landau; Vjenceslav Richter; Henryk Stażewski;; Jerzy Jarnuszkiewicz; Julije Knifer; Nicolas Schoffer; Vera Molnár; e Victor Vasarely.

Sobre a curadoria

Marta Dziewańska é curadora de pesquisa no Museum of Modern Art in Warsaw e candidata à PhD em Filosofia pela Academia Polonesa de Ciências de Varsóvia. Foi curadora e cocuradora de diversas exposições: Andrzej Wróblewski: Recto/Verso (com Eric de Chassey, no MoMA Warsaw e no Museo Reina Sofia em Madri, 2015/2016), Maria Bartuszova. Provisional Forms (MoMA Warsaw, 2015); Alina Szapocznikow: Sculpture Undone (com Elena Filipovic e Joanna Mytkowska, WIELS Contemporary Art Centre em Bruxelas, 2011; Hammer Museum LA, 2012; Wexner Centre Ohio, 2012; MoMA NY, 2012/2013); Ion Grigorescu in the Body of the Victim. 19692008 (com Kathrin Rhomberg, MoMA Warsaw, 2009); entre outros. Foi editora de Maria Bartuszova: Provisional Forms (2015), Ion Grigorescu. In the Body of the Victim (2010), coeditora, com Eric de Chassey, de Andrzej Wróblewski. Recto/Verso (2015), com Ekaterina Degot e Ilya Budraitskis, de PostPost Soviet? Art, Politics & Society in Russia at the Turn of the Decade (2013) e, com Claire Bishop, de 19681989. Political Upheaval and Artistic Change (2009). Suas publicações apareceram em inúmeros catálogos, assim como revistas de arte.

Abigail Winograd é atualmente uma curadora associada no Frans Hals Museum em Haarlem. Tem PhD em história da arte pela Universidade do Texas em Austin. Abigail foi pesquisadora associada do Museum of Contemporary Art Chicago onde também é curadora associada de Marjorie Susman. Também foi curadora associada no Hirshhorn Museum and Sculpture Garden em Washington, D.C. e Blanton Museum of Art em Austin. Abigail possui outras graduações pela Universidade de Wisconsin-Madison e pela Universidade Northwestern. É a beneficiária de diversas associações, contribuiu em diversos catálogos museológicos, publicou diversos artigos acadêmicos, apresentou ensaios nos Estados Unidos, na Europa e na América do Sul e contribuiu com publicações como Bomb, Frieze, e Art Forum.

Dieter Roelstraete é curador da Neubauer Collegium Gallery, na Universidade de Chicago, onde também é professor. Trabalhou anteriormente na equipe curatorial do documenta 14, organizado em Kassel, na Alemanha, e em Atenas, na Grécia, em 2017. De 2012 à 2015, trabalhou como curador sênior do Museum of Contemporary Art Chicago, no qual, durante seu período de trabalho, organizou e coorganizou as exposições The Way of the Shovel: Art as Archaeology (2015); The Freedom Principle: Experiments in Art and Music 1965 to Now (2015); and Kerry James Marshall: Mastry (2016). De 2003 à 2011, Roelstraete foi curador do Museum van Hedendaagse Kunst Antwerpen, onde organizou exposições de Chantal Akerman, Liam Gillick and Lawrence Weiner e, em 2011, uma mostra de arte contemporânea do Rio de Janeiro. Seus recentes projetos curatoriais incluem exposições na Fondazione Prada em Milão e Veneza, no Museum of Modern Art in Warsaw e no the Garage Museum for Contemporary Art in Moscow. Roelstraete, que se formou como filósofo na Universidade de Gante, publicou extensivamente artigos sobre arte contemporânea e questões filosóficas em inúmeros catálogos e jornais.

Posted by Patricia Canetti at 10:25 AM