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agosto 2, 2018
Paulo Bruscky na Caixa Cultural, Brasília
PaLarva é mais que palavras. É o embrião da palavra.
Como um cilindro de poemas sem matrizes e
com o voo das larvas formando uma nova semântica.
“Seja única ou com a composição, a palavra sempre teve e terá uma importância muito grande em minha obra”, diz o artista pernambucano no texto que abre o catálogo desta que é sua primeira exposição individual na capital federal. Nada menos que cinco décadas de sua produção estarão representadas por mais de duzentas de suas mais importantes e emblemáticas obras, além de algumas inéditas, produzidas para esta mostra: PaLarva – Poesia Visual e Sonora de Paulo Bruscky.
O artista, que integrou o pavilhão internacional da última Bienal de Veneza (2017) e que é autor de obras pertencentes a acervos como o do MAM (SP) e MAC (USP), Centre Pompidou (França), Tate Modern (Inglaterra) e MoMA (EUA) estará em Brasília na noite de abertura (7 de agosto). Ele também brindará o público da CAIXA Cultural Brasília com três performances: a já consagrada Poesia Viva e duas inéditas, preparadas especialmente para a ocasião.
O curador da exposição, Yuri Bruscky, dividiu a mostra em vários núcleos que abordam as diversas linhas de experimentação poética do artista em: poemas visuais, poemas sonoros, filmes de artista, registros videográficos de performances e exposições, objetos poéticos, livros de artista, arte classificada, obras conceituais, projetos, documentos e fotos históricas.
O público é convidado à uma imersão no universo poético de Bruscky. "A proposta é criar um ambiente visualmente poético e criativo, convidando o visitante a fazer um passeio intelectual e afetivo que possibilite o entendimento da vida, obra e processo criativo de Paulo Bruscky", explica Germana Pereira, da Tangram Cultural, responsável pela produção executiva e coordenação geral do projeto.
Paulo Bruscky e seu filho Yuri realizaram diversas pesquisas e levantamentos no acervo particular do artista, de onde geraram “PaLarva”. Ainda em família, sua filha Raíza é a responsável pela concepção da identidade visual, do projeto expográfico e da coordenação do acervo da mostra. A coordenação de produção é de Ludmila Portela.
Paulo Bruscky, um artista além do tempo e do espaço
Desde o final da década de 1960, o artista multimídia Paulo Bruscky (Recife-PE, 1949) desenvolve uma obra ligada aos movimentos de vanguarda tanto no Brasil como no exterior. É considerado hoje um dos maiores artistas conceituais da arte brasileira, reconhecido internacionalmente pela sua ampla produção intermídia que abrange trabalhos com xerox, arte correio, poesia visual e sonora, colagem, artdoor e fotografia. Criou ainda inúmeras performances, intervenções urbanas, instalações, xerofilmes e livros de artista.
A arte de Bruscky deixa clara sua intenção de comunicar, criar redes e estabelecer vínculos. Em tempos em que a internet não existia, quando a ditadura proibia tudo que parecia moderno, livre e profundo, o pernambucano conseguiu traçar uma carreira profícua, ligada em rede a artistas de diversos países.
Aos 69 anos, conserva o frescor de sua criação, em peças com teor político que nunca conseguiram ser caladas. Bruscky parece enxergar possibilidades em todo e qualquer equipamento, seja um eletrodoméstico, como um liquidificador, uma máquina de xerox e até a própria língua, que transforma em carimbo, como no "Poema Linguístico". Para ele, as fronteiras espaciais e materiais são ultrapassadas. Sua arte pode ser colaborativa, inusitada, atordoante, ao mesmo tempo em que está em permanente comunicação com o mundo.
Além de militante, experimentalista e expoente da Poesia Visual há mais de cinquenta anos, Bruscky é um pesquisador e colecionador contumaz e dono do maior acervo particular de arte contemporânea/multimeios da América Latina, com cerca de 70 mil itens, incluindo trabalhos dos grupos Fluxus, Gutai e Cobra. A mostra tem entrada gratuita e a visitação acontece de terça a domingo, de 9 às 21 horas.